A promessa cumprida de Jésus Gonçalves a Chico Xavier
Chico Xavier era um dos muitos espíritas com quem Jésus Gonçalves trocava correspondência. O poeta e músico espírita já era reconhecido pelo intenso trabalho que realizava na divulgação do espiritismo, principalmente na fase mais crítica de sua doença, a hanseníase.
Os dois não tiveram oportunidade de se conhecerem pessoalmente, mas reiteradas vezes o poeta afirmara em suas cartas que, ao desencarnar, iria visitar o amigo.
Havia anos que Jésus Gonçalves mantinha-se em tratamento no hospital de Pirapitingui, SP.
No livro No mundo de Chico Xavier, de Elias Barbosa, o médium descreve:
“Habituei-me a receber o conforto que as palavras dele me traziam. Edificavam-me ao receber-lhe as observações otimistas. Conquanto vítima de moléstia pertinaz, era um exemplo de coragem, de resignação, de tranquilidade e fé viva. Dava-me tantas lições de paciência e compreensão que, muitas vezes, os recados e as missivas dele para mim representavam mensagens de vida superior. Em muitos dos pequenos avisos que me enviava, dizia que, ao partir da Terra, pretendia ir ver-me em espírito.”
Chico conta que, algumas vezes, Jésus enviara-lhe retratos e, porque a moléstia trazia-lhe alterações fisionômicas, costumava escrever sempre com bom humor: “Irmão Chico, se você notar alguma diferença de uma fotografia para outra, isso é da máquina, porque continuo sempre o mesmo”.
Depois da última carta que recebeu, Chico não teve mais notícias.
Era março de 1947 e o médium estava em tarefa, no Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Uberaba, MG e terminada a mensagem que recebera de Emmanuel, viu a porta de entrada iluminar-se de suave clarão. “Um homem-Espírito apareceu aos meus olhos, mas em condições admiráveis. Além da aura de brilho pálido que o circundava, trazia luz não ofuscante, mas clara e bela, a envolver-lhe certa parte do rosto e da cabeça, ao mesmo tempo em que uma das pernas surgia vestida igualmente de luz.”
O médium conta que profunda simpatia ligou-o à entidade e mentalmente perguntou se não podia saber de quem se tratava. O visitante aproximou-se mais e disse:
“ – Chico, eu sou, Jésus Gonçalves! Cumpro a minha promessa... Vim ver você!”
As lágrimas subiram-lhe do coração aos olhos, percebendo que o amigo mostrava mais intensa luz nas regiões em que a moléstia mais o supliciara no corpo físico. Entretanto, Chico não conseguia articular palavra alguma, nem mesmo em pensamento.
Dado aos versos, Jésus disse ao médium que gostaria de escrever por ele, enviar notícias aos irmãos que ficaram e agradecer a Deus as dádivas recebidas... Mas Chico permanecia confuso, por ignorar que ele houvesse desencarnado.
Jésus recitou um poema que Chico ouvi e depois, debruçando-se sobre seu braço, passou a transmitir os versos, que o médium registrou.
No dia seguinte, visitantes de São Paulo que estava com Chico na reunião seguiram para Pirapitingui, levando em mãos a mensagem de Jésus, recebida em forma de poesia, para todos os amigos do hospital-colônia. De lá, escreveram imediatamente ao Chico, comunicando que Jésus havia desencarnado alguns dias antes da reunião em Uberaba.
Palavras do companheiro aos meus irmãos de Pirapitingui
Irmãos, cheguei contente ao Novo Dia
E ainda em pleno assombro de estrangeiro
Jubiloso, saltei de meu veleiro
No porto da Verdade e da Harmonia.
Bendizei, com Jesus, a dor sombria
Na romagem de pranto e cativeiro,
Nele achareis o Doce Companheiro
Para as rudes tormentas da agonia...
Não desdenheis a chaga que depura,
Nossas horas de amarga desventura
São dádivas da Lei que nos governa!...
As escuras feridas torturantes
São adornos nas vestes deslumbrantes
Que envergamos ao sol da Vida Eterna!
II
Ave, maravilhosa madrugada
Que desdobra a luz no céu aberto
Além das trevas, longe do deserto
Onde a esperança geme incontentada!
Salve, resplandecente e excelsa estrada
Sobre o mundo brumoso, estranho e incerto
Que acolhe, em paz, o Espírito liberto
Na vastidão da abóbada estrelada!
Oh! Meu Jesus, que fiz na noite densa,
Por merecer tamanha recompensa
Se confundido e fraco me demoro?!
Recebe, ante a visão do Espaço Eleito,
A alegria que vaza de meu peito
Nas venturosas lágrimas que choro...
Fonte: A extraordinária vida de Jésus Gonçalves, de Eduardo Carvalho Monteiro
(Artigo original publicado no Jornal Correio Fraterno)