Meu último encontro com a vovó
Por Cristina Abel
Desde pequena eu era diferente; tinha amigos imaginários, falava sozinha, via luzes piscando no escuro e vultos em paredes brancas. Mas nunca ninguém achou que isso fosse relacionado à mediunidade. Com o passar do tempo, e conforme minha família e eu conhecemos a doutrina espírita, começamos a entender que talvez eu tivesse uma mediunidade mais aflorada.
Ainda na adolescência, dei início a estudos de desenvolvimento mediúnico para que eu conseguisse me controlar e me dominar em certas situações. Mas foi com o desencarne de minha avó materna que ganhei o maior presente. No dia em que ela nos deixou para partir para outra dimensão, toda a família e amigos a visitaram ou telefonaram para saber de seu estado de saúde, pois ela se recuperava de uma cirurgia para a colocação de um marca-passo.
Ela estava muito bem e feliz. Minha mãe, que passou aquela última semana inteira dedicando-lhe cuidados e atenção em sua casa, disse que aqueles dias foram abençoados e que a paz reinava naquele lar.
Como minha avó morava em outra cidade, meu pai e eu ficamos em casa, por causa do trabalho. Mas naquela sexta-feira, meu pai ligou para minha mãe e quem atendeu foi minha avó. Eles conversaram rapidamente e quando o telefone foi passado para mim já era minha mãe quem estava do outro lado da linha. Conversamos normalmente, mas eu não tive a chance de falar com minha avó. E não teria mais essa oportunidade, pois ela faleceria naquela noite.
Após o enterro comecei a me sentir culpada por ter sido a única da família a não dar o meu adeus em vida. Mas Deus me reservava uma dádiva maior. Alguns dias depois, tive um lindo encontro com minha avó em sonho.
Sonhei que havíamos voltado para a casa dela para uma reunião familiar. Minha mãe pediu que eu fosse ao quarto de minha avó buscar um documento. Para minha surpresa, encontrei minha avó vasculhando o próprio armário em busca de alguns papéis. Ao vê-la me assustei e falei que era impossível ela estar ali, pois já havia desencarnado.
Ela então se virou e disse que só havia voltado para buscar algumas coisas, mas que precisava ir embora, que havia alguém a esperando para levá-la. Eu, desesperada, gritava para a família que ela estava ali, entre nós, mas ninguém podia vê-la. Eu a seguia pela casa e conversávamos enquanto isso.
Até que ela abriu a porta da frente, e eu pude perceber que havia uma luz diferente no céu, mais brilhante. Minha avó me abraçou, pediu que eu dissesse algumas coisas aos meus tios e se despediu de mim. Abriu o portão e saiu caminhando pela rua em direção a um grande portal de luz. Ao vê-la se aproximar do portal, vi também outra senhora de cabelos brancos e curtos, parada ao lado do feixe de luz, como a receber minha avó e guiá-la na nova empreitada que começaria no outro plano.
Foi a despedida mais bonita e emocionante que poderia ter com minha querida avó. Acordei imediatamente em prantos, por entender que ela veio ao meu encontro para que eu tivesse a chance de vê-la mais uma vez e me despedir.
(Artigo publicado no Jornal Correio Fraterno 2013, ed. 453)