O colar de brilhantes

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Por Jorge Rizzini

A sra. Olga, muito conhecida do público feminino paulistano pelo fato de haver sido proprietária da tradicional Loja Elite, situada na Galeria 24 de Maio, tornara-se viúva. O sr. Roberto morrera devido a um câncer.
Ela estava inconsolável quando a conheci. Ajudei-a a tornar-se espírita, mas a ideia de que poderia ter provas de que o esposo continuava vivo deixava-a cheia de ansiedade.

— Só quero uma prova. Será que Deus não permite?

E seus olhos se enchiam de lágrimas.

Certa noite, após a psicografia com os poetas, fui dormir. E lembrei-me da sra. Olga. De súbito, Manuel de Abreu surgiu, acompanhado do sr. Roberto, o qual me fez logo o pedido:

— Diga para a Olga falar do colar de brilhantes dado por mim.

E nenhum detalhe o espírito acrescentou.

Encontrei a sra. Olga na quinta-feira seguinte na Sociedade Espírita Manuel de Abreu (que funcionava em uma casa assobradada na rua Frei Caneca) e transmiti-lhe o recado do marido. Seu rosto, muito branco, tornou-se rosado e os olhos se arregalaram.

— É ele! – exclamou.

E a sra. Olga contou, então, o que acontecera:

— Na véspera de meu aniversário o Roberto perguntou-me qual presente que eu gostaria de ganhar. Respondi: um colar de brilhantes! Ele retrucou que eu já tinha muitas joias, mas insisti e ganhei um colar lindíssimo. Passei a usá-lo. Numa tarde, porém, encontrei um amigo relojoeiro e mostrei-lhe o colar, elogiando-o. E fiquei perplexa; o joalheiro garantiu-me que era falso. E era mesmo! Procurei o Roberto e ele, sorrindo, disse: “Continue usando esse colar, minha querida, pois, junto com as joias verdadeiras, ninguém desconfiará que é falso...


(Do acervo do jornal Correio Fraterno, edição de outubro de 1980)

A desconfiança de Monteiro Lobato  

Em determinada sessão espírita, Coelho Neto [escritor, político, membro da Academia de Letras] comunicou-se. Monteiro Lobato gritou: “Se você é o Neto, vá dando logo o endereço em que você morava no Rio”. A mesa, através de batidas, compôs: “Rua do Rozo”. Lobato acrescenta: “Neto, vou verificar isso”. Após a reunião ele telefonou para Edgar Cavalheiro [escritor e crítico literário] indagando-o, sem nenhum preâmbulo, sobre o endereço do colega desaparecido. A seguir, Lobato põe o fone no gancho e comenta: Não é que era o Neto mesmo? Poderíamos ter conversado um pouco mais. 

Fonte: Monteiro Lobato e a parapsicologia. (Correio de novembro de 1980).