Bondade ou neutralidade?

Por Umberto Fabbri*

Na questão de número 100 de O livro dos espíritos encontramos a ‘escala espírita’ utilizada por Kardec para apresentar de forma didática, e não absoluta, uma classificação dos espíritos em seu grau de desenvolvimento moral. Esta divisão nos permite ter uma boa ideia da diversidade de categorias que podemos encontrar por nosso caminho na trilha evolutiva.

Quando tomamos ciência das três principais ordens de espíritos — primeira ordem de espíritos puros, segunda ordem de espíritos bons e a terceira ordem a de espíritos imperfeitos –, podemos nos enganar sobre nossa provável classificação.

Muitos poderão pensar: “não sou um espírito puro ainda, mas já sou bom, pois não prejudico a ninguém”, entretanto não é bem assim que essa classificação funciona.

Segundo Kardec, dentro da classificação de espíritos imperfeitos, encontramos a sétima subclasse, que é a dos espíritos neutros, aqueles que não são bons o suficiente para fazerem o bem e nem maus o bastante para fazerem o mal, ou seja: não basta não fazer o mal; é necessário fazer o bem.

A inércia não cai bem para quem deseja progredir, pois não movimenta as energias que o Criador deseja ver operantes para o auxílio de suas criaturas.

A roda do bem precisa girar, e com seu movimento opera-se o milagre do amor em ação.

Ser neutro, eximindo-se do dever, do trabalho que socorre, acolhe, educa, orienta, ensina e motiva, representa a preguiça, indolência, má vontade, que nascem do egoísmo dos imaturos.

Não causar prejuízo aos nossos semelhantes não passa de puro dever moral; não é digno de ser algo que possa nos classificar como verdadeiros homens de bem, que cumprem as leis de amor, justiça e de caridade.

Para cumprirmos estas leis se faz necessário o trabalho operoso do bem, do esforço contínuo e estarmos atentos para podermos ser úteis a Deus.

A caridade é o amor que espalha o alento material e espiritual por onde quer que passe, e esse amor é laborioso, se faz presente pela dedicação e pelo empenho dos que se dispõem a sair de si mesmos para ir ao encontro dos mais fracos e necessitados.

Neutralidade está longe de ser bondade.

Nas lindas lições do Evangelho, Jesus deixa clara essa questão, quando nos diz que podemos conhecer a árvore pelos frutos, por aquilo que produz, assim como também nos fala sobre a figueira seca e inútil.

Reflitamos se realmente temos feito o bem possível, dentro de nossas possibilidades. Caso a resposta seja negativa, sempre é tempo de começar, transformar e progredir, pois dentro da escala espírita o que realmente nos qualifica é o quanto nos importamos, respeitamos e realizamos em benefício dos nosso próximo.

 

*Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos) O político (Adalberto Gória) e Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.