Minha filha entregue em um sonho

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Por Gustavo Ribeiro

Foi em uma sexta feira, dia 14 de março de 2014. Passava das 18 horas e eu estava sentado em um banco. Era o terceiro. Aos poucos outros homens foram se juntando nesse mesmo local, todos depois de mim.

Tentava, sem sucesso, buscar palavras para formular uma prece, mas o nervosismo do momento me impedia, pois em pouco tempo conheceria a minha filha. A família aguardava em um local para assistir ao parto. Minha esposa já estava na sala e eu aguardava ser chamado. A espera me fez refletir sobre o que se passara nos últimos meses.

No dia 9 de julho de 2013, em meio a um feriado, estávamos na casa de veraneio.  Chovia e eu estava dormindo no sofá. Sonhei que nos encontrávamos, minha esposa e eu, num local onde havia pessoas que eu não saberia reconhecer. Conosco conversava jovial mulher. Após uma pausa, ela voltou-se para o lado chamando por alguém que trazia uma criança no colo. Entregou-a para minha esposa, abraçou-me e disse: "Meus parabéns, aqui está Júlia. Agora a caminhada é com vocês".

Foi um sonho rápido. Acordei emocionado. Não contei a ninguém e, com o celular em mãos, gravei tudo o que havia acabado de acontecer. Resolvi esperar os dias com paciência. Algumas semanas se passaram e, num sábado de agosto pela manhã, minha esposa me confirmaria a gravidez por meio de um exame de farmácia.

Foi naquele instante que lhe mostrei a gravação que havia feito há quase um mês. Recorremos a um laboratório para confirmar a gestação, que para mim já existia desde o sonho.

No primeiro ultrassom, constatou-se que a data aproximada do início da gestação seria entre 10 e 15 de julho. O sonho ocorrera dia 9. Foi aí que percebi que havia realmente tido um encontro com os amigos espirituais. Mesmo tendo a certeza do encontro, inclusive do sexo do bebê, ainda me encontrava com muito medo, pois, triste realidade, cinco ou seis amigas mais próximas haviam sofrido aborto no início da gravidez. Esse medo crescia muito dentro de mim, o que me impedia de curtir o momento.

Foi então que numa noite sem sono, na qual eu me deixava consumir pelo medo, comecei a ler uma das obras de Yvonne do Amaral Pereira, que sempre me emocionam muito. Naquele momento, uma voz de mulher ressoou em meus ouvidos, como se eu estivesse em um diálogo: "Pai, não tenha medo, eu não vou desistir." Eu chorei, sozinho, naquela noite. Chorei de certeza, chorei por ter percebido que jamais teria um encontro como tive no dia 9 de julho se não fosse para dar certo... Chorei finalmente de felicidade!

Naquela sala do hospital ouvi meu nome. Fui ao encontro de minha esposa. Minha voz tremia de nervoso. Aos poucos fui me acalmando e às 19h20 tudo em minha vida mudou. Um choro marcava uma jornada que havia tido início num reencontro em abril de 2011 e que culminara no nosso casamento no ano seguinte. Materializava-se o encontro do dia 9 de julho de 2013... E a menina que estava sendo colocada em meus braços era exatamente igual a que fora entregue à minha esposa naquele memorável encontro espiritual.

Revendo tudo isso, ainda não sei explicar o fenômeno da voz feminina que ouvi. Talvez tenha sido uma conversa mental provocada por uma guia espiritual, ou por alguém da equipe que cuidou da reencarnação da minha pequena Júlia, visto que não possuo a mediunidade de ouvir os espíritos.

Hoje nos reunimos os três, minha esposa, nossa filha Júlia e eu para realizar o Evangelho no Lar. Ela brincava, sentada à mesa com um mordedor, enquanto minha esposa lia O evangelho segundo o espiritismo, e eu apenas observava a cena, agradecendo profundamente por estarmos reunidos em nova existência.

(Artigo original publicado no Jornal Correio Fraterno)