Evangelho ou cesta básica?
Por Redação
Fico sempre me perguntando: O que é mais importante: a evangelização dos corações aflitos ou a assistência social, material? – Márcia Nogueira, Tatuapé, São Paulo, SP
Para responder a essa dúvida, vamos resgatar no nosso acervo uma resposta dada pelo escritor Deolindo Amorim em uma entrevista para o Correio Fraterno em 1979, que mostra a coerência dos princípios espíritas para todas as épocas.
“Os dois trabalhos são concomitantes. Assistência social, quando praticada com amor e, portanto, com desinteresse, é uma forma prática de aplicar o que se aprende no Evangelho. É em consequência do ensino evangélico que muita gente parte, de corpo e alma, para o campo assistencial. Evangelizar, à luz do espiritismo, é esclarecer, educar, reerguer moralmente a criatura humana, procurando libertá-la do vício e dos maus sentimentos. Não podemos separar evangelização e assistência social. Claro que se pode dar o ensino evangélico sem fazer assistência social, tanto quanto se pode realizar assistência social sem elucidação evangélica. Mas a pergunta envolve os dois termos.
A assistência social – digamos assim – mata a fome do corpo; a evangelização mata a fome do espírito. As duas necessidades coexistem no ser humano. Se é verdade que ninguém resolve o problema de um faminto, há dois dias sem comer, apenas com uma página evangélica, pois o momento é realmente de alimento material, também é verdade que a alimentação do corpo sem uma lição, sem elucidação evangélica, sem orientação espiritual, termina por transformar-se em rotina, sem a mínima influência na renovação íntima da criatura beneficiada. Não é caso de saber ou dizer qual seja a mais importante realização: evangelizar ou dar assistência social. A evangelização deve vir antes de tudo, a fim de preparar a criatura humana, mas a assistência social se impõe como decorrência daquilo que se ensina, isto é, o amor, a caridade, a solidaridade, enfim.
São áreas de ação consequente, em dois momentos decisivos da vida, isto é, o momento de receber a luz do conhecimento e o momento de receber o alimento que o corpo reclama. Por outras palavras, isto significa simplesmente evangelizar a assistência social, tirando-lhe o caráter de esmola e dando-lhe o sentido certo de solidariedade humana.”
A caridade como princípio universal
A máxima “Fora da caridade não há salvação” se assenta num princípio universal e abre a todos os filhos de Deus acesso à suprema felicidade. (...) Consagra o princípio da igualdade perante Deus e da liberdade de consciência. Tendo-a por norma, todos os homens são irmãos e, qualquer que seja a maneira por que adorem o Criador, eles se estendem as mãos e oram uns pelos outros.
Na caridade estão encerrados os destinos dos homens, na Terra e no céu; (...) nada exprime com mais exatidão o pensamento de Jesus, nada resume tão bem os deveres do homem, como essa máxima de ordem divina. Não poderia o espiritismo provar melhor a sua origem, do que apresentando-a como regra, por isso que é um reflexo do mais puro Cristianismo. Levando-a por guia, nunca o homem se transviará. (Allan Kardec em O evangelho segundo o espiritismo).