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O encontro espiritual de Herculano Pires e Raymundo Espelho

Por  Heloísa Pires


Izabel Vitusso enviou-me o livro que seu pai, Raymundo Espelho, escreveu, sintetizando o pensamento de Herculano. Fiquei encantada... Espelho conseguiu o que não é fácil; exige uma visão geral da obra: apresentar os pontos importantes da compreensão de Herculano sobre a vida, a morte, a doutrina espírita, a caridade, a gratidão...


Obrigada, Espelho.


Herculano exemplificou a necessidade e a possibilidade da soberania do homem sobre si mesmo, lembrando que a consciência humana é autoridade suprema e deve dirigir o homem; Deus, o criador, concedeu-nos essa soberania.


Mas, lembra o 'personagem' principal do livro de Espelho, o indivíduo precisa da expressão do verdadeiro Amor, exemplificado por Jesus, para realizar a sua evolução. O Amor que é "o clarim que desperta o ser para a existência... arrancando-o do não ser".


O indivíduo desenvolve a sua responsabilidade aprendendo com Jesus e na reapresentação de Kardec, a amar o próximo, começando educando-se, ao cônjuge, aos filhos e exemplificando à sociedade o auxílio que conseguiu na transformação no 'homem novo'; e esse homem constrói um mundo novo, o sonhado, o reino de Deus, "cujos fundamentos são: Deus, Amor, Justiça...". Não conseguiremos esse caminhar em direção à luz sem a compreensão do Consolador Prometido, trazido por Jesus e reapresentado em O evangelho segundo o espiritismo e nos livros indispensáveis de Allan Kardec...


Espelho exaltou o respeito de Herculano ao ex-druida reencarnado, dizendo e escrevendo sempre que a obra de Allan não foi suficientemente estudada e que não podemos falar em superação quando não houve compreensão. Dizia que não existe na Terra alguém com autoridade intelectual ou moral para julgar-se capaz de apresentar "a arte de bem viver exemplificada por Jesus" melhor do que o mestre de Lyon... Explicava que Kardec não reencarnara ainda por não ter encontrado condições espirituais melhores para completar o seu trabalho... Caberia aos espíritas essa contribuição à construção de um mundo melhor...
E Espelho continua a analisar com muita propriedade o pensamento do meu querido pai, lembrando que Emmanuel dizia que "Herculano é o metro que melhor mediu Kardec", como Nena Galves explica em seu primeiro livro sobre o querido médium Chico Xavier: Até sempre, Chico.


A amizade, o respeito entre Chico e Herculano demonstra a compreensão dos dois espíritos sobre a necessidade de união no trabalho de Kardec que, assessorado pela equipe do Espírito Verdade, apresenta o Consolador Prometido como libertador de fragilidades espirituais e possibilidade de auxiliar o aparecimento de uma nova geração mais desenvolvida espiritualmente. O pensamento de Herculano sobre o paranormal Chico Xavier aparece também em um trabalho lindo que Herculano realizou para a revista Planeta. Espelho lembra ainda os vários livros que Chico e Herculano escreveram juntos.


Sobre a caridade, apresentada em O evangelho segundo o espiritismo como a chave para a nossa libertação das paixões inferiores, o pai explica em O centro espírita a importância desta virtude no atendimento a encarnados e desencarnados num processo educativo que cuida também das necessidades materiais. A preocupação é educar o indivíduo, torná-lo forte, consciente, digno; mas muitas vezes é preciso dar o pão e o cobertor para depois ensiná-lo a importância da sua ligação mental com a espiritualidade superior... Em um artigo muito bom publicado em um congresso de jornalistas espíritas, "Por uma tomada de consciência", o professor pede aos espíritas que continuem a atender às carências físicas, mas que não esqueçam que as carências do espírito precisam ser sanadas através do "conhecimento que nos libertará"...
Pede que considerem a importância do livro e que organizem eventos para a publicação de livros, jornais e revistas espíritas... Herculano não esquecia o "cuidai do corpo e do espírito..."


Minha mãe, Virginia, dizia sempre que o pai era coerente, vivia de acordo com o que pregava; que era uma rocha demonstrando uma fé raciocinada e profunda em Deus, o criador, o Pai amoroso apresentado por Jesus na Parábola do Filho Pródigo...


O casal demonstrou sempre amor, desapego respeitoso aos bens da Terra, compreensão da possibilidade de evoluirmos em cada encarnação e responsabilidade na divulgação do espiritismo.
Agradeço a Deus os pais que me auxiliaram na presente encarnação.
Com propriedade e autoridade o filósofo, analisa a importância da família no auxílio ao desenvolvimento do reencarnante. Lembra que "educar é um ato de amor; os adultos que não amam deseducam" e por toda a nossa infância, juventude e maturidade, fomos e continuamos envolvidos pelo amor desse casal maravilhoso.


Aprendemos com o professor, como lembra Espelho, a agradecer a Deus a bênção da existência, o auxílio espiritual que recebemos, sobretudo quando fazemos por merecer... Esse estado espiritual de gratidão, segundo os Vedas e o pai, cientificamente falando, produz em nós uma alegria que nos auxilia a amarmos e respeitarmos o próximo.


A importância da família na recepção ao reencarnante e na estimulação, fruto do amor possibilita a transformação do arbusto frágil em árvore frondosa que oferece ao mundo sua sombra, suas flores, seu perfume. Criança abandonada, órfã de pais vivos, continua arbusto frágil, que muitas vezes só pode oferecer a sua agressividade, sua decepção com o mundo que criamos, mas que vamos transformar no "reino mais belo, mais justo e mais fascinante, o reino implantado por Jesus...", lembra o grande espírito.
Espelho recorda que Herculano escreveu sobre a necessidade de educarmos para a morte. Como sempre, coerentemente prova que estava preparado. E, como diz o mestre Kardec, morremos de acordo como vivemos: tranquilamente se vivemos com tranquilidade, amando e auxiliando o próximo, ou com muitas dificuldades, incapazes de abandonarmos o magnífico instrumento de trabalho, que é o corpo físico, que tem prazo de validade que deve ser respeitado. Herculano desencarnou como sempre vivera: lúcido, na certeza de que continuava mais vivo do que nunca, de que a vida prosseguia em bases melhores, com a possibilidade de amar e auxiliar ainda mais dilatada. Aos que duvidam da possibilidade de manter a lucidez após a grande viagem, basta ler O céu e o inferno, de Allan Kardec, ou o romance de André Luiz, Obreiros da vida eterna. André narra vários casos de desencarne, inclusive o de uma senhora que, doente, parte lúcida, consciente para o plano espiritual, preparada que estava pela vida útil que desenvolvera quando encarnada... A morte não existe, somos imortais, somos deuses e luzes e o Consolador Prometido vem nos auxiliar a encontrar o caminho iluminado por Jesus...


Obrigada, Espelho, por compreender tão bem a doutrina espírita, por exemplificar essa compreensão em uma vida digna e idealista dedicada à divulgação da Verdade, na exemplificação, no Correio Fraterno e nos livros que continua a escrever...

 Prefácio do livro O pensamento de Herculano Pires, que reúne quase 400 verbetes, retirados de suas obras espíritas.