Uma janela “mal-assombrada”

Por Izabel Vitusso

A vida de Maria Augusta Puhlmann (1902 – 1983) e de sua filha Nancy Puhlmann de Girolamo (1924 – 2018)  se misturam com a história de uma das casas espíritas mais antigas de São Paulo, a Instituição Beneficente Nosso Lar, que há quase 80 anos desenvolve um expressivo trabalho social; primeiramente, junto às crianças órfãs, passando depois para o  atendimento às pessoas com deficiências múltiplas e intelectuais.

A casa foi fundada em 1946, sendo Maria Augusta e sua cunhada Nair Ambra Ferreira as iniciadoras do projeto, junto de inúmeras trabalhadoras que iam se achegando ao movimento espírita da época.

Mas, quando elas ainda nem se conheciam, tampouco eram espíritas,  aconteceu um fenômeno na casa de Maria Augusta que deixou todo mundo alvoroçado. Ela já era casada com Oscar Puhlmann, de origem alemã e luterana. 

Naquele dia, Alcides, irmão de Maria Augusta, estava junto à família. Era o tio que as crianças adoravam, por sua imaginação, seus contos improvisados,  sua criatividade artística. De certa forma, porém, também era temido, por saberem que, na presença dele, as luzes se acendiam e se apagavam sozinhas e ruídos estridentes podiam ser ouvidos pelo ambiente.

Mas o fato que ocorreu naquela manhã foi muito além. Reunidos na sala, todos puderam ver quando a parte móvel do janelão antigo da casa começou a se deslocar vagarosamente, enquanto as pesadas dobradiças caíam ao chão. Também viram quando a grande parte da janela foi se colocando entre o encosto da cadeira e as costas de Alcides. A família acompanhou atônita quando a parte angular da janela foi sendo dirigida para a parede, raspando-a e deixando ali um grande rombo, mas sem produzir um ruído sequer.

Foi quando Oscar, quebrando o silêncio e despertando o olhar dos presentes para a realidade, disse:

— É você, Alcides. Você é médium de efeitos físicos. Eu já te disse. Os espíritos estão chamando a nossa atenção para a presença deles.

Oscar já vinha estudando o assunto através das obras clássicas do espiritismo. Além de Allan Kardec, já havia lido Camille Flammarion, Gabriel Delanne, Ernesto Bozzano, Léon Denis. Estudara também Charles Richet e Willian Crookes.

Parentes luteranos, amigos esotéricos, um padre, um pastor evangélico, vizinhos curiosos, todos de alguma forma queriam ver de perto o local da comentada ocorrência.

A partir daquele dia, Alcides ingressou nos estudos junto com seu cunhado, Oscar. Também Maria Augusta, em busca de tratamento de saúde, procurou um médium de que lhe haviam comentado, o sr. Castro, do Centro Espírita Padre Germano, onde aos poucos também foram surgindo aqueles que ajudariam na fundação da Instituição Beneficente Nosso Lar e a construir a sua linda história. Ibnossolar.org.br

Bibliografia Olhai as aves do céu, Maria F. Puhlmann e Nancy P. Di Girolamo, ed. Batuíra, 1992.