O respeito às diferenças. O segredo do sucesso no lar
Por Suely Abujadi*
Uma das perguntas feitas ao Chico Xavier, extraída do livro "Lições de Sabedoria", é interessante: “Qual o mecanismo ideal para atingir a paz e a segurança entre os familiares vinculados à mesma casa e ao mesmo nome?”
A resposta do Chico esclarece que para se equacionar este problema é interessante esquecer a afeição possessiva, a ideia de que um pertence ao outro. Quando o respeito circular entre os membros da família, “cada qual procurando trabalhar e servir, mostrando sua própria habilitação” é possível obter o rendimento dentro da vocação que cada um escolheu.
O desenvolvimento do apego não ocorre somente dos pais para o filho, o recém-nascido também é programado com forças vitais (capacidades e respostas) para ir ao encontro de sua mãe e seu pai. Segundo os pesquisadores, entre eles T. Berry Brazelton (1988), metade da tarefa de apego é realizada pelo bebê.
Entre os mamíferos, o bebê humano possui o mais longo período de dependência. Ele precisa dos cuidados maternos e paternos para a sua própria sobrevivência, o que propicia o aparecimento do apego dos pais para o filho e do filho para os pais.
O desenvolvimento do bebê, inicialmente dentro do lar, lhe permite expandir-se, buscando afeto, segurança, alimento, e precocemente já começa a ouvir o que é e o que não é da sua competência. As noções de limite vão surgindo em torno dos 7 e 8 meses, quando começa a manifestar a sua descoberta de ser diferente do pai e da mãe.
Porém, muitos casais, devido às diferenças de modelos familiares, padrões culturais e religiosos, manifestam em seu relacionamento a dificuldade em lidar com os valores um do outro. Quando entre o casal existe um relacionamento de competição, a criança desenvolve um jeito especial para obter ganhos, tanto do pai quanto da mãe, uma vez que é capaz de detectar a fragilidade do casal. Exemplos não faltam como: birra (principalmente no supermercado), rebeldia, agressividade (mordidas no amiguinho, no irmãozinho), depressão (criança quietinha, que não brinca), exigências, etc.
Outro fato a considerar é o que ocorre com pais que acabam tendo filhos que não foram programados e inconscientemente foram indesejados. Muitos chegam a verbalizar o quanto é difícil mantê-los e prestar-lhes os cuidados necessários para o seu crescimento. A criança, nesses casos, também pode se manifestar, expressando uma tristeza embutida no seu olhar, ou uma agressividade em seu comportamento.
A falta de atenção para as necessidades específicas do filho permite que este se desenvolva, ficando preso em alguns pontos nas diversas fases do seu desenvolvimento. Sai da infância, levando consigo as dificuldades de enfrentamento em determinadas áreas, como leitura, matemática, o brincar, fazer amigos, o entendimento das regras da casa, rebeldia na escola, etc. Para não falar aqui das drogas e álcool na adolescência.
Nem sempre os pais entendem o que acontece. Hoje, a mulher trabalha fora e não pode acompanhar o filho nas suas diversas atividades. O pai também, primeiramente porque a função de provedor da casa o absorve e traz normalmente a forte cultura de que essas atividades são de competência da mulher, ou ainda tem a lembrança de seu pai não tê-lo acompanhado nos diversos programas de sua vida.
Pais e mães competentes são cuidadores. Exercitam o amor ao filho. Preocupam-se com o banho do bebê, em trocar as fraldas, brincam, jogam bola, passeiam no parque, no circo, contam histórias... Participam da vida escolar do filho e também dos cuidados da saúde, levando-o ao médico, quando necessário. Estes pais cuidadosos, amorosos, que colocam o limite de forma clara e na hora certa, estão conscientes de sua participação na formação da personalidade daquele espírito que lhe foi confiado.
Pai e mãe podem aprender, estar disponíveis para entenderem as dificuldades do filho e auxiliá-los a descobrirem o seu potencial, a sua habilidade, respeitando a vocação escolhida no plano espiritual. Dessa forma, o amor circulará entre todos.
Mas, à medida que o filho cresce, é necessário que o apego diminua para que ele possa atravessar a adolescência com vigilância e avançar para o mundo do adulto com segurança.
Entre o casal, homem e mulher precisam valorizar a função um do outro, como pai e mãe respectivamente, e se auxiliar mutuamente para que o filho cresça com as noções claras do seu novo papel no mundo, com afeto e segurança, apoiado pelos pais desta vida.