A loucura genial de Mirabelli

Por Emília Santos Coutinho

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... Ponho de lado toda a ideia de fraude, de truque, de mistificação, porque antes, durante e depois da produção dos fenômenos, exerci a mais severa fiscalização – Cairbar Schutel

Há muito tempo não ouvimos ninguém comentar a respeito do grande médium Carmine Mirabelli, que nasceu em 2 de janeiro de 1889, em Botucatu, interior de São Paulo, e desencarnou na capital, no dia 30 de abril de 1951. Os fenômenos realizados por seu intermédio inquietaram, por muito tempo, pesquisadores e, principalmente, os descrentes dos fenômenos mediúnicos.

Nascido no seio de família abastada, a vida lhe sorriu, até que seu comportamento começou a se modificar, ocasionado pelo desabrochar de sua mediunidade. "Trata-se de doença mental", diziam alguns. Outros, "... é um caso patológico".

O amparo e aconselhamento de eminentes médicos como Horácio de Carvalho, Alberto Seabra e Pereira Barreto, não conseguiram impedir seu internamento no Hospital Psiquiátrico Juquiri, em São Paulo.

Nesta casa, seu caso foi estudado pelo Dr. Franco da Rocha e Dr. Felipe Ache, que concluíram, dizendo: "Se Mirabelli é louco, que loucura genial!"

Após obter alta hospitalar, Mirabelli funda, na cidade de Santos, a Casa de Caridade São Luis, seguida pela instalação de uma Academia de Estudos Psíquicos, que levou o nome do eminente pesquisador italiano César Lombroso. Mais tarde, ele funda, também no Rio de Janeiro, juntamente com Dr.Thadeu de Araújo, a Academia Brasileira de Metapsíquica.

Caluniado, humilhado, perseguido por sua notável mediunidade, que se manifestava através de fenômenos, como a psicografia, a xenoglossia, a materialização, dentre outros, foi objeto de pesquisa de uma plêiade de pesquisadores que, desconfiados, pretendiam encontrar fraudes e desonestidade na manifestação da sua mediunidade.

O fato que vamos narrar foi publicado no Jornal Vanguarda, de fevereiro de 1933.

Uma senhora de nome Adelina Lago, descrente dos fenômenos mediúnicos, dirigiu-se a São Paulo e procurou o médium para observar de perto aquilo que ela tanto duvidava. Quando lá chegou, espantada, ouviu-o dizer: "Eu já a esperava", mostrando-lhe um caderninho no qual se encontravam, escritos, todos os fatos de sua vida que, segundo o médium, tinham sido transmitidos por seu pai, que possuía afinidades com ela. Em seguida, a visitante foi convidada para assistir a uma sessão na casa de Mirabelli.

A reunião teve início na hora marcada. Nada acontecia, até que o médium entrou em estado de transe e começou a chamar pelo progenitor: "Vem! Vem!". Tudo isso acontecia em uma sala fortemente iluminada, sem qualquer possibilidade de truque.

"Minutos depois – narra Adelina – uma mancha branca foi se condensando como se fosse de neve, até tomar a forma de um vulto humano, uma imagem que tenho visto várias vezes em quadros bentos e em santuários, como sendo a de São Francisco de Assis.

Esta visão era de uma nitidez incrível. Viva. Palpitante. Uma expressão calma, embora fosse branca como um mármore. Mas eu bem o via, perto, como estava à luz clara da lâmpada de alta voltagem, que ele parecia ser de carne e osso.

Mirabelli disse: 'Aproxime. São Francisco tem umas flores pra você'.

Olhei e não vi nada, pois Mirabelli tinha os braços cruzados. Mas, lentamente, quando me aproximei mais, deixou cair um grande ramalhete de rosas.

Respire, São Francisco! Respire forte para que ela veja, para que ela creia que estás vivo' – dizia Mirabelli.

As narinas palpitavam, os olhos brilhavam mansamente e um sorriso cotejava os lábios da figura então materializada.

Depois, devagarzinho, foi se desmaterializando, sob meus olhos, perdendo sua densidade, diminuindo de altura, até desaparecer, sob minhas vistas. As luzes continuavam acesas – tudo estava claro. Não havia biombo, nem cortina. O médium não saiu um segundo da visão dos assistentes da sessão.

 A sessão continuou e outros fenômenos foram registrados."

(Publicado no Jornal Correio Fraterno, edição 410, ju.l/ago. 2006)

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