Projeto internacional Sembradores de Luz

Por Eliana Haddad

Com o propósito de convergir esforços, recursos e ações conjuntas na promoção do estudo, prática e divulgação da doutrina espírita junto aos educadores, às crianças, jovens e famílias, um grupo de educadores espíritas de diversos pontos no mundo está à frente do projeto Sembradores de Luz, que reúne virtualmente participantes de 15 países.

A educadora Claudia Werdine, uma das idealizadoras do projeto, com sua vasta experiência internacional em instituições espíritas, chama a atenção quanto à importância da participação de educadores e dos pais para viabilizar esse projeto, a fim de que diferentes nações possam receber, em caráter de urgência, recursos que proporcionem a compreensão adequada dos conhecimentos espíritas e se intensifique o aprimoramento moral que conduzirá à transformação social por meio do trabalho no bem.

O que é e como surgiu o Sembradores de Luz?

O Sembradores de Luz é uma associação espírita virtual em quatro idiomas (espanhol, francês, inglês e português) que opera como um grupo de apoio aos educadores para a infância e juventude, assim como oferece às famílias recursos que possibilitem uma melhor qualidade na relação familiar.

Nossa associação surgiu há dois anos por conta da união de oito educadoras espíritas radicadas em diferentes países, no desejo de suprir as necessidades dos educadores espíritas e das famílias, em âmbito internacional, já que existe uma enorme carência de material e de formação de educadores que abarque com eficácia as diversas culturas, linguagens e realidades.

Decidimos, então, criar um grupo virtual para minimizar essas carências e promover um avanço na divulgação e implantação da educação espírita infantojuvenil nas instituições espíritas no mundo, além da criação de estudos com os pais no mesmo horário.

Quais os maiores desafios enfrentados para a divulgação mundial do espiritismo por meio da educação?

 Creio que sejam principalmente o grande desconhecimento por parte dos próprios espíritas sobre o valor da educação espírita e a importância de se educar as novas gerações para a era da regeneração.

Vivenciei com tristeza, durante esses quase 16 anos dedicados à educação espírita no exterior, a recusa dos dirigentes espíritas em acolher crianças e jovens em sua instituição. Grande parte dessa situação se dá por falta de conhecimento a respeito do que é a educação espírita (a chamada evangelização, no Brasil) e de sua importância na vida das crianças e dos jovens.

Outro ponto de igual relevância e que constitui um grande desafio é a falta de material nos diferentes idiomas. E  Não podemos criar um modelo padrão e querer implantá-lo no exterior, já que cada país possui sua cultura, seus valores, sua história, sua linguagem, enfim, suas peculiaridades. A proposta básica do Sembradores de Luz consiste em oferecer materiais adaptados para atender a essa diversidade.  

Em sua experiência, como analisa o espiritismo no mundo?

Tenho refletido muito a respeito disso, buscando compreender o momento atual que o espiritismo atravessa e, principalmente, procurando descobrir como posso contribuir de maneira mais efetiva.

Não falo somente do ponto de vista das dificuldades na divulgação do espiritismo no mundo, seja por falta de material nos diferentes idiomas ou a ausência dos nativos nas instituições espíritas. Precisamos refletir de maneira abrangente sobre o movimento espírita e, consequentemente, sobre a doutrina.

Creio que o espiritismo atravessa uma etapa em que necessitamos nos recolher intimamente, avaliar criteriosamente a nossa postura diante da vida, das responsabilidades que nos cabem como espíritos imortais e do compromisso necessário com a vivência dos ensinamentos do mestre Jesus à luz da doutrina espírita. Antes de estarmos preocupados em divulgar o espiritismo para os outros, devemos inseri-lo em nosso interior. Precisamos sair da teoria e passar à ação, divulgar o espiritismo pelo nosso exemplo.

Por que a preocupação com crianças e jovens nesse processo?

A essência do espiritismo é a educação do ser imortal e encontramos na codificação espírita diversas informações oferecidas pelos espíritos superiores quanto à importância da fase infantil para o desenvolvimento do senso moral, antídoto fundamental contra o egoísmo, a falta de empatia, a violência que, com muita tristeza e preocupação, ainda observamos nos lares e, consequentemente, na sociedade.

O ritmo da renovação social será de acordo com nossos esforços, como educadores e pais, na formação do homem de bem, iniciando o labor ainda no ventre materno.

Quais materiais e recursos são necessários e o que está sendo disponibilizado?

É muito importante gerar ações que possibilitem que todos acessem os livros da codificação espírita. Alguns poderão pensar agora: mas os livros estão disponíveis na internet! Acontece que nem todos possuem acesso à internet.

Durante quase 15 anos, fiz parte do Conselho Espírita Internacional, trabalhando na área da educação espírita infantojuvenil e família e tive a oportunidade de visitar inúmeros países, a fim de realizar seminários, conferências e treinamento de educadores. Em algumas dessas viagens, encontrei realidades jamais imaginadas.

Numa viagem ao interior de um país da América do Sul encontrei um centro espírita extremamente pobre (mas rico de trabalhadores espíritas), onde existia somente um exemplar de O livro dos espíritos, que permanecia um mês em cada casa para que pudessem ler. Lá não existia internet para acessarem o livro eletrônico. Quando perguntei à educadora como trabalhava com as 15 crianças que ali existiam, disse que se sentavam no chão, embaixo da árvore, e então ela falava de Jesus e de seus ensinamentos.

 Há algum método de maior eficiência que o educador espírita possa utilizar em diversos países?

Devido à diversidade sociocultural, linguística, não há um método único que atenda às necessidades dos países. O mais importante nesse caso não é o método em si, mas a formação básica e continuada do educador. Um educador preparado adequadamente, comprometido com o estudo doutrinário, que busca constantemente seu aperfeiçoamento na tarefa, saberá escolher o método mais eficaz para seu público infantojuvenil.

 Como funciona a ajuda do Sembradores nos diversos países do mundo?

 Os materiais e recursos são diversificados, pois cada país – às vezes cada centro espírita de um mesmo país – , apresenta necessidades distintas.

Temos buscado oferecer materiais para a formação básica do educador, como também sugestões de roteiros de atividades, já com algumas adaptações e recursos pedagógicos, tanto para uso virtual como presencial. Também disponibilizamos materiais específicos para os pais, a fim de auxiliá-los quanto aos desafios familiares. E, por fim, promovemos encontros virtuais para a juventude, com estudos e reflexões direcionados a essa faixa etária.

Estamos trabalhando na realização do 1º Fórum Internacional de Educadores e buscaremos, junto aos educadores, por meio do intercâmbio de ideias e experiências, a melhor maneira de tornar nossa ajuda mais efetiva.

Como é possível participar e ajudar nesse projeto?

Todos são muito bem-vindos ao Sembradores de Luz!

Atualmente, contamos com 46 voluntários de 15 países, divididos em seis departamentos: educadores, infância, juventude, família, idiomas e plataformas digitais.

Cada um desses departamentos apresenta funções específicas, desde trabalhar na produção de materiais, na organização dos eventos, na tradução dos materiais, na publicação no nosso website e na divulgação nas redes sociais.

O trabalho é árduo, além de desafiador, por ser oferecido em quatro idiomas. Assim, toda participação é válida, podendo contribuir dentro de suas habilidades, disponibilidades de tempo etc.

Em sua opinião, o espiritismo está sendo buscado em outros países que não o Brasil? Por quê?

O espiritismo no mundo apresenta um grande número de adeptos, mas ainda estamos longe do que necessitamos alcançar, além de encontrarmos distintas facetas. Nos países latino-americanos e outros de língua espanhola, por exemplo, o movimento espírita é composto por nativos. Por outro lado, na Europa, o espiritismo ainda é buscado principalmente por brasileiros e tem sido um grande desafio despertar o interesse dos nativos.

Precisamos avaliar a situação, refletir e traçar novos rumos, a fim de avançarmos com mais efetividade. Com compromisso, humildade e vivência dos ideais espíritas, não tenho dúvidas de que pouco a pouco avançaremos.

Acredita que estejamos passando por uma nova fase em termos de divulgação espírita?

Sem dúvida, e é extremamente necessário sabermos identificar o joio e o trigo. Em relação à divulgação virtual, encontramos bons materiais e outros, infelizmente, nem tão bons ou adequados, como em todo processo em que não houve um preparo ou amadurecimento anterior.

E para os jovens, qual a saída? O que pode oferecer a eles o projeto Sembradores de Luz?

Desde o início do projeto, os jovens ocupam um lugar muito especial, pois já há algum tempo estamos acompanhando com preocupação sua evasão da casa espírita.

Estamos trabalhando arduamente para lhes oferecer um espaço de estudos, orientação, suporte e esclarecimento, assim como um canal de divulgação de atividades e projetos realizados pelos jovens espíritas em todo o mundo.

A fim de oportunizar a criação de uma comunidade internacional composta por jovens espíritas, já realizamos dois encontros internacionais com tradução simultânea e agora em outubro o  miniencontro com jovens de língua portuguesa e espanhola. Nosso objetivo é promover esses miniencontros durante o ano, sempre em dois idiomas, e realizar um encontro internacional anual nos quatro idiomas.

Como vê o futuro do espiritismo no mundo e qual será o papel do educador espírita?

Vivendo atualmente num país do Golfo Pérsico, estou tendo a oportunidade de estudar o islamismo e é fascinante como temos pontos em comum. Em razão disso, tenho refletido bastante não somente sobre o futuro do espiritismo, mas também sobre o futuro de todas as religiões. Creio que por meio da educação nos transformaremos e no futuro haverá somente uma religião, aquela que unirá a nós todos pelo amor, pelo respeito e pelo bem comum, independentemente do rótulo.

Marcaram-me profundamente as palavras de Dalai Lama, em uma narrativa de Leonard Boff, quando perguntou qual seria a melhor religião, esperando que ele respondesse o budismo tibetano ou outras religiões orientais: “A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus. É aquela que te faz melhor. A que te faz mais compassivo; que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável”, disse ele.

E qual será o papel do educador? Trabalhar incessantemente na sua autoeducação, a fim de ser, em qualquer lugar e a qualquer hora, um elemento de influências positivas, um polo de transformação do ambiente em que esteja, pois todos somos educadores, onde quer que estejamos, pelo nosso exemplo.


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