Desequilíbrios pré-existentes do espírito
Por Eder Andrade
A crença em vidas passadas vem se fortalecendo cada vez mais, principalmente devido aos trabalhos de pesquisadores renomados, como foi o caso do psiquiatra e pesquisador Ian Stevenson e os relatos de diversas pessoas de diferentes continentes por ele entrevistadas ao longo da sua vida.1
A discussão central dos céticos e materialistas se dá pelo fato de não aceitarem a ideia de outras encarnações. Allan Kardec cita em O livro dos espíritos o motivo do esquecimento das vidas passadas, quando diz:
“Por que perde o espírito encarnado a lembrança do seu passado? Não pode o homem, nem deve saber tudo. Deus assim o quer em sua sabedoria. Sem o véu que lhe oculta certas coisas, ficaria ofuscado, como quem, sem transição, saísse do escuro para o claro. Esquecido de seu passado, o homem é mais senhor de si. 2
Estudando as informações de Kardec e o conhecimento científico e filosófico atual sobre reencarnação, percebemos que as lembranças de outras encarnações se esbarram também em uma questão de ordem moral. Seria conveniente lembrar das vidas passadas?
Em outras palavras, todos nós resistimos à ideia de sermos os verdadeiros responsáveis pelas dificuldades que enfrentamos no nosso dia a dia, assim como julgamos inverossímil a possibilidade de termos solicitado um grande testemunho, com objetivo de avançarmos na Escala Espírita.
Imaginem que um desequilíbrio que desperta em um dado momento da nossa caminhada de vida possa estar relacionado a algum tipo de excesso que tenhamos cometido em vidas passadas. Como explicar?
A dificuldade de aceitação não poderia estar relacionada a uma falta de embasamento e humildade em reconhecer a possibilidade de termos sido responsáveis pelo desequilíbrio que hoje reverbera no nosso mundo íntimo, produzindo algum tipo de doença?
Os sentimentos adoecidos da alma são responsáveis pela dor moral que quase todos somos portadores e que na grande maioria dos casos se apresentam sob forma de uma doença psicossomática.
No livro Ação e reação, o espírito André Luiz ouve uma explicação em uma conversa e nos deixa o seguinte relato:
“O pretérito fala em nós com gritos de credor exigente, amontoando sobre as nossas cabeças os frutos amargos da plantação que fizemos... Daí, os desajustes e enfermidades que nos assaltam a mente, desarticulando-nos os veículos de manifestação. Admitíamos que a transição do sepulcro fosse lavagem miraculosa, liberando-nos o espírito, mas ressuscitamos no corpo sutil de agora com os males que alimentamos em nosso ser. Nossas ligações com a retaguarda, por essa razão, continuam vivas”.3
O esclarecimento e a evangelização do espírito enfermo auxiliam no seu processo de moralização, autocura e principalmente de reforma interior.
Referências:
1 Ian Stevenson, Vinte casos sugestivos de reencarnação. Vida & Consciência.
2 Allan Kardec, O livro dos espíritos, 2a p., cap7. FEB.
3 Chico Xavier, Ação e reação, cap. 2. FEB.
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Professor de história e sociologia, frequentador do Centro Espírita Consolador, no Rio de Janeiro, RJ.