A emoção de retratar André Luiz nos cinemas

Por Eliana Haddad

Ator e diretor teatral, famoso por atuações em peças e filmes com temática espírita, Renato Prieto está agora nas telas de cinema de todo o país no longa Nosso Lar 2 – Os mensageiros.* 

Depois do sucesso do filme Nosso Lar, que deu início em 2010 ao arrojado projeto do cineasta Wagner de Assis, Renato mais uma vez interpreta o médico André Luiz, autor espiritual da consagrada série de livros psicografada por Francisco Cândido Xavier, publicada no Brasil e no exterior, entre os anos de 1944 e 1968.

Nessa entrevista exclusiva ao Correio, Prieto conta como vem enfrentando o trabalho desafiador de divulgar as ideias espíritas no teatro e no cinema, onde já foi assistido por milhões de pessoas.

Como espírita e ator, como você analisa a responsabilidade de interpretar André Luiz?

A responsabilidade é a mesma, pelo fato de eu estar interpretando um personagem. Mas pelo meu carinho, a responsabilidade de interpretar André Luiz fica maior em meu coração, também pelo fato de, desde muito jovem, eu acompanhar a jornada desse espírito através da leitura de suas obras e de alguns projetos. Poder chegar ao ponto de interpretar um personagem que é icônico, muito querido no meio espírita e fora dele, me faz sentir agraciado. Tenho profunda gratidão pela equipe que me trouxe até ele, o diretor Wagner de Assis, a Iafa Britz, Richard Avila [produtores]. Sinto como se fosse uma promoção para novas responsabilidades. 

O livro tem sido o grande divulgador de conteúdo sobre o espiritismo. Acha que estamos entrando em nova fase em que os vídeos e os longas possam ocupar o papel primordial na divulgação das ideias espíritas?

Emmanuel sempre disse que a maior caridade que podemos fazer pela doutrina espírita é a sua divulgação. Eu não tenho dúvida de que os streamings, os filmes, as novelas, toda possibilidade de se falar sobre a espiritualidade, são os caminhos, porque chegam muito longe. Em outros idiomas, legendados, milhares de pessoas pelo mundo também podem assistir. Penso que agora seja esse o caminho, que aliás é muito ágil e do qual fico feliz de poder participar. 

Até que ponto os recursos artísticos do filme auxiliam na compreensão da vida após a morte? 

Depois de quase 30 anos de projeto levando a espiritualidade através da arte, somando praticamente 7 milhões de pessoas que me assistiram nos palcos, vejo pela emoção delas que a arte é um poderoso recurso de sensibilização para esse tema. Ao fim do espetáculo, ouço muitas histórias daqueles que se tornaram espíritas ou partiram para estudar o assunto. Isso é muito importante e temos que contribuir cada vez mais. 

Você chegou a ter alguma orientação de Chico Xavier sobre sua participação como ator na divulgação do espiritismo?

Chico Xavier, Divaldo Franco e outros médiuns reconhecidos sempre foram muito afetuosos comigo, sempre me orientaram. Quando conversei com Chico eu ainda era jovem, mas já entendi as dificuldades, mesmo com uma formação acadêmica, de me dedicar exclusivamente a divulgar os assuntos da espiritualidade através das artes. Senti que poderia sofrer pressões de outras filosofias ou religiões, ser julgado, enfrentar preconceitos. E passei por todos eles. Mas marquei uma reta e um ponto e fui seguindo, sempre atento às orientações espirituais. Converso com o Divaldo, trocamos ideias. Sinto um carinho e um reconhecimento que me lembram a todo instante que esse é o meu caminho, esta foi a minha escolha. Chico também sempre foi muito afetuoso comigo. Quando fez 90 anos de idade, a cidade de Uberaba queria lhe dar um presente, coisa que ele nunca aceitou. Sabendo da peça teatral E a vida continua que eu estava fazendo, comentou que talvez eu pudesse levar o espetáculo, dedicá-lo ao povo da cidade e para todos os que para lá se dirigiam. Com o apoio da prefeitura, a peça teatral foi levada para todos, gratuitamente.


Como foi sua preparação para interpretar o papel de André Luiz nos filmes da série?

Desde quando começamos a leitura de mesa, meu ponto de referência era o Wagner de Assis [diretor]. Depois, fomos gravando as cenas de experiências e fazendo as escolhas, dentre elas a de que eu teria que emagrecer cerca de 20 quilos para fazer as cenas do umbral. Bigode, barba, cabelo, deixei tudo crescer, durante meses. A partir daí o personagem foi aparecendo. Ninguém faz nada sozinho. São muitos os detalhes, mas tudo vai fluindo, graças à direção precisa e muito amorosa. Foi uma preparação longa, demorou cerca de seis meses. Uma bela experiência. 

Qual a maior mensagem do filme Nosso Lar 2Os mensageiros?

O Nosso Lar 1 deu ao público a chance de conhecer acerca do plano espiritual e sobre a própria história do André Luiz e se emocionar com tudo isso. Eu não tenho dúvidas de que Nosso Lar 2 vai impactar o público, que vai poder se ver representado. A equipe trabalhou muito para que o filme seja um passo adiante, trazendo novidades, novas histórias, mostrando conceitos e experiências relatados no livro. 

Através dos filmes, do teatro, o espectador muitas vezes se reconhece no erro de conduta do personagem, ele se vê ali representado e tem a grande oportunidade de repensar e se corrigir, porque você consegue ver as consequências. O que foi que aconteceu com ele? Olha quantos passos essa ação não pode representar na evolução do ser humano? A mensagem trazida para a tela é de esperança, de humanismo, de aprendizado, de crescimento, de evolução espiritual.

Qual foi a cena que mais lhe marcou? 

São tantas as cenas que é difícil elencar. Esse filme traz um processo de observação de um personagem que deu passos adiante, que quis aprender também com outras pessoas. 

Todas as cenas me tocam profundamente, mas há uma que eu me lembro bem, quando fui gravá-la em uma casa, envolvendo um momento de muita emoção. Essa emoção permanece até hoje em mim. Já no filme anterior, eu gostava muito de gravar com as crianças, porque me dava uma alegria muito grande, e as cenas mais difíceis com certeza foram as do umbral. Me emocionaram muito as cenas com a mãe, porque a atriz, Selma Egrei, parecia muito com minha mãe, com seu jeito, os seus olhos!

O que é para o artista trabalhar em obras de conteúdo moral?

Acho que toda e qualquer obra tem a sua importância, mas a função do artista sempre foi a de conceituar, modificar, contribuir, mostrar algo para as pessoas, tanto que ao longo da história, o artista e o escritor eram os arautos das novidades de um comportamento social. Eu escolhi trabalhar com obras que de alguma maneira transformem a vida das pessoas para melhor. Sempre digo que servir é honra que nos compete, mesmo que um pouquinho, para que as pessoas reflitam, leiam os livros-base dos espetáculos que estão assistindo comigo. E eu tenho muita gratidão pela oportunidade. 

Você já vem trabalhando com o conteúdo espírita há muito tempo. Isso refletiu em você de alguma forma?

O fato de eu vir trabalhando há muito tempo nesse conteúdo não é uma decisão que eu tomei aqui, quando cheguei no planeta, mas quando eu devia estar me preparando no departamento de artes na espiritualidade, onde muito provavelmente artistas, escritores discutiam, onde se falava de grupos que já estavam trabalhando para esse despertar no planeta, no século passado. Ali, eu devo ter me candidatado. Tudo isso reflete em mim e tudo o que eu quero é poder contribuir.

O próprio título do livro que está sendo lançado sobre a minha trajetória, E quem disse que seria fácil?, reflete uma pouco essa realidade: Nele conto como foram importantes as orientações espirituais, que inúmeras vezes me alertaram: faça silêncio, siga a sua caminhada. Eu me sinto muito feliz e agradeço por essa chance de trabalhar também nesta reencarnação com a arte e espero continuar merecendo a honraria desses amigos, que me ajudam, me orientam.

Como você avalia o interesse pelos investimentos na cultura espírita?

Falta muito em questão de apoio e investimento. Ao longo desses anos, busquei patrocínio com inúmeros empresários, simpatizantes da doutrina ou mesmo ligados a ela, mas o retorno sempre foi muito pequeno. Alguns alegando o receio de associar o nome da sua empresa a um segmento religioso, temendo retaliação do consumidor, esquecendo-se de que podem ajudar, receber o apoio da lei de incentivo à cultura, e manter o nome em sigilo, assim como nos ensinou o Cristo. Ninguém precisa saber. Vamos continuar tentando. Não podemos desistir.


* O elenco ainda conta com: Edson Celulari, Felipe de Carolis, Fernanda Rodrigues, Vanessa Gerbelli, Fábio Lago, Juliane Trevisol, Mouhamed Harfouch e Letícia Braga. Produção, roteiro e direção: Wagner de Assis. Produção: Cinética Filmes. Coprodução: Star Original Productions. Distribuição: Star Distribution.