O progresso da inteligência artificial
Por Ademir Xavier
O desenvolvimento da tecnologia, em especial dos computadores e programas, criou produtos nunca imaginados. Muitos serviços se somaram à lista de tarefas tipicamente realizadas por humanos que foram substituídas por máquinas. Recentemente, um termo tem apavorado ainda mais a sociedade: a inteligência artificial (IA).
Realizar traduções simultâneas, compor sonetos, criar textos a partir de temas escolhidos, criar música, corrigir erros gramaticais, prospectar leis e sintetizar sentenças. Tais são algumas das tarefas que robôs de IA podem realizar sem muito esforço. A necessidade de criar e aprender uma língua universal, por exemplo, é consideravelmente reduzida, porque ela permitirá a comunicação instantânea de todos em seus próprios idiomas.
Como podemos entender essas possibilidades e o impacto para a economia da sociedade, em particular, no mercado de trabalho e na redução da disponibilidade de empregos?
Seria possível prever uma época em que todas as atividades humanas seriam substituídas por máquinas?
A Lei do progresso
Esses novos avanços são esperados conforme a “Lei do progresso”, como descrito no capítulo 8 de “O livro dos espíritos (questões 779-785), principalmente no sentido de melhorar a vida humana, libertando o indivíduo de tarefas repetitivas e mentalmente exaustivas. É preciso lembrar que os primeiros sinais de substituição de trabalho humano aconteceram com a revolução industrial e a invenção da máquina a vapor (a invenção da imprensa foi uma automatização ainda anterior). Embora não seja uma liberação de trabalho físico, os serviços de IA apenas aumentam a lista de tarefas automatizadas, reduzindo o cansaço mental e aumentando a eficiência dos resultados.
Evolução intelectual e evolução moral
Existe uma relação, sutil e ainda pouco apreciada, entre a “evolução intelectual” e a “evolução moral”. Essa relação, por exemplo, pode ser inferida a partir de parte da resposta à questão 781, que trata da possibilidade de se “obstar a marcha do progresso”. A isso, os Espíritos respondem com a negativa e complementam: “Assim será, até que o homem tenha posto suas leis em concordância com a justiça divina, que quer que todos participem do bem, que sejam abolidas as leis feitas pelo forte em detrimento do fraco.
”Será possível, assim, obstar a “marcha da IA” e tentar conter seus efeitos?
Segundo a relação entre intelecto e moral, a resposta é “não” e quase sempre a motivação para o atraso está no “orgulho e no egoísmo” ( questão 785).
Além disso, conforme a resposta à questão 783 “...quando, porém, um povo não progride tão depressa quanto deveria, Deus o sujeita, de tempos a tempos, a um abalo físico ou moral que o transforma”. As transformações na ordem dos serviços e tarefas intelectuais criadas por IA podem fazer parte dessas revoluções que vêm para aumentar o ritmo do progresso e fazer concordar a moral com o intelecto.
São inegáveis os benefícios do uso de IA no desempenho e agilização dos serviços. Resta a questão: teria IA um limite?
A resposta é sim e, para compreendê-la, é preciso explorar um pouco como ela funciona.
Como surgiu a inteligência artificial
O conjunto de funções e processos que a caracteriza tiveram seu início no século 19, quando Carl F. Gauss estabeleceu as bases para regressão estatística e inventou um método para o “ajuste de curvas” em suas pesquisas em astronomia. Com esse método, seria possível gerar informação a partir de “aprendizado de dados”. IA, entretanto, somente progrediu bastante com o desenvolvimento dos computadores e, principalmente, processadores rápidos.
O termo “inteligência artificial” é, entretanto, um exagero. Não se trata de nenhuma “inteligência” no sentido “mental”, como a de seres humanos. Por mais que se sofistiquem as técnicas e se aumente a capacidade de armazenamento de dados, é evidente que IA extrai seu sucesso do incrível desempenho em realizar correlações estatísticas em processadores eletrônicos, o que nada tem a ver com inteligência real.
No limite do humano
Os limites de IA estão fortemente estabelecidos na capacidade única da mente humana, ou seja, do espírito, em criar informação que somente pode ser validada por humanos. Assim como na revolução industrial, ela é uma manifestação da “marcha do progresso” oriunda da própria revolução intelectual e tecnológica. Seu limite já está estabelecido em sua técnica, mas continuará a ser aplicada a inúmeros outros serviços. Como outras revoluções tecnológicas que virão, ela alterará a sociedade e suas relações de trabalho, criando, porém, um período de ajustes e dificuldades. Os avanços tecnológicos de IA não são inerentemente ruins. O são apenas quando aplicada sem planejamento e com egoísmo. Em essência, esses novos serviços aumentam a importância da educação, que deverá desenvolver intelectualmente o indivíduo, no sentido de torná-la útil à sociedade, sem prendê-lo à necessidade de executar tarefas repetitivas.
*Doutor em física pela Unicamp. Ademir Xavier é tecnologista na Agência Espacial Brasileira, em Brasília, DF.