A cura pelo passe
Não creio no poder da cura de certas enfermidades através de passes magnéticos, a menos que seja enfermidade de origem psicológica. Quero saber se estou errado.
Por Herculano Pires
Sim, está errado, porque o passe não é apenas um gesto que tem consequências psicológicas que, sendo uma sugestão, ele teria uma ação psicológica.
O passe espírita, como até mesmo o passe magnético, tem funções orgânicas precisas, age sobre o organismo. O passe espírita age de maneira mais profunda, porque não é dado apenas por um indivíduo humano que procura transferir fluidos vitais de seu corpo para o corpo da pessoa necessitada. Como médium, ele está a serviço de um espírito que entende melhor do assunto e conhece melhor as profundezas da doença, da situação em que a pessoa se encontra. Servindo-se de seus próprios fluidos curadores e dos fluidos vitais do médium, o espírito tem a possibilidade de transmitir à pessoa doente verdadeiros impulsos de cura, por assim dizer, estimulando as energias do próprio corpo do enfermo para a necessária reação contra a doença.
As doenças mais difíceis, as doenças mais dolorosas podem ser curadas através de passes.
Do livro Conversa sobre mediunidade: curas, obsessões e sonhos, transcrição do programa de rádio “No limiar do amanhã”. Ed. Paideia.
Dentre os inúmeros exemplos de cura através do passe, a Revista Espírita de 1867 narra o caso enviado pelo Grupo Curador de Marmande, da França, a Allan Kardec, que conta:
“Uma menina de 6 ou 7 anos estava acamada, com uma dor de cabeça contínua, febre, tosse frequente com expectoração e dor viva do lado esquerdo e também nos olhos... Sob os cabelos, a pele do crânio estava coberta de películas brancas; urina espessa e turva. Deprimida e abatida, a menina não comia nem dormia. O médico tinha acabado suspendendo suas visitas. A mãe, pobre, em presença da criança doente e abandonada, veio nos procurar. Consultados, nossos guias prescreveram como único remédio a imposição das mãos, os passes fluídicos por parte da mãe, recomendando-me que fosse, durante alguns dias, fazer-lhe ver como deveria se conduzir. Depois de três dias de passes e de imposição das mãos sobre a cabeça, os rins e o peito, executados a título de lições, mas feitos com alma, a criança pediu para se levantar; a febre tinha passado e todos os acidentes descritos desapareceram ao cabo de dez dias. Esta cura, que a mãe qualificava de miraculosa, fez que me chamassem, dois dias depois, junto a uma outra menina de 3 a 4 anos, que tinha febre. Depois dos passes e da imposição de mãos, a febre cessou, desde o primeiro dia. (Revista Espírita, junho de 1867) (Redação)
Restituí a saúde aos doentes, ressuscitai os mortos, curai os leprosos, expulsai os demônios. (Mateus, 10:8.)
As doenças fazem parte das provas e das vicissitudes da vida terrena; são inerentes à grosseria da nossa natureza material e à inferioridade do mundo que habitamos. Temos, assim, de nos resignar às consequências do meio onde nos coloca a nossa inferioridade, até que tenhamos mérito para passar a outro. Isso não deve impedir que, à espera dessa mudança, que isso se dê, façamos o que está ao nosso alcance para melhorar as nossas condições atuais. Se Deus não quisesse que os sofrimentos corporais fossem dissipados ou amenizados, não teria colocado à nossa disposição meios de cura. Sua solicitude, em conformidade com o instinto de conservação, indica que é nosso dever procurar esses meios e aplicá-los. A par da medicação ordinária, elaborada pela ciência, o magnetismo leva-nos a conhecer o poder da ação fluídica e o espiritismo nos revela outra força poderosa na mediunidade curadora. (O evangelho segundo o espiritismo, cap. 28) (Redação)