A forma inusitada para um convite
Por Ingrid Dornemann*
Sou do Sul, mas moro em Natal, RN, desde 1991 e, como bancária, me aposentei em 2015, mas desejava muito continuar fazendo alguma coisa de bom. Também pesava sobre ouvir as pessoas me lembrando de que eu era muito nova para estar aposentada e que ainda tinha muita vida pela frente.
No ano seguinte, fui visitar minha família em Porto Alegre, RS, que mora num bairro chamado Tristeza.
Ao passear pela cidade, comecei a ver propaganda nos ônibus com a chamada: “Vamos mudar o nome da tristeza”, citando data, hora e o local – uma praça do bairro em que eu estava hospedada.
Cheguei em casa e comentei com meu pai e meu tio sobre o que entendi como uma convocação, dizendo a eles que fossem participar, como moradores da cidade, da mudança do nome do bairro, que não ficassem apenas reclamando, achando que se tratava de alguma ação apenas por interesse político.
Ao chegar o jornal do dia seguinte, qual não foi a minha surpresa quando vi um encarte de quatro páginas falando sobre o que era e o que realizava o CVV – Centro de Valorização da Vida, que estava fazendo a divulgação do trabalho que desenvolvem na região.
Naquele momento foi que eu entendi que a ‘tristeza’ que queriam mudar não era o nome do bairro, e sim o sentimento tristeza, essa emoção que, quando não passa, acaba levando tantas pessoas a buscar ajuda.
Eu não conhecia o CVV, mas ali estava bem explicadinho: tratava-se de acolhimento a pessoas em sofrimento através de conversa por telefone.
Entendi que aquele era uma chamado para mim, uma resposta ao meu anseio de encontrar alguma coisa para fazer de bom.
Não esperei para enviar um e-mail para o CVV de Natal, para onde em poucos dias eu retornaria. Em poucos meses, recebi uma ligação avisando que o treinamento para a seleção de voluntários iniciaria no dia seguinte.
Confesso que participei do treinamento achando que eu não teria perfil para o trabalho, simplesmente porque eu adoro falar, e tudo o que mais se preza no CVV é o saber ouvir.
Mas deu tudo certo. Tanto que já são mais de oito anos como voluntária no trabalho de acolhimento, de escuta a quem liga, mas principalmente de um grande aprendizado, ouvindo as dores dos outros e entendendo melhor a cada dia o significado do preceito número um do CVV: “O outro em primeiro lugar.”
* Ingrid Dornemann participa do Centro Espírita Torre de Luz, em Parnamirim, RN, único centro espírita dentro de uma base aérea nacional.