Yvonne, os suicidas e Léon Denis

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Grande clássico da literatura espírita, o livro Memórias de um suicida, de psicografia de Yvonne Pereira, só foi publicado graças à interferência espiritual de Léon Denis.

A autora assim o revela na introdução da obra, onde agradece o "grande apóstolo do espiritismo" e lhe atribui as intuições para a compilação e redação do livro.

"Durante cerca de vinte anos tive a felicidade de sentir a atenção de tão nobre entidade piedosamente voltada para mim, inspirando-me um dia, aconselhando-me em outro, enxugando-me as lágrimas nos momentos decisivos em que renúncias dolorosas se impuseram como resgates indispensáveis ao levantamento de minha consciência, engolfada ainda nas consequências de um suicídio em existência pregressa", revelou Yvonne em 1954, ao lançar a obra.

"E durante vinte anos convivi com esse irmão venerável, cujas lições povoaram minha alma de consolações e esperanças, cujos conselhos procurei sempre pôr em prática, e hoje, quando a existência já declina para o seu ocaso, fala-me mais ternamente ainda, no segredo do recinto humílimo onde estas linhas são escritas!", revela.

Yvonne também diz que desde a juventude vinha obtendo comunicações de espíritos suicidas que voluntariamente acorriam às reuniões do Centro Espírita de Lavras, cidade mineira em que morava.

Dentre eles um se destacou pela 'assiduidade e simpatia' e, principalmente, pelo nome glorioso que deixou na literatura em língua portuguesa: Camilo Cândido Botelho, ou Camilo Castelo Branco.

Até o ano de 1926, porém, só muito superficialmente ouvira falar em seu nome. Daí em diante, ora em sessões normalmente organizadas, ora em reuniões íntimas, levadas a efeito em domicílios particulares, ou no silêncio do seu aposento, recebia apontamentos, noticiário periódico, escrito ou verbal, ensaios literários, verdadeira reportagem relativa a casos de suicídio e suas tristes consequências.

Yvonne conta que teve muitas dificuldades para compor o livro.

"Não posso ajuizar quanto aos méritos desta obra. Proibi-me, durante muito tempo, levá-la ao conhecimento alheio, reconhecendo-me incapaz de analisá-la. Devo estas páginas à caridade de eminente habitante do mundo espiritual, ao qual me sinto ligada por um sentimento de gratidão que pressinto se estenderá além da vida presente", registra a médium.

Não fosse a amorosa solicitude desse iluminado representante da doutrina dos espíritos – que prometeu, nas páginas fulgurantes dos livros que deixou na Terra sobre filosofia espírita acudir ao apelo de todo coração sincero com o intuito de progredir – e esses apontamentos se perderiam.

Publicado no jornal Correio Fraterno - Edição 466 - novembro/dezembro 2015.

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