Obsessão e depressão caminham juntas
Por Giovanni Bernini
Quando eu tinha nove anos, passei por uma experiência traumática. Fui submetido a uma cirurgia das amígdalas. Lembro-me sentado numa cadeira, com os pulsos atados, como se fosse um condenado. Comecei a inalar aos poucos o éter. Senti muito medo do que viria pela frente.
Mas, será que fiquei amarrado mesmo, ou foram fantasias em torno do meu medo? Mas de uma coisa eu tenho certeza: Quando acordei, tive uma sensação muito estranha, um enorme mal-estar.
Queria explicar para os meus pais o que estava sentindo, também sobre os pesadelos que tivera, mas não encontrava palavras.
Algum tempo depois, quando estava sozinho, voltava aquela mesma sensação, a que eu comecei a chamar de "ausência", ou, simplesmente, "a coisa". Com o tempo, comecei a ficar retraído, fugindo das pessoas.
Na adolescência, continuei retraído, achando que todos descobririam que eu não estava bem. Será que era orgulho?
Depois de muito tempo, descobri que não era só depressão, mas um quadro de obsessão. Hoje sei que a cirurgia foi apenas a gota d'água de uma crise que iria acontecer, mais cedo ou mais tarde. A obsessão estava subjacente.
Obsessão e depressão caminharam juntas. Hoje, com cinquenta e dois anos, estou casado, com uma filha, amigos.
O que faço para me manter bem, longe da depressão e mesmo da obsessão? Leio bastante, estudo, assisto a bons filmes, escrevo, ouço boa música. Enfim, me ligo no mundo. Porque não podemos ficar o tempo todo rememorando experiências menos felizes ou situações que nos afligem. Não podemos permanecer numa atitude imatura e comodista de transferir para os outros ou as circunstâncias a responsabilidade pelo que está em nós. Temos que detectar a causa profunda e não ficar na superfície dos sentimentos.
A verdade é que o perdão, a compaixão, a compreensão são sentimentos que nos proporcionam um imenso benefício. São atitudes básicas, palavras-chave.Também não posso me esquecer de agradecer sempre a Deus por tantos valores e bênçãos que possuo.
É preciso enfrentar de cabeça erguida os problemas, fazer trabalhos voluntários, pertencer a alguma comunidade, buscar concentração, autoconfiar. Entender que os outros não são obrigados a corresponder às nossas expectativas. Preciso respeitar os outros. Todo mundo tem limitações, tenho também as minhas.
Frustração, mágoa, depressão, orgulho. Tudo isso acaba com a gente! Preciso me lembrar sempre das coisas boas que absorvi: tratar todo mundo igual, ser responsável, cumprir a palavra dada, seguir em frente com galhardia, saber perdoar, entender que há males que vêm para o bem.
Ajuda bastante a conscientização de que somos pessoas falíveis, ainda inexperientes e inseguras... Espíritos a caminho da evolução. É preciso nos dar sempre novas oportunidades.
A psicologia e as psicoterapias me auxiliaram bastante, assim como o Neuróticos Anônimos. Mas algo me ajudou e continua me ajudando muito. Ele é fundamental e chama-se ESPIRITISMO.
(Publicado no jornal Correio Fraterno - Edição 471 outubro/novembro 2016)