Minha mão atravessou o chão

Por Paulo Henrique Figueiredo

Meus avós e meus pais eram espíritas e médiuns. Sempre gostei muito de ler e me lembro que um dia, ainda bem moleque, eu estava na cama e abri um livro. Minha mãe me chamou, virei e me apoiei no chão para levantar.

Foi quando minhas mãos passaram pelo piso e eu fiquei flutuando. Surpreso, tentei chamar por meus pais, mas o som não saía. Era como se eu tivesse falando num lugar sem ar. Tomei um susto muito grande e, depois, consegui me levantar.

Corri até a cozinha e fui falando: “Mãe, mãe, mãe...”. E contei apavorado o que havia ocorrido. E ela respondeu-me calmamente: “Ah, você só saiu do corpo. O seu pai também sai, eu, seu irmão, todo mundo aqui sai do corpo...”. Então não havia novidade. E fui criado naturalmente nesse ambiente. Em casa aconteciam coisas ‘estranhas’. Às vezes os objetos sumiam e apareciam...

Um dia, também, jantávamos na casa da minha avó. Tinha um bufê na sala, daqueles antigos. Enquanto a gente estava conversando à mesa, o vaso começou a andar. Todo mundo parou, viu o vaso se movimentando. Quando ele parou, voltamos a conversar e continuamos a comer.

Outra vez, entrei na casa da minha avó e vi um senhor negro sentado na sala. Tomei um susto, corri para avisar e minha avó disse: “Ah é? Deve ser o preto-velho que se comunica no centro.” Nada era surpresa.

Quando você convive naturalmente com esses fenômenos, a mediunidade torna-se parte da vida, do seu cotidiano, e sem mistérios.

(Publicado no Jornal Correio Fraterno em 2014, edição 455)

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