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Um marco histórico

Por Cícero Pimentel

O mundo espírita costuma comemorar três datas magnas: 3 de outubro (nascimento de Kardec, em Lion, 1804), 18 de abril (lançamento de O livro dos espíritos, em Paris,1857) e 31 de março, desencarnação de Kardec, em Paris, 1869. A descrição detalhada dos instantes finais do mestre lionês encontramos na Revista Espírita de 1869 (1), nas obras de seus biógrafos Henri Sausse ou, André Moreil (2) , além de outros. O Reformador, da FEB, de fevereiro de 1969 publicou interessante relato de sua vida, onde anunciou o novo selo espírita postal, lançado em 31 de março, pelo DCT.

Entre 11 e 13 horas, a rua Saint-Anne, 59, Paris, em 1869, ocorreu o passamento do codificador da doutrina espírita, quase que sozinho, na mesa de trabalho. Logo lhe acudiram um caixeiro viajante, o porteiro e a empregada. A. Dellanne, pai de Gabriel Delanne, tentou com passes reanimá-lo, porém em vão. D. Amélie Boudet, a viúva de Kardec e sua colaboradora, veio a desencarnar em 21 de janeiro de 1883, aos 89 anos. A 2 de abril, Kardec foi enterrado no cemitério de Montmartre, de Paris, com vários discursos feitos por espíritas eminentes, como Sr. Le Vent (vice-presidente da Sociedade de Estudos Espíritas), A. Delanne, C. Flammarion (célebre astrônomo, escritor, e médium psicógrafo), etc.

A 31 de março de 1870, os despojos mortais do professor lionês foram transferidos para o cemitério Père La-chaise, no leste de Paris, simplesmente identificados com pedras dolmens, imitando os antigos monumentos druidas. O Anuário Espírita de 1969 (3) publicou na capa um desenho desse túmulo, muito visitado atualmente em Paris, por turistas e curiosos.

O casal Dénizart Rivail não teve filhos, porém sua herança é de ordem espiritual. O Pentateuco kardeciano é constantemente divulgado no Brasil, na França, na Argentina, na Bélgica, etc. Muitas obras de Kardec foram traduzidas em várias línguas e agora penetram na Ásia, em japonês e Esperanto.

Kardec, a rigor, não é o fundador do espiritismo, mas sim o seu Codificador. Tal fato ele reconheceu em sua obra e dizia-se um trabalhador da doutrina (ler Obras póstumas e A gênese: Caráter da revelação espírita, cap. I, 55). Neste capítulo básico da doutrina, Kardec chama-a de A Terceira Revelação, sendo a Primeira personificada em Moisés, a Segunda em Cristo. Nós a chamamos também de cristianismo redivivo e os anglosaxônicos de espiritualismo moderno.

Kardec deixou pronta a Revista Espírita de abril de 1869, e vários trabalhos foram enfeixados, mais tarde em 1890, na famosa Obras póstumas.

É ainda Kardec que no capítulo I, 50, de A gênese, relata que a Terceira Revelação é contínua, e não descontínua, isto é, não é necessário uma Quarta revelação, como alguns pregam. Os três principais continuadores fiéis da sua obra foram Flammarion, Delanne e Leon Dénis, no passado, e Gonzales Forestier e outros, atualmente, na França.

Somos pequenos para analisar a divina obra e missão de Kardec, porém encontramos na obra Entre irmãos de outra terra, de F. C. Xavier e W. Vieira (4), a opinião espiritual de H. Greeley, ressaltando os méritos de Kardec: “ligou o espiritismo ao cristianismo dinâmico e adotou a mediunidade gratuita”.

Viver, estudar e divulgar a obra de Kardec, eis o papel de todos os espíritas sinceros.

1 EDICEL, SP, trad. J. Abreu Filho.

2 Vida e obra de Allan Kardec, e EDICEL,1966.

3 IDE, Araras.

4 FEB, 1966, p. 63

(Publicado no Jornal Correio Fraterno – Edição 10 abril / maio 1969)