Por Rita Cirne*

**Professor da Universidade de Turim, na Itália, Bozzano se transformou num grande pesquisador, organizador e comentarista dos fenômenos psíquicos do seu tempo**

Conhecer a obra e a vida de Ernesto Bozzano – um dos autores clássicos do espiritismo – é entrar em contato com um pesquisador que pôs em prática uma das máximas de Allan Kardec: “fé inabalável é a que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade”. Foi essa fé, baseada na razão, que tornou Bozzano um autor indispensável para quem quer conhecer a fundo a doutrina espírita.

Ele nasceu em Gênova, na Itália, em 9 de janeiro de 1862, foi professor da Universidade de Turim e, antes de se voltar ao espiritismo, foi materialista e seguidor do positivismo, corrente filosófica que aposta nas ciências como promotoras do desenvolvimento social. Ele reconheceu que tinha essa visão do mundo ao declarar: “Fui um positivista-materialista a tal ponto convencido, que me parecia impossível pudessem existir pessoas cultas, dotadas normalmente de sentido comum, que pudessem crer na existência e sobrevivência da alma.”

Mudanças em suas convicções

No entanto, essa convicção foi mudando ao longo de sua vida. E, com seu espírito científico, transformou-se num grande pesquisador, organizador e comentarista dos fenômenos psíquicos do seu tempo. Aos 29 anos, se interessou por experiências telepáticas de transmissão do pensamento, o que o levou a estudar a obra Animismo e espiritismo, do diplomata e pesquisador russo Alexandre Aksakof. Esse livro abalou suas crenças positivistas, o que o levou a dizer em sua autobiografia que, a partir daí, começou para ele uma época de perturbação moral, “embora o novo caminho se orientasse no sentido de uma fé científica mais consoladora”.

Seu interesse pelo tema o fez entrar em contato com as obras de Allan Kardec, Léon Denis, Gabriel Delanne e William Crookes. Catalogou cada obra que leu e anotou os respectivos assuntos por ordem alfabética, para que fossem classificados e analisados de forma comparativa. A partir desse estudo, organizou um grupo com mais de 70 integrantes, chamado de Círculo Científico de Minerva, dedicado à verificação experimental de mediunidade. Esse grupo, que contou com a participação de professores da Universidade de Gênova, realizou sessões com manifestações mediúnicas: psicofonia, psicografia, mediunidade poliglota, levitação. Essas experiências resultaram em dezenas de escritos divulgados na imprensa italiana e também relatadas no livro de Bozzano Ipotesi spiritíca e teorie scientifiche. (Hipóteses espirituais e teorias científicas).

Um testemunho pessoal

Além das pesquisas, um fato de sua vida pessoal acabou reforçando a sua crença no espiritismo: a desencarnação de sua mãe, em julho de 1912. Na época, Bozzano realizava sessões semanais com um reduzido grupo de pessoas. Na data em que se dava o primeiro ano da desencarnação de sua mãe, uma médium escreveu num papel algumas frases. Bozzano constatou que ali estavam escritos os dois últimos versos do epitáfio que naquele mesmo dia ele havia deixado no túmulo da sua mãe. Ele também recebeu uma psicografia dela, o que o fez aproximar-se ainda mais nas pesquisas.

Dentre as mais de 35 obras que escreveu, destacam-se A crise da morte, A hipótese espírita e as teorias científicas, Animismo ou espiritismo, Comunicações mediúnicas entre vivos, Pensamento e vontade, Fenômeno de transfiguração, Metapsíquica humana, Os enigmas da psicometria e Fenômenos de talestesia. São obras que tratam de temas caros a quem busca o conhecimento do mundo espiritual, como é o caso de A crise da morte, em que Bozzano traz mensagens de espíritos que relatam como entraram no meio espiritual após o desencarne e como viveram ali durante os primeiros tempos após a desencarnação.

A dedicação de Bozzano às pesquisas sobre os fenômenos espíritas foi reconhecida e, em 1934, foi o presidente de honra do Congresso Espírita Internacional, realizado em Barcelona. Também foi chamado de o Grande Mestre da Ciência da Alma.

Bozzano desencarnou em 24 de junho de 1943 aos 81 anos, em Gênova. Seu amigo médico e pesquisador Gastoni de Boni herdou toda a sua biblioteca e criou em 1995 uma sociedade, a Fondazione Biblioteca Bozzano De Boni, onde é possível acessar pelo site a bibliografia de Bozzano e Boni e publicações atuais da Fundação.

Bibliografia

Personagens do espiritismo. Antônio de Souza Lucena e Paulo Alves Godoy, FEESP.
Distrital Ibirapuera, live Estudando os sucessores de Kardec, 2021: youtube.com/watch?v=mx5DlLaxtnw.
Site da Federação Espírita Brasileira: febnet.org.br.

*Jornalista, colaboradora do Grupo Espírita Batuíra, em São Paulo, e do jornal Valor Econômico.

Ernesto Bozzano: o grande mestre da ciência da alma