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Liberdade combina com obediência?

Como conciliar a ideia de liberdade de Jesus com a necessidade de se obedecer às leis de Deus? - Ercília Morais, Diadema, SP.

Por Miriam Zillo

Deus é amor e liberdade. É pelo amor e pela liberdade que o espírito se aproxima dele, exercitando as leis morais contidas em O livro dos espíritos.1 Jesus disse: “Não penseis que eu tenha vindo destruir a lei ou os profetas: não os vim destruir, mas cumpri-los”. Seguindo seu exemplo, portanto, cumprimos a lei e alcançamos a liberdade, pois estaremos escolhendo o bem que nos aproxima de Deus. 

As leis naturais, todas elas, se referem à fraternidade, a reconhecer no outro um irmão e não um estranho. A liberdade em Jesus está na sua proposta de paz a ser construída interiormente, que liberta e fortalece o ânimo. A liberdade, enfim, só será conseguida se nos adequarmos às leis divinas.

Aqui vale lembrar o trecho do Evangelho em que Jesus responde a um fariseu, doutor da lei, que lhe pergunta para tentá-lo: “Mestre, qual o mandamento maior da lei?”? Jesus então diz: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. – Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos.” 

Nessa citação, está implícita a importância da empatia, de tratar o outro da mesma forma como gostaríamos que fossemos tratados, fazendo ao próximo aquilo que gostaríamos que nos fizessem. Isso explica que é somente na relação como outro, na busca da convivência harmônica que podemos alcançar a paz e, por consequência, a tão sonhada liberdade. Como dizia Gandhi, “a paz é o caminho para a liberdade” e esta paz só se alcança com a vontade e a realização do Reino de Deus em nós. 

E como fazer isso? Pela caridade. Principalmente a moral, que é a expressão efetiva das leis divinas, dos deveres do homem para com o próximo. 

Não há roteiro mais seguro para se alcançar a liberdade do que agirmos de acordo com as leis morais lembradas por Jesus através de seus exemplos deixados quando aqui esteve e, depois, relembradas pela terceira revelação, esmiuçadas por Allan Kardec em perguntas e respostas em O livro dos espíritos. Se seguirmos esse caminho, certamente destruímos o egoísmo e o orgulho, pois praticaremos a benevolência e compreenderemos a verdadeira fraternidade onde reinarão a paz e a justiça. Aí sim, sentiremos a verdadeira liberdade, que não consiste em ter ou fazer o que se quer, mas em agir pelo dever daquilo que deve ser feito com responsabilidade. “Não mais haverá ódios, nem dissensões, mas, tão somente, união, concórdia e benevolência mútua.”2 

O amor, enfim, realmente resume toda a doutrina de Jesus, visto ser esse o sentimento por excelência, “não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas.” 


Referências:

1 O livro dos espíritos, Allan Kardec, “As leis morais”.

2 O evangelho segundo o espiritismo, Allan Kardec, cap.11: “Amar o próximo como a si mesmo”.

Vice-presidente do NEF - Núcleo de Espírita de Filosofia, em São Paulo.

Amor e liberdade

Deus é amor e liberdade. É pelo amor e pela liberdade que o espírito se aproxima dele. Pelo amor desenvolve, em cada existência, novas relações que o aproximam da unidade; pela liberdade escolhe o bem que o aproxima de Deus. Sede ardentes na propagação da nova fé. Que o santo ardor que vos anima, jamais vos faça atingir a liberdade alheia. Evitai, por uma insistência muito grande junto à incredulidade orgulhosa e temível, exasperar uma resistência meio vencida e prestes a render-se. O reino do constrangimento e da opressão acabou; começa o da razão, da liberdade, do amor fraterno. Não é mais pelo medo e pela força que os poderes da Terra adquirirão, de agora em diante, o direito de dirigir os interesses morais, espirituais e físicos dos povos, mas pelo amor à liberdade.

Abelardo.

Revista Espírita, abril de 1860.

Conhecimento da lei natural

A todos os homens facultou Deus os meios de conhecerem sua lei? Todos podem conhecê-la, mas nem todos a compreendem. Os homens de bem e os que se decidem a investigá-la são os que melhor a compreendem. Todos, entretanto, a compreenderão um dia, porquanto forçoso é que o progresso se efetue.
A justiça das diversas encarnações do homem é uma consequência desse princípio, visto que em cada nova existência sua inteligência se acha mais desenvolvida, e ele compreende melhor o que é bem e o que é mal. Se numa só existência tudo lhe devesse ficar ultimado, qual seria a sorte de tantos milhões de seres que morrem todos os dias no embrutecimento da selvageria, ou nas trevas da ignorância, sem que deles tenha dependido o se esclarecerem?

O livro dos espíritos, perg. 619.