Flores antigas fora do vaso
Por Izabel Vitusso
Naquela manhã eu havia me programado para entrevistar os candidatos para a vaga que havia sido aberta em nossa empresa.
A terceira candidata adentrou a sala. Sorriso largo, esbanjando simpatia. A conversa seguiu leve, principalmente para uma situação como essa, em que as atenções de ambas as partes estão muito presentes. Importantes decisões são tomadas nesse momento: aceitar ou não o que se revela como oportunidade para os dois lados envolvidos.
Entrando no terreno mais emocional da conversa, sobre os anseios profissionais, perguntei a ela o que a motivava a retornar ao mercado de trabalho, depois de mais de trinta anos se dedicando no lar, envolvida mais com filhos e marido.
Percebi um brilho no olho, um engasgo e a emoção trouxe-me um novo panorama. Vi um apelo silencioso, um pedido de oportunidade para que ela pudesse resgatar a sua autoestima, redescobrir o seu potencial e ter novamente em suas mãos sua autonomia.
O casamento havia acabado a cerca de um ano e no lugar do amor, a mágoa em seu coração.
Senti desejo de consolá-la em sua dor, mas o que falar num momento ainda tão doído!
Foi quando senti no ar, na sala fechada, um cheiro forte de flores envelhecidas em vaso.
Ainda perguntei se ela também assim sentia.
— Não!
Mas a clara mensagem brotou em mim instantaneamente, em forma de um convite que eu na hora externei:
— Marli, para colher as flores novas é preciso retirar as antigas do vaso. Esqueça a mágoa, entregue-se para essa oportunidade e venha trabalhar conosco.
Ao contar essa história, lembro-me de Jesus, que dizia: “Ninguém coloca remendo novo em roupa velha”.
Era preciso deixar o que não servia mais para trás e recomeçar.