A despedida de Herminio Miranda

Por Alexandre Rocha

Sonhei que fui procurado por umas senhoras de uma instituição espírita que fazia o trabalho de costura para crianças recém-nascidas.  Elas foram me procurar, porque queriam agradecer ao Herminio, pois o trabalho que realizavam era feito a partir dos direitos autorais que o autor doava para a instituição. Então, vendo que ele já estava velhinho, quiseram fazer um pijaminha de flanela para presenteá-lo. E estavam lá para pedir que eu o entregasse e lhe agradecesse. Eu me comprometi a ir visitá-lo. E fui. Tudo em sonho...

Quando cheguei à casa dele, foi uma coisa muito estranha, porque me encontrei com dois Herminios ao mesmo tempo: um deitado  na cama, já com dificuldade de movimentação, mas para quem eu contei o que estava fazendo lá, entregando o pacotinho. Ele ficou muito feliz... Muito agradecido... Mas ao mesmo tempo, eu conversava com o Herminio que parecia ter cerca de 40 anos, de pé, muito alegre, muito feliz, que começou a me falar sobre a importância da vida, da encarnação,  que ela costuma ser  muito menosprezada por nós, que temos a oportunidade maravilhosa de aprender, até entender a angelitude, mas que nós – ele faz uma comparação – acabamos cabulando aulas. Achei interessante, no sonho ele usar a palavra “cabular”,  que é bem da época dele. E aí eu brinquei: “Ah, mas nós aqui, simples mortais, ainda estamos cabulando as aulinhas do primário, mas tem pessoas, como o senhor, que, se cabula, é aula da pós-graduação. Aí ele riu e falou: “De jeito nenhum... Uma coisa que eu tenho muita segurança, que eu tenho muito para dizer, é que nunca cabulei aula na minha vida. A existência é uma coisa muito importante e sempre tive a preocupação de não perder esse tempo.” E na hora, no sonho, me invadiu um sentimento muito forte de que eu estava me despedindo dele.

Sua filha, Ana Maria, também nos contou que dias antes de sua partida, Herminio teve como uma crise. Sua esposa dizia que ele não estava falando coisa com coisa, mas a filha observou: “Ele está falando com muita segurança! Com muita firmeza, como num idioma que a gente não conhece...” Foi um prenúncio de que ele já estava se desligando...  Passada a ‘crise’, Herminio virou-se para a filha e disse “minha filha, acho que eu já estou me despedindo...”