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Reflexões sobre a fé na visão espírita

Por Fernando de Oliveira Porto*

Toda  fé deve produzir frutos, do contrário, não seria fé. Em geral, quando as pessoas pensam em fé, logo lhes vem à cabeça a crença, o quanto são capazes de ‘acreditar’ em alguma coisa. Isso se deve a séculos e séculos de dogmas, teologias e doutrinas que influenciaram o nosso modo de pensar, sentir e agir.

O espiritismo nos ensina que a fé é um instinto espiritual, um princípio da natureza, presente em todas as pessoas, quer tenham consciência disso ou não. Em O evangelho segundo o espiritismo 1, os Espíritos superiores nos ensinam que “a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas depositadas em gérmen no seu íntimo, a princípio em estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e cresçam pela ação da sua vontade”.

Por sua vez, Emmanuel na obra Pensamento e vida 2, ressalta que a fé “é força que nasce com a própria alma, certeza instintiva na Sabedoria de Deus que é a Sabedoria da própria vida.

Como podemos observar, embora a fé seja uma concessão divina a todos indistintamente, ela depende totalmente do homem para o desenvolvimento das suas próprias potencialidades. 

O apóstolo Paulo, em sua segunda epístola aos tessalonicenses, aponta que a fé não é de todos, pois há homens dissolutos e maus, indispostos, portanto, a uma transformação moral. A teologia interpretou equivocadamente, assim como em outras passagens da escritura, que nem todos estão predestinados à redenção espiritual, como se Deus escolhesse previamente aqueles que seriam salvos. 

Se fosse dessa forma, e esse não foi o propósito do apóstolo, ao homem não poderia ser atribuído o mérito pelas boas obras que faz e, por conseguinte, não teria o demérito pelo caminho tortuoso escolhido. Onde, então, a justiça?

Léon Denis nos esclarece em sua obra Depois da morte3, no seu capítulo “Fé, esperança, consolações”, que “a fé é a confiança da criatura em seus destinos, é o sentimento que a eleva à infinita Potestade, é a certeza de estar no caminho que vai ter à verdade.” 

Dessa afirmação, constatamos que a fé é algo que nasce no interior para manifestar-se no exterior. Logo, a fé produtiva— pois há aquela da figueira estéril— significa exatamente que os frutos dão testemunho da árvore, ou seja, se há bons frutos é porque a árvore é boa e, se o coração do homem irradia a fé no Criador e em si mesmo, sua vida será um testemunho desta fé. 

Portanto, cabe a cada um de nós estimular o brotar dessa fé em nossos corações, como uma verdadeira fonte inestancável de água viva, usando do concurso da oração para nos fortalecermos nessa fé, manifestando-a em ações no bem perante o próximo. Somente assim os frutos do espírito prevalecerão sobre os interesses da carne e nossa vida proporcionará uma colheita de bênçãos na vida de todos.  

O que disse Herculano Pires
Fé cega – “O homem que crê sem indagar, sem compreender nem querer compreender, está sujeito às mesmas dolorosas surpresas daquele que não crê”.

Fé e razão – “O ato de crer é emotivo e antecede à razão. A fé nascida da crença é sugestiva e, portanto, emocional. Pode levar-nos à paixão e ao fanatismo, gerando os monstros sagrados dos torturadores e assassinos a serviço de Deus.”

Fé espírita – “A fé espírita, como dizia Kardec, é iluminada pela razão, mas a razão espírita é iluminada pela fé, de maneira que não pode ser confundida com a razão cética. Enquanto esta é espiritualmente estéril, a razão espírita é espiritualmente fecunda, abrindo para a mente humana perspectivas cada vez mais amplas de compreensão do homem, do mundo e da vida. A fé espírita é uma conquista racional. Porque o espírita não pode crer pela crença, mas deve crer pela compreensão.”

Do livro O pensamento de Herculano Pires, de Raymundo Espelho (Ed. Correio Fraterno) (Redação)

  1. Allan Kardec,  capítulo 19, FEB.

  2. Psicografia de Francisco Cândido Xavier, capítulo 6, FEB.

  3. FEB Editora.

*Psicólogo, diretor do departamento de atendimento espiritual da USE-SP.