Catástrofes: O que Deus pretende com isso?
Por George de Marco
Domingo, dia 26/12/2004, o mundo assistiu, estarrecido, o maremoto que atingiu a Ásia, devastando cidades e ceifando milhares de vidas. A pergunta que mais se ouve numa ocasião destas é: Por quê? Principalmente nas questões religiosas, muito se interroga sobre as prerrogativas de Deus num momento como este. Seria fácil adotar a postura muito comum nestas horas de se dizer “por que Deus quis” e pronto. Mas a mente humana, cada vez mais ávida de respostas, não se contenta mais com algo tão superficial – e pior – uma resposta que deixa Deus numa postura masoquista.
O que se viu na Ásia foi uma cena real do que vimos no filme "O dia depois de amanhã", exibido nos cinemas ainda este ano. Não por acaso, a tsunami (onda gigante) do filme atinge Nova York: é uma crítica à falta de uma postura ambientalista do governo americano. Também não é por acaso a tragédia asiática. Três dias após o desastre natural, cientistas confirmaram a alteração que o terremoto causou no eixo de rotação da Terra.
Acompanhem o resumo que fiz do texto a seguir, publicado originalmente em 6 de janeiro de 1868:
“Além de seu movimento anual em torno do Sol, origem das estações, do seu movimento de rotação sobre si mesma em 24 horas, origem do dia e da noite, tem a Terra um terceiro movimento (...) e que produz o fenômeno denominado em astronomia de Precessão dos Equinócios (...) consiste numa espécie de oscilação circular (...) e por virtude da qual o eixo da Terra, mudando de inclinação, descreve um duplo cone cujo vértice está no centro do planeta”. (Em cerca do ano 140 da era cristã, Ptolomeu já descrevia este movimento). Ou seja, pode ser que a mudança de eixo tenha provocado o terremoto, e não o contrário. Segue o texto:
“Ainda não puderam ser determinadas com precisão as consequências deste movimento” (lembrando que o texto é do século 19) “a respeito, pois não há mais que presunções... O aquecimento e o resfriamento alternativo dos pólos... O deslocamento gradativo do mar... ainda certamente poderão produzir-se perturbações locais”. Mas, curiosamente, o mesmo texto adverte: “A Terra adquiriu uma estabilidade que (...) coloca o ser humano ao abrigo de perturbações gerais, a menos que intervenham causas desconhecidas”. A estas “causas desconhecidas” costumamos chamar de Vontade Divina.
Qual então o fim com que Deus fere a humanidade por meio de flagelos destruidores? Eis o resumo do que pode ser considerada uma boa e elucidativa resposta: “Para fazê-la progredir mais depressa. (...) Os flagelos são provas que dão ao homem ocasião de exercitar a sua inteligência, de demonstrar sua paciência ante a vontade de Deus. (...) Muitas vezes (os flagelos) mudam as condições de uma região. Mas o bem que deles resulta só as gerações vindouras experimentam. (...) Essas subversões são freqüentemente necessárias para que mais prontamente se dê o advento de uma melhor ordem de coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos”.
Mas, e as milhares de mortes causadas pela tragédia? O que Deus pretende com isso? São chegados os tempos? O texto explica que “ninguém deixa de morrer, seja por flagelo ou causa natural (...) a única diferença, em caso de flagelo, é que maior número parte ao mesmo tempo. (...) As grandes partidas coletivas têm por objetivo transformar mais rapidamente o espírito da massa (...) a Regeneração da Humanidade.
Quando insulado e individual, essa regeneração passa desapercebida e nenhuma mudança ostensiva alcança sobre o mundo. Muito outro é o efeito quando a melhora se produz sobre grandes massas (...) é o que quase sempre se nota depois dos grandes flagelos que dizimam populações. Esses flagelos destroem apenas corpos, não atingem o Espírito”.
Mas não se trata do Juízo Final, em sua doutrina do fim da Humanidade, pois tal idéia “repugna a razão por implicar uma “inatividade” de Deus, negando sua Divina Providência. “Tudo na Criação é harmonia; tudo revela uma Previdência que não se desmente nem nas menores nem nas maiores coisas. O progresso da Humanidade se cumpre em virtude de uma Lei. Como todas as leis da Natureza são obras eternas da sabedoria e da presciência divina, tudo o que é efeito dessas leis resulta da vontade de Deus.”
A prática geral do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo determinará melhora no estado moral dos homens e isso acarretará a queda do mal. “É, pois, o fim do mundo velho, governado pelos preconceitos, pelo orgulho, pelo egoísmo, pelo fanatismo, por todas as paixões pecaminosas, que o Cristo aludia, ao dizer: “Quando o Evangelho for pregado por toda a Terra, então é que virá o fim”.
Em resumo, este pode ser um dos objetivos de Deus numa tragédia: um convite à transformação interior, na substituição das trevas pela luz das virtudes que nos cabe conquistar.
Nesta fase em que os homens se agitam inquietos, a Luz do Cristo mostra o rumo a seguir na busca da paz interior que todos almejamos, ao mesmo tempo em que nos ilumina o caminho de libertação que a Bondade Divina a todos reserva.
*Os textos mencionados pertencem a 'A Gênese' e ao "O Livro dos Espíritos".
(Publicado no jornal Correio Fraterno edição 401 / 2005)