Preparei minha mãe para saber que morreu

Por Núbia Mendes

Minha mãe sempre dizia que tinha muito medo de morrer. Ficou viúva aos 78 anos, depois de uma vida de amor e alegria de mais de 50 anos com meu pai. Ela ficou muito triste, passou um tempo em minha casa, até ficar fortalecida. Depois de poucos meses, preferiu morar sozinha e continuar no mesmo apartamento em que viviam. 

Às vezes, minha mãe passava um tempo conosco e, nessas ocasiões, sempre conversávamos sobre a vida espiritual. Tinha muita curiosidade, muitas dúvidas e, como sabia ser eu estudiosa do espiritismo, sempre tinha alguma pergunta a me fazer.

Minha mãe era uma pessoa de muita fé, com formação religiosa católica, tendo se tornado espírita já idosa, frequentando e realizando cursos junto com meu pai, na Federação Espírita do Estado de São Paulo.

Certa vez, tomando um descontraído café com bolo na cozinha da minha casa, ela voltou a comentar: “Eu estou bem, mas tenho muito medo de morrer sozinha!”

Foi quando eu tive a ideia de ensaiá-la, em meio a muitas risadas, a morrer em paz, dizendo: “Mãe, pare com isso! Um dia você vai ter que enfrentar esse medo. Vamos treinar?!”. Ela riu da minha ideia, comentou que eu era muito engraçada, e topou o desafio...

– De repente, mãe, você percebe que ninguém te responde ou avista seu corpo separado de você. Você percebe que “mor-reu”. O que você vai fazer? – perguntei.

– Ah, nem imagino... vou ficar apavorada.

– Não vai, não, mãe. Você não tem fé? Não gosta da Nossa Senhora? Pois chame por ela! Ela vai te ajudar, com certeza. Se estiver aflita, procure se acalmar, reze um Pai Nosso, pense em Jesus, e peça socorro a ela. Você não vai estar sozinha. Sabia que Maria de Nazaré cuida dos aflitos também no mundo espiritual?

– É. Verdade. Vou fazer isso. Ela vai me ajudar.

Essa conversa aconteceu na sexta-feira. Minha mãe voltou para sua casa no sábado à tarde e, acreditem, desencarnou na madrugada do domingo para segunda. Sozinha. Teve uma parada cardíaca.

É claro que o susto foi grande. Nunca imaginei que naquela conversa eu a havia preparado para uma desencarnação tão próxima. Meu Deus, que ideia teria sido aquela?!

Depois de alguns dias, uma amiga médium comentou que no centro havia socorrido uma senhora, que lembrava muito a minha mãe. Disse que ela não estava aflita. Sabia o que tinha acontecido com ela, mas queria saber os próximos passos.

– Está bem, já entendi. Mas se não tem nem céu, nem inferno, para onde eu vou agora?... – perguntou.

Minha mãe com certeza aproveitou o treinamento e ainda foi socorrida pelos amigos espirituais numa reunião mediúnica.

Isso tudo fez com que minha saudade doesse menos, dando-me a certeza, mais uma vez, de que a vida do espírito realmente continua.

Mãe, onde você estiver, receba todo esse meu carinho, revivido ao escrever essa nossa história.