Um caso trágico
Por Lauro Carvalho de Freitas*
Aconteceu em Cristalina, GO, cidade famosa pela produção de pedras semipreciosas, exatamente no dia 16 de maio de 1951. Testemunha participante do ocorrido foi o sr. Fritz Mohn, um rapazinho de vinte e poucos anos.
Estava em pleno alvoroço a ‘febre do cristal’, com centenas de ‘catas’, locais de exploração manual do cobiçado minério. Na cata onde ele trabalhava havia dez homens. Cavando cada vez mais, sem os cuidados recomendados, separando aqui e ali as pedras que iam encontrando. De repente, desmorona o imenso aluvião de terra e cascalho, e os soterra a todos. O único que ficou de fora foi Fritz Mohn, que tinha ido pegar uma ferramenta. O desastre ocorreu quando ele já estava chegando de volta, tendo assistido a tudo e ficado enterrado até os joelhos.
Mal recuperado do susto, saiu correndo pedir socorro. Veio uma porção de gente, que cavou depressa e conseguiu salvar quatro.
Faziam parte do tocante episódio os irmãos Domiciano e Joaquim Ribeiro, tios de Fritz. Joaquim ficou numa posição em que sobrou pequeno espaço livre, mal sustentado por torrões e raízes. A sua aflição era indescritível, naquele escurão e sufoco, como que sepultado vivo. Durante alguns segundos, ficou sem poder se mexer, aturdido, suando a cântaros. Ouvia a respiração ofegante do irmão Domiciano, caído bem junto a si. Notou, consternado que a respiração do irmão variava entre desesperos e diminuição. Logo foi parando, parando, até cessar... Percebeu que ele havia morrido.
Católico fervoroso, Joaquim elevou sentida prece, rogando que o Senhor lhe desse mais algum tempo de vida, que o livrasse daquela morte horrível. Naquele momento, sentiu alguém junto de si e uma voz amiga lhe dizia ao ouvido:
– Respire devagarinho, devagarinho, o mais lentamente que puder, e aguarde quieto. Assim ele fez, contendo a custo a ânsia de tomar um longo fôlego, e esperou minutos que lhe pareceram séculos. Daí a pouco começou a ouvir sons surdos, como de ferramentas na terra. Ele diz que só quem passou por situação semelhante pode avaliar a extensão da ânsia de que se vê possuída a pessoa, um misto de alegria, esperança e uma terrível preocupação de que os possíveis socorredores desistissem de cavar naquele lugar e partissem para outro.
Os ruídos foram aumentando, tornando-se mais próximos, até que a primeira réstia de luz do sol surgiu e, com ela, uma lufada de ar fresco. Tentou tomar o ansiado fôlego profundo, quando percebeu que a parte do tronco presa não lhe permitia o movimento suficiente da caixa torácica. Teve uma crise de sufocamento, mas, já visto pelos companheiros, o salvamento foi completado.
Joaquim comenta que, se todo mundo compreendesse o valor da vida, se todos meditassem no valor das coisas simples, como o chão firme que se pisa, o ar que se respira... certamente haveria mais respeito e acatamento aos dons divinos da vida. Se todos, finalmente, conhecessem o poder da fé e o utilizassem, tantos males e desastres seriam evitados!
Desde então, sempre que se vê em situação difícil, recobra o ânimo, volta o pensamento para Deus e pensa:
– Isso não é nada. Duro foi quando me vi tão próximo da morte, naquele fatídico dia de 1951 em que, infelizmente, perdi meu irmão e mais quatro companheiros de uma só vez!
*Lauro Freitas de Carvalho desencarnou no dia 6 de dezembro de 2019, em Goiânia, GO, aos 83 anos, deixando sua grande contribuição ao movimento espírita no Brasil. Fundou em Brasília, em 1960, o Sanatório Espírita de Brasília e a Livraria Espírita Brasil Central, que se tornaram referências na distribuição dos livros espíritas pelo Brasil, no tratamento de problemas mentais conjunto com a obsessão e também na formação de muitos trabalhadores espíritas.