O papel do Consolador Prometido

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Por Nena Galves*

Diante de tantas dificuldades sociais, econômicas e políticas que o mundo enfrenta, qual o maior desafio e o principal papel do espiritismo hoje? – Maria Lícia Fontes, Alfenas, MG

É preciso ter cuidado. O espiritismo no Brasil cresceu ligado à parte assistencial e devemos continuar a fazer a caridade material. Porém é a caridade moral que nos chama. A fome maior dos grandes centros é a falta de sentido na vida, a droga, o desespero, o suicídio, as depressões, e o Consolador Prometido que não consola a parte espiritual da vida não é consolador, é alimentador de enganos.

É papel do espiritismo adaptar-se à modernidade, mas não para satisfazer o nosso ego. O maior desafio dos espíritas é manter o foco e não se perder em ilusões. Pensar: como consolar?

Consolar é esclarecer, não é convencer, porque ninguém convence ninguém em termos espirituais. O espírito precisa ser esclarecido, ter discernimento para que possa se direcionar por si mesmo, fazer melhor suas escolhas. 

Chico Xavier nos deixou um grande exemplo. Recebeu e distribuiu sua obra magnífica que corre o mundo, quase 500 livros, sem nunca ter se afastado do contato com o ser humano. Para ele, em primeiro lugar, estavam as necessidades humanas. 

A maior divulgação do espiritismo se faz no olho no olho, esse é o Consolador Prometido. Todo mundo quer falar, mas poucos se propõem a escutar. 

As pessoas ainda buscam na casa espírita o fenômeno. Querem mensagem, querem falar com os espíritos, mas aos poucos vão tomando conhecimento que o espiritismo é muito mais que isso, é um trabalho que exige esforço pessoal. Seguindo esse processo é que vão aprendendo a não entrar em depressão, a não pensar no suicídio. Vão, enfim, se responsabilizando por si mesmas. Por isso é na casa espírita que o trabalhador deve estar preparado para oferecer o livro bom, o passe amigo, o abraço fraterno.

Precisamos preparar jovens com essa maturidade para poderem enfrentar com segurança esse desafio do mundo atual, pois a maioria dos palestrantes tem mais idade, e os jovens querem uma linguagem rápida, porque têm raciocínio rápido e acesso imediato à informação para respostas também rápidas que, no entanto, nem sempre acalmam seu coração. Há que se falar sobre suas dificuldades, tão necessitados que estão de orientação sobre o amor, o perdão, a humildade, a esperança, a fé.

Fala-se no movimento espírita em se voltar às bases. Estuda-se Kardec. Tem casas que têm cursos de seis anos, são quase uma universidade. Mas é preciso despertar a capacidade de discernimento junto do estudo, desenvolver-se realmente a fé raciocinada. 

Há um desafio enorme a ser enfrentado também nos meios de comunicação. O mundo ficou pequeno, o acesso à informação é muito fácil, a maneira de escrever mudou, a maneira de falar mudou, a maneira de agir mudou. Acordemos. É preciso saber pensar. 

Ensinar a discernir é consolar.

*Nena Galves é dirigente do Centro Espírita União, em São Paulo.