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Para que servem os muros de Nosso Lar?

Por Paulo Henrique de Figueiredo

Assisti ao filme Nosso Lar e fiquei intrigada com um fato. Para que servem os muros em volta da colônia?
Denise Albuquerque Lemos, de São Paulo – SP

Para compreender essa particularidade da arquitetura de Nosso Lar precisamos remontar à história, atentar para os fatos que regem a formação das cidades espirituais, colônias de transição que servem para trabalho e aprendizado de espíritos ainda condicionados aos hábitos do mundo.

Criada no século 16 por portugueses que desencarnaram no Brasil, a colônia Nosso Lar, afeita ao nosso país, era habitada pelos espíritos dos índios, que o povoavam com suas tabas em meio a florestas. Os portugueses estabeleceram seus edifícios, com trabalho perseverante e solidariedade. No início, as moradias eram muito ligadas ao mundo físico; “ninguém suportava a ausência de notícias da parentela comum”, conta André Luiz. Boatos disseminavam aflição e calamidades, “a cidade era mais um departamento do umbral, que propriamente zona de refazimento e instrução”. Por volta de 1750, o Governador proibiu o intercâmbio generalizado.

Com o passar dos séculos, nossa sociedade materialista criou instituições egoístas. Escravidão e mordomias marcaram a nossa história, povoando-se poucos palácios e muitos cortiços. Indivíduos que aqui exigiram regalias e vantagens, viviam dores e remorsos no outro lado da vida. Aos poucos, milhões de almas sofredoras construíram fluidicamente com suas mentes as densas paragens do umbral. Conforme descreve André Luiz, Nosso Lar está construído em terras contíguas ao umbral, com diversos caminhos, em meio às suas florestas, que conduzem os socorristas àqueles ambientes de sofrimento.

Por volta de 1850, almejando novas metas de estudo e superação do apego como disciplina da colônia, o Governador propôs o fim de alguns abusos. Num processo longo de conscientização, alguns rebeldes promoveram manifestações. “Tudo isso provocou enormes cisões nos órgãos coletivos de Nosso Lar, dando ensejo a perigoso assalto das multidões obscuras do umbral, que tentaram invadir a cidade, aproveitando brechas nos serviços de Regeneração, onde grande número de colaboradores entretinha certo intercâmbio clandestino, em virtude dos vícios de alimentação”. O Governador determinou, então, medidas firmes: “proibiu temporariamente os auxílios às regiões inferiores, e, pela primeira vez em sua administração, mandou ligar as baterias elétricas das muralhas da cidade, para emissão de dardos magnéticos a serviço da defesa comum. Não houve combate, nem ofensiva da colônia, mas resistência resoluta”.

Nosso Lar está no mesmo plano que o umbral e os altos muros cobertos de trepadeiras floridas fazem parte da arquitetura da colônia de transição para esferas mais elevadas. Vale lembrar que o filme Nosso Lar, como toda obra cinematográfica, é ficção e arte, refletindo as ideias, juizo e emoções de seus autores. Já o livro Nosso Lar não é uma ficção, mas o relato autobiográfico de André Luiz após a morte, trazido pela psicografia de Chico Xavier. Com a evolução nos dois mundos, a regeneração da humanidade terrena banirá as dores e, com muito trabalho e solidariedade, o umbral será esvaziado de pensamentos densos. Já estamos escrevendo o final dessa história.

*Administrador de empresas, autor do livro Mesmer, a ciência negada e os textos escondidos. Ed. Lachâtre. E-mail: paulo@mesmer.com.br

(Publicado no Jornal Correio Fraterno)