O perfume da experiência

juliana.jpg

Não estava nos planos de Juliana Ferezin Heck ser escritora. Até ela passar por uma marcante experiência, que a levou a escrever O perfume de Helena (Correio Fraterno). Com apenas dois meses de lançamento, o livro já ganha nova impressão. Leia abaixo a entrevista.

Como surgiu a ideia do livro?

Usei a escrita como um processo de autoconhecimento para poder enfrentar o luto pela minha filha recém-nascida. Neste período, conheci um grupo de apoio às mães que sofreram perdas neonatais ou gestacionais, para o qual passei a escrever uma coluna mensal. Foi quando comecei a ter contato com várias mães enlutadas, que traziam a perda da fé em Deus e uma busca incessante por culpados. Senti então necessidade de transformar o que vinha escrevendo em algo instrutivo, consolador.

Dizem que diante da dor da perda o tempo é o melhor aliado. É isso mesmo?

Não acredito que o tempo cure tudo. Mesmo porque tive contato com mães que vivem o luto por seus filhos há anos sem compreender o ensinamento que a dor pode proporcionar. A fé é nossa maior aliada. O tempo passa e a saudade deixa de doer, mas sem a compreensão do Evangelho, da reencarnação e da esperança de reencontrar minha filha, eu não teria superado uma dor tão grande.

Como o espiritismo ajudou vocês passarem por esta experiência?

A princípio nos sustentando através de uma equipe de amigos, nossos colegas da casa espírita. Durante o período em que Helena ficou na UTI Neonatal, a dor era imensa e muitas vezes o desânimo tomava conta de nós dois. Mas nunca deixamos de fazer o Evangelho no Lar...e eram nessas noites que encontrávamos muitas respostas. Utilizamos todas as ferramentas que conhecíamos: o passe, a água fluidificada, a música e o atendimento fraterno. Digo que nos preparamos para este momento ao longo de nossos trabalhos na casa espírita e com a gestação e nascimento da Helena, tivemos oportunidade de colocar tudo em prática.

O que você diria para aqueles que neste momento também passam pela dor?

Diria para não se afastarem de Deus, para não duvidarem do seu propósito de amor e para lembrarem que uma tempestade nunca dura para sempre. Os dias claros são em maior número e a chuva é necessária. Assim é nossa vida: cheia de dias felizes, mas a dor ainda se faz necessária para nos ensinar. Diria também para não se preocuparem com os que insistem em colocar prazo para o seu sofrimento acabar, os que para consolar dizem que "foi melhor assim". Ouçam os que se propõem a ajudar com conselhos pautados no Evangelho e não em "pontos de vista".


É importante estarmos abertos para receber ajuda, mas só nós sabemos quanto tempo precisamos para entender toda a lição. E, claro, viver na raiva, na amargura e na tristeza sem fim apaga qualquer lembrança feliz daqueles de quem tivemos que nos despedir. Ninguém gostaria de ser lembrado pela dor que causou. Ficar relembrando só o sofrimento que passamos juntos, não seria justo com Helena!

(Publicado no jornal Correio Fraterno Edição 476  julho/agosto 2017)

 

 

Correio.newsComentário