Olhos de ver e ouvidos de ouvir

Por Umberto Fabbri*

Encontramos na parábola do Semeador este trecho que traremos para nossas reflexões: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. E, acercando-se dele os discípulos, disseram-lhe: por que lhes falas por parábolas? Ele, respondendo, disse-lhes: porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado. Porque àquele que tem, se lhe dará, e terá em abundância; mas aquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado. Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem. E neles se cumpre a profecia de Isaías que diz: ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e, vendo, vereis, mas não percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviram de mau grado com seus ouvidos, e fecharam seus olhos; para que não vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e compreendam com o coração, e se convertam, e eu os cure. Mas bem-aventurados os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem. Porque em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram”. (Mateus 13, 9-17).

Esta passagem pode ser analisada de várias formas; talvez a mais evidente seja a de Jesus,  que usava de uma linguagem singela, adequando seus ensinamentos ao dia a dia do povo para que ele pudesse compreender sua mensagem. 

Possuíam a capacidade de ver e ouvir, mas não a de perceber sem a analogia que os remetesse para o fundamento de seu discurso. Mentalidades simples pediam um formato mais lúdico para compreender seu evangelho de amor. 

Jesus aludia não à condição física dos cinco sentidos, mas à mentalidade primitiva que ainda não havia atingido a condição de elaborar por si determinadas reflexões, e ele os ajudou a também compreender dentro dos seus limites, pois havia nele o mais puro desejo de ajudar e servir, uma vez que ‘via’ e ‘ouvia’ aquelas pessoas, percebendo suas necessidades.

Se devemos usar os exemplos do Cristo como medida para nossas ações, esta passagem é rica para nosso aprendizado, e um deles é o do quanto conseguimos ver e ouvir do outro, levando em consideração seu momento evolutivo, que pode ser diferente do nosso, uns mais adiantados, outros menos, e ter para cada um deles o respeito por sua dor e necessidade, uma vez que já temos uma consciência mais ampliada pelos ensinamentos do Cristo, mas infelizmente ainda restrita pelo nosso egoísmo e personalismos, que nos cegam e nos deixam surdos por tudo aquilo que não seja de nosso interesse.

Desejamos que o outros nos enxerguem e ouçam, mas não fazemos na grande maioria das vezes o mesmo, por nossa invigilância e imprudência. 

Que ao ler novamente esta mensagem do Cristo nos seja possível abrir nossos olhos, ouvidos e corações, não para ver o que desejamos e o que presumimos subjetivamente, mas sim a realidade de nossos semelhantes e, assim fazendo, provavelmente seremos mais assertivos em amparar, esclarecer e orientar, servindo com alegria dentro da Seara do Mestre.

*Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos) O político (Adalberto Gória) e Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.