Correio.news

View Original

Qual a importância do autoconhecimento?

Por  Eliana Haddad

Aprofundando-se na temática do autoconhecimento, a filósofa Astrid Sayegh mostra que é possível encontrar formas de exteriorizar, manifestar potenciais. A felicidade, assim, seria um processo, cabendo a cada um mobilizar forças e sentimentos para tirar de si mesmo aquilo que não imaginava possuir.

Único ser livre no universo, o Espírito precisa agir com conhecimento de causa, não havendo nada mais reconfortante que saber que sua libertação também está em suas mãos. Para tanto, é preciso conquistar o autodomínio e é justamente do que trata o livro Como renovar atitudes? (editora Correio Fraterno). Vale a pena acompanhar a autora.

Em que seu livro se diferencia com relação à temática do autoconhecimento, tão enaltecida no meio espírita?

Eu não diria que se diferencia da temática enaltecida pelo meio espírita, mas trata-se de uma abordagem antes filosófica. Sob esse prisma o autoconhecimento não é apenas a consciência de nossos defeitos, mas a consciência da essência que nos habita, da presença do Ser em nós, no que ela tem de infinito e não de limitação, no que ela possui de qualidade interior a se multiplicar e não imperfeições. Autoconhecer significa "existir" como afirma Herculano Pires, e não apenas "viver". Existir consiste na mundivivência com consciência do porque de nossas condições existenciais, nossa destinação e sobretudo o significado de nossa existência. Não basta viver, importa existir de forma autêntica e liberta.

Como é possível a renovação de atitudes?

Não temos a pretensão de oferecer uma fórmula pronta e acabada, mas renovar siginifica viver o novo dentro de si mesmo. Renovar atitudes não consiste, portanto, apenas em mudanças de hábitos e regras, mas adequar-se ao senso divino, ao senso moral interior através da educação do modo de sentir e de pensar.

O espírita fala muito sobre reforma íntima. Por que é tão difícil essa transformação?

Primeiramente julgo que a expressão "reforma" não é tão precisa, uma vez que não se trata de descontruir para construir novamente. Não se trata de negar nada, mas antes de afirmar a substância, a presença divina em nós. Trata-se de uma postura ativa da alma de liberar o interior de forma liberta, e não reprimir atitudes exteriores. A repressão não educa, condiciona; já a renovação interior é uma consciência moral pautada na adequação ao sentido espiritual, à causa imanente em nós, e que será, portanto, geradora dos efeitos e de atitudes. É assim que afirma Jeusus, “buscai primeiramente o reino de Deus e o resto vos virá por acréscimo”.

Qual seria a melhor receita? Quais passos você recomendaria?

Não utilizaria o termo receita, pois sugere regras para algo pronto e acabado; trata-se antes de algo a ser descoberto dentro de si mesmo, uma edificação interior. O primeiro passo é querer sentir o amor, fonte de toda conduta e da palavra...

Hoje há tantos livros de autoajuda. Em sua opinião, essas obras realmente nos ajudam? Por quê?

A autojuda, conforme o próprio termo, ajuda, mas não nos parece resolver profundamente, pois a compreensão filosófica da substância divina, do itinerário do ser, do princípio imanente é que permite a compreensão pela razão, e portanto pela lógica o processo de educação de dentro para fora, e não de fora para dentro; e desse modo o indivíduo passa a liberta-se por si mesmo, de forma autônoma, porque compreendeu, e não porque foi consolado. Filosofia, como costumo dizer, é educação para a liberdade, para a autonomia de ser e de pensar.