Processos obsessivos: a importância de saber reconhecê-los

Por Umberto Fabbri

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Definida por Allan Kardec como o domínio que alguns espíritos inferiores exercem sobre certas pessoas, tendo em vista que os bons não exercem nenhum constrangimento, a obsessão é analisada de maneira magistral em O livro dos médiuns, no seu capítulo 23, mostrando ser o assunto um problema mesmo sério.

Os quadros obsessivos, dos mais simples aos mais complexos, chegam a destruir a vida do obsediado, quando não envolvendo sua família, parentes e amigos em um drama de origens muitas vezes obscuras e tratados por alguns especialistas como simples problema de ordem cerebral, onde a criatura por vezes é considerada como máquina, e como tal, necessita de ajustes.

Esquece-se totalmente a condição do ser espiritual, com os seus erros e acertos, e por vezes envolvido com outras criaturas, nos dramas mais diversos, onde o sentimento aviltado, a falta de perdão e tantas outras situações, a título de prova ou expiação, podem a qualquer momento aflorar em suas vidas.

Caminheiros que somos de milhões de anos no trabalho incessante de construção de nossa consciência, tendo as razões mais sérias ou as mais pueris, considerando a condição que nos encontrávamos ou podemos nos encontrar ainda em relação aos nossos sentimentos e valores, quanto nos equivocamos e quanto ainda nos equivocaremos?!

Por isso o assunto refere-se a todos nós, que ainda não somos senhores de consciência plena, havendo portanto a possibilidade de estarmos inseridos nos quadros obsessivos de forma direta ou indireta por nossos enganos e descaminhos, frutos do exercício natural do uso da nossa liberdade, exercida através das escolhas mais diferenciadas conforme nossa moral, intenção e conhecimento.

Como os quadros são variados, quando falamos em classificar esses processos obsessivos, vale ressaltar a importância de se saber reconhecê-los. Afinal o conhecimento das etapas do caminho obsessivo permite ações mais direcionadas, barrando-se o agravamento das obsessões.

Nem sempre é fácil diagnosticá-las, pelos graus de sutileza de que dispõem esses quadros, nas principais etapas. São elas:

Obsessão simples

Geralmente caracteriza-se por influência mental discreta e persistente. Temos, por exemplo, ideias de derrotismo durando horas, tristeza, pessimismo, depressão, etc. Quando começa, pode ser à distância, com simples insinuação mental. Geralmente são espíritos zombeteiros, mistificadores, que produzem barulhos, manifestações físicas, podendo causar desconforto ou dores.

Na mediunidade, podem interferir nas comunicações com os bons Espíritos, buscando atrapalhar a sintonia e a concentração do médium.

Fascinação

Um quadro mais pernicioso, em que os espíritos obsessores buscam utilizar-se de técnicas hipnóticas ou também telepáticas, envolvendo de forma mais abrangente a sua vítima, buscando aprofundar a sua influência para poderem manipular mais facilmente a pessoa. O espírito obsessor, utilizando-se dessas técnicas, faz sugestões de grandeza, falso poder, pseudo-sabedoria e, se assimiladas pelo orgulho ou vaidade, pode haver desestabilização psíquica, levando o obsidiado a situações comprometedoras e perigosas.

Para o médium, apresenta-se por vezes com grandes nomes, incluindo mensagens ridículas que o médium acredita serem divinas. Estes espíritos falam também de Deus e tentam fazer o médium se afastar de pessoas de bom senso, que podem alertá-las sobre a influência a que estão sendo submetidas.

Destaque-se, aqui, a citação de alguns outros exemplos de perniciosa atuação, sem que ainda possa ser levada à classificação de subjugação. São casos de obsessão simbiótica, vampirismo, ou ainda as questões relacionadas às atuações de caráter oportunista.

Na obsessão por simbiose, há uma total dependência entre os envolvidos. André Luiz, através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, em seu livro "Evolução em dois mundos", classifica a simbiose de mentossíntese, por tratar-se da troca de fluidos mentais, através dos quais os envolvidos emitem e recebem ideias e vibrações. Por causarem esses processos profunda dependência entre os envolvidos, é difícil a condição para a cura, devido à dependência que se aprofunda. Geralmente os espíritos vinculados nesses dramas necessitam de reencarnação conjunta.

No vampirismo, ocorre o processo psicofísico, que pode levar ou comprometer ainda mais o paciente (leia-se obsidiado) com o alcoolismo, toxicomania e vários outros vícios. Outro ponto não menos importante é o oportunismo, gerado por qualquer um de nós, pela liberdade que nos assiste como manifestação da Justiça Divina, onde como exemplo, podemos a qualquer tempo nos tornar dependentes químicos e atrair, via de regra, não sempre, espíritos sem consciência de sua condição de desencarnados, em extrema penúria, dependentes também que continuam na sua ignorância, buscando satisfazerem-se através de um vampirismo não calculado, mas extremamente prejudicial à criatura encarnada, que por seu livre-arbítrio se enredou nas condições da dependência. Um exemplo é o caso do espírito que busca o companheiro de bar para não beber sozinho. Vale sempre lembrar que os aspectos das obsessões aqui apresentadas não têm nenhuma relação com situações fantásticas de temas hollywoodianos, que servem bem para apresentar pessoas como simples vítimas, como cordeiros no meio de lobos. Todo processo obsessivo tem uma razão de ser, alertada por Emmanuel, mentor de Francisco Cândido Xavier, que nos ensina: "Precisamos ver quando a vítima é vítima mesmo, ou quando a vítima não passa de um algoz disfarçado".

Dessa forma, não ocorrem obsessões, sejam de condições vivenciadas no passado ou no presente, sem que se procure e se permita que tal influência se processe. Lembramos o ensinamento de Jesus (Mateus 7) "Procura e acharás...".

Subjugação

O paciente tem a vontade paralisada e o obsessor o faz agir contra a sua vontade, levando-o a comportamento mental e físico que não lhe é próprio. Através do perispírito, utilizando-se dos centros de força coronário e frontal ou ainda outros, subjuga o pensamento e também os plexos nervosos específicos, que envolvem atividades motoras ou postura física, colocando o obsediado em situação sempre comprometedora. Sendo a subjugação de caráter físico, encontramos em O livro dos médiuns, no capítulo 23, o exemplo doloroso de um senhor de idade bastante avançada, que pedia em casamento, de joelhos, moças que encontrava pelas ruas. Em outras oportunidades, beijava o chão em lugares públicos, etc. As pessoas o tachavam de louco, porém ele sofria terrivelmente.

No caso de subjugação moral, o paciente, como que privado do senso crítico, é constrangido a tomar resoluções e atitudes absurdas e comprometedoras, por vezes falando coisas escusas para pessoas. Nas ocorrências dessa natureza, com médiuns, temos também considerações interessantes no mesmo capítulo 23 da mencionada obra de Kardec, informando-nos sobre a subjugação nos psicógrafos, quando o espírito produz uma necessidade incessante de escrever, mesmo nos momentos mais inoportunos. "Vimos subjugados que na falta de caneta ou lápis, fingiam escrever com o dedo, onde quer que se encontrassem, mesmo nas ruas, escrevendo em portas e paredes".

Possessão

É a subjugação no auge. Costuma ser rara e, tendo o espírito subjugador preso por afinidade espiritual o perispírito do paciente, coloca-se como dono de suas faculdades psíquicas e estruturas nervosas , controlando o organismo e neutralizando a vontade daquele que está submetido.

Encontramos em Obras póstumas, de Allan Kardec, que o paciente chega a ter consciência do que faz e sabe que é ridículo, mas é como se um homem forte o obrigasse a tomar as atitudes contrárias à sua vontade. Todavia a possessão é temporária e intermitente. Cada um é dono do seu corpo, molecularmente, desde o seu reencarne.

Como leitura complementar, podemos recorrer à obra de André Luiz, psicografia de Chico Xavier, "Nos domínios da mediunidade", no seu capítulo 9 – Possessão.

Acrescentamos ainda outras intercorrências que podem ocorrer na subjugação:

• Crises intermitentes, controlando ou descontrolando o sistema nervoso central.

• Informações utilizadas dos registros cerebrais do paciente, buscando aquelas que produzam medo, terror e fobias.

• Agressões ou provocações a terceiros.

• Vampirismo de seu fluido vital, visando seu esgotamento e minando a resistência imunológica.

Podemos ainda colocar outro ponto não menos importante, que se refere a nós mesmos, Espíritos que somos, em um processo que se denomina como auto-obsessão, que é um distúrbio psíquico, desencadeado pela mente doentia do próprio enfermo que gera um estado permanente de desequilíbrio emocional, tais como: constante impaciência, irritação frequente, mágoa prolongada, inveja, ciúme patológico, egocentrismo acentuado, medos excessivos, aberrações sexuais, comportamentos obsessivo-compulsivos e outras atitudes desajustadas.

Por que a obsessão ocorre?

Emmanuel novamente vem em nosso auxílio nos esclarecer em sua obra Leis de amor: "São espíritos a quem ferimos ou nos acumpliciamos para praticar o mal, podendo ocorrer a obsessão também entre desencarnados, encarnados, etc, não existindo uma regra fixa em relação à patologia. (...) O pensamento é a base de tudo, atraindo pessoas e espíritos. Sendo o pensamento um agente energético que colocamos na corrente da vida, ele volta para nós, enriquecido do bem ou do mal que nós desejarmos.".

Logo, nas correntes mentais, nós assimilamos o que damos de nós e, tendo pontos vulneráveis. Cada vez que pensamos mal, nós o temos de volta, com agravamento de doenças, fraquezas, obsessões, paixões, etc. Buscando simplificar, todas as vezes que pensamos bem, atraímos para nós bons Espíritos, mantemos o equilíbrio e a saúde e abrimos as portas do bem e do amor. O contrário também é verdadeiro, porque com os maus pensamentos vamos atrair maus espíritos, nos desequilibramos, prejudicamos a nossa saúde e abrimos as portas do mal e do ódio.

Então, como modificarmos a nossa situação? A doutrina espírita, que é o cristianismo redivivo, traz o roteiro para a modificação necessária. São eles: aplicação do Evangelho de Jesus em nossas vidas e o consequente perdão das ofensas.

Evidente que encontraremos o amparo necessário dentro da casa espírita, através das atividades assistenciais, fluidoterápicas e tantas outras à nossa disposição. Porém, o mais importante será a nossa disposição para a mudança, objetivando a nossa transformação moral. Pensamentos, palavras e ações são iguais a poderosos eletroímãs. Semelhante atrai semelhante. E a cura definitiva está na prática incessante do bem ao próximo, tendo sempre em mente o ensinamento do Cristo: "Vigiai e orai, para não cairdes em tentação". (Mateus 24, 42-51). E, se popularmente conhecemos a frase, "dize-me com quem andas e te direi quem és", com o nosso avanço dentro da escalada evolutiva, os amigos espirituais nos ensinam: "Dize-nos o que pensas, que te diremos quais as tuas companhias..."


(Publicado no jornal Correio Fraterno - edição 450 março/abril 2013 )

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