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Os 50 anos do Correio Fraterno

Por Eliana Haddad

Em 3 de outubro de 1967, com quatro páginas, formato 23 x 33cm, o jornal Correio Fraternoentrava em circulação, partindo de São Bernardo do Campo, SP, ganhando a cada edição novas cidades do Brasil. Dos mil exemplares impressos, primeiramente, quinhentos seguiram postados pelos Correios e os restantes, entregues em casas espíritas e em pontos comerciais. Assim se iniciava a caminhada do Correio Fraterno,que alcança hoje 477 edições, ininterruptamente preparadas com o ideal de levar aos leitores a visão espírita atrelada aos mais diversos assuntos – da ciência à religião, da filosofia aos problemas atuais da humanidade.

"Lutamos com algumas dificuldades, mas nunca nos faltou amparo. Houve tropeços, períodos difíceis, mas como o bem sempre se sobrepõe, a luz também se fez presente, e aqui estamos, felizes pelo caminho trilhado", assinala Raymundo Rodrigues Espelho, idealizador do projeto, junto a outros companheiros espíritas.


Nove anos depois, a editora espírita Correio Fraterno se lançava no desafio da publicação de livros, começando a tecer um novo capítulo da sua história, reunindo atualmente cerca de cem títulos publicados, quarenta em catálogo e mais de um milhão de exemplares vendidos.


Basta folhear as antigas edições do acervo do jornal ou a coleção de todos os livros publicados até hoje para se reconhecer o valor do trabalho realizado pelas diversas equipes que no decorrer desses 50 anos passaram pela editora. Trata-se de um retrato da própria história do movimento espírita, escrita em grande parte por escritores e articulistas renomados, como: Herminio Miranda, Deolindo Amorim, Herculano Pires, Jorge Rizzini, Iracema Sapucaia, Lamartine Palhano Junior, Heloisa Pires, Dora Incontri, Sueli Caldas Schubert, Wilson Garcia, Humberto Mariotti, Aureliano Alves Neto, Amilcar Del Chiaro, Richard Simonetti, Carlos Imbassay, Alberto de Souza Rocha, Altamirando Carneiro, J. G. Pascale, Carlos Toledo Rizzini, Domério de Oliveira, Rita Foelker. A lista é bem grande...


"A partir de 2004, quando assumi a coordenação da editora, já havia uma boa base construída através da participação desses escritores, tão presentes no movimento espírita. Essa história foi aos poucos sendo ampliada, com a chegada de novos autores e articulistas, que traziam também projetos editoriais inovadores no campo da comunicação espírita, dentre os quais: André Trigueiro, Tatiana Benites, Alexandre Fontes da Fonseca, Lygia Barbiére Amaral, Jader Sampaio, Umberto Fabbri, Arandi Gomes Teixeira, Marco Milani, David Monducci etc.", comenta a jornalista Izabel Vitusso.

 

O bom alicerce
Experimentando grande impulso no início dos anos de 1990, o jornalismo espírita era pautado em congressos e encontros realizados pelas principais entidades do movimento espírita, principalmente a Associação dos Jornalistas Espíritas do Estado de São Paulo. Esses eventos procuravam abranger os diversos segmentos de atuação da imprensa espírita, reunindo jornalistas, escritores, colaboradores dos periódicos espíritas, além dos dirigentes das casas espíritas. E o Correio Fraterno sempre esteve presente, fazendo parte dessas iniciativas, que marcaram a história do espiritismo no Brasil. O escritor e jornalista Deolindo Amorim teve grande atuação nesse campo, sendo o idealizador do Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas, realizado pela primeira vez na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1939. Era articulista sempre presente no Correio Fraterno.


Não menos importante, Herculano Pires, que se notabilizou-se por sua variada atuação nos meios de comunicação, como repórter, redator, secretário, cronista parlamentar e crítico literário dos Diários Associados, também deu seu incentivo e colaboração ao projeto editorial do Correio Fraterno. São da editora os três livros contendo 124 crônicas de sua autoria, publicadas no Diário de São Paulo entre 1957 e 1970 sobre os mais diversos temas analisados sob a ótica espírita – O mistério do bem e do mal, O homem novo e O infinito e o finito. Depois ainda viriam Visão espírita da Bíblia e Educação para a morte.


Herminio Miranda também apoiou o projeto, não somente escrevendo para o jornal, como entregando à editora a coleção "Histórias que os espíritos contaram" (A dama da Noite, O exilado, As mãos de minha irmã, A irmã do Vizir). Ainda pela editora, seriam publicados pela série "Começar" O que é fenômeno mediúnico e O que é fenômeno anímico e Os procuradores de Deus. Também é o tradutor de A feira dos casamentos (Rochester). Aliás, de Rochester, a editora ainda receberia da médium Arandi Gomes Teixeira outras emocionantes histórias: Vos sois deuses, A força do amor, A pulseira de Cleópatra, A encarnação de uma rainha, O condado de Lancaster, O príncipe do Islã e o mais recente,O exílio.


Romances importantes psicografados por Dolores Bacelar também fazem parte dessa história: dentre os quais A mansão Renoir e os da série "Às margens do Eufrates" (O alvorecer da espiritualidade, Guardiães da verdade, Os veladores da luz e O voo do pássaro azul), hoje reunidos em Mesopotâmia, luz na noite do tempo.

Novos projetos, novos tempos

A preocupação em oferecer um contexto literário para todas as idades não demorou a chegar. Foi assim que, em 1978 surgia o "Suplemento Literário" no jornal, trazendo análise de obras e autores espíritas. A seguir, As aventuras do Fraterninho, de Iracema Sapucaia, marcou época nas páginas do jornal, inicialmente como textos para o público infantil, numa seção de passatempos e, 30 anos depois, como revistas em quadrinhos encartadas nas edições.

"Sabemos que é grande a nossa responsabilidade em cada trabalho que chega, contando com o auxílio da espiritualidade para analisarmos a utilidade e a mensagem que se quer levar para que as pessoas possam ter um bom conteúdo acrescido pela leitura em suas vidas", revela Vitusso. Um excelente exemplo é o livro Viver é a melhor opção, a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo, escrito pelo jornalista André Trigueiro, com direitos autorais doados para o CVV. "São mais de 40 mil exemplares vendidos e a obra marca uma fase de desbravamento do assunto-tabu".

São desafios constantes que fazem a editora Correio Fraterno se manter jovem, atuante – desde a preocupação com a estética, nas mãos de profissionais de arte como Hamilton Dertonio e André Stenico.

Há ainda uma longa estrada a desbravar, inclusive a digitalização dos exemplares antigos desses 50 anos de jornalismo espírita para futuras pesquisas. Alguns mais recentes já estão disponibilizados na internet. E o site do correio também traz uma infinidade de informações em entrevistas, artigos, crônicas, curiosidades, textos especiais. "Recentemente, passamos a disponibilizar gratuitamente alguns e-books e cursos em vídeos. Trabalho é o que não falta nesse projeto de amor, com tratamento jornalístico, profissional, sem proselitismos, não perdendo de vista que muitos leitores ainda estão começando a entrar em contato com o conteúdo espírita", informa Vitusso.

Apesar de todas as dificuldades encontradas ao longo de sua história, o Correio Fraterno tem se mostrado atual, um jornal com espírito de renovação constante. "É essa busca pelo melhor que nos faz correr atrás das necessidades atuais. A busca pela modernização e aprimoramento da linha editorial e apresentação gráfica continuam a ser palavras de ordem da equipe Correio Fraterno, a fim de tornar cada edição, cada livro, cada iniciativa, um trabalho mais completo ante as necessidades de seu público leitor". 

(Artigo original publicado no Jornal Correio Fraterno)