Descomplica! Fala direta e descontraída sobre espiritismo
Por Eliana Haddad
À frente do CultKardec, mais um projeto de divulgação do espiritismo com a curadoria da editora Correio Fraterno, Bruno Bernardelli protagoniza os vídeos do Descomplica!, o programa que inaugurou com grande sucesso o canal e que pode ser acessado pelo Instagram, Youtube e Facebook.
Com temas relevantes, que incluem informação, curiosidades e conversas rápidas sobre temas à luz do espiritismo, o CultKardec já reúne mais de 20 vídeos, sempre em linguagem simples sobre conteúdos diversos, criteriosamente selecionados e tendo como grande referência as obras de Allan Kardec.
Semanalmente, sempre às quartas-feiras, Bruno tem a instigante tarefa de falar simples e com muita empatia sobre um assunto desafiador acerca do porquê da vida, porém sob a perspectiva que faz toda a diferença: a nossa realidade espiritual. Acompanhe a entrevista.
De onde vem o seu contato com o espiritismo?
Eu não conheci a vida sem o espiritismo. Quando nasci, meus pais estavam dando os primeiros passos na doutrina; eram jovens, empolgados. Para eles era um universo completamente novo e que fazia sentido. Minhas lembranças da infância são, em boa parte, dentro da casa espírita. Minha irmã e eu éramos os mascotes da mocidade que meus pais participavam. Anos depois, minha irmã se tornou dirigente da mesma mocidade e posteriormente eu também participei.
Nunca precisei me ‘esforçar’ para estudar espiritismo. A maioria das informações veio ao meu encontro através das conversas dentro de casa, na mocidade, no Evangelho no lar...
Quando me tornei mais independente, durante a faculdade, acabei me afastando das atividades na casa espírita, mas nunca me senti afastado da doutrina; os princípios sempre estiveram presentes nas minhas autocríticas, análises e decisões. Por anos, achei que isso era suficiente. Em 2019, com 30 anos, mais maduro e consciente do conhecimento que acumulei, me dei conta de que precisava estar mais próximo da doutrina novamente. Até entender a falta que estava fazendo e tomar alguma atitude demorou um pouco. Foi nesse momento que começou a pandemia. Com as casas espíritas fechadas, meu plano foi frustrado. Foi aí que recebi o convite da editora Correio Fraterno para participar do CultKardec, fazendo duas coisas que tenho intimidade: vídeos (que fazem parte do meu dia a dia profissional) e bater papo sobre espiritismo.
O que é o CultKardec?
É um projeto que visa produzir conteúdo sobre cultura espírita por meio de vídeos relacionados ao espiritismo, que são amplamente distribuídos nas redes sociais.
Neste momento, estou à frente do programa chamado Descomplica!.
Como são escolhidos os temas?
Depende muito. Tem dias que o tema vem pronto por algo que vi. Outras vezes, preciso ler algum conteúdo (como o Correio Fraterno) para me ‘dar alguma luz’. Mas o que eu gosto mesmo é quando algum amigo me pergunta algo sobre espiritismo, ligado muitas vezes ao cotidiano. Eu explico para ele, mas na minha cabeça já estou montando o roteiro do vídeo.
Qual o desafio de se falar fácil assuntos que normalmente exigem um estudo mais apurado para sua compreensão?
Eu diria que não é só desafio, é também o maior objetivo do Descomplica!. O desafio é grande, até porque são assuntos que exigem muita responsabilidade para se falar. O que procuro fazer é evitar ao máximo o tom professoral e conduzir o texto para um lado de bate-papo, de igual para igual com a audiência.
O que eu sempre digo nos vídeos é: “Aqui não tem certo nem errado, quando eu falo para vocês, eu estou falando para mim também.” Tem muita coisa que é difícil colocar em prática no dia a dia, mas ao pensar nos episódios, eu também estou estudando, aprendendo e saindo da minha zona de conforto.
Em todos os vídeos existe sempre o cuidado para não sair algo que possa soar errado para quem vê. Mas faz parte. Isso me ajuda a buscar o meu melhor e manter os pés no chão.
Como tem sido a participação do público?
A participação e a proximidade com o público ainda está em processo de construção. Quando falamos em produção de conteúdo, devemos saber que é um caminho longo e demorado para criar sua própria rede de audiência e relacionamento. Não tenho dúvidas de que chegaremos lá.
Independentemente disso, preciso confessar que me emociono muito com alguns comentários. É muito bom saber que alguém cedeu alguns minutos do seu dia para assistir ao nosso trabalho. Se cada vídeo for de alguma forma útil para uma única pessoa, eu já me sinto muito realizado.
Mediunidade, Evangelho, questões filosóficas, quais as perguntas mais recorrentes?
Mediunidade, sem dúvidas. Para muitos ainda se trata de um assunto misterioso e geralmente é a porta de entrada para muitas conversas e debates mais profundos sobre o espiritismo. Nem sempre as respostas a diversas perguntas são tão diretas e simples, como alguns desejam, por isso, procuro sempre deixar uma visão mais ampla sobre tudo que envolve a mediunidade. Acredito que dou ferramentas para a pessoa conhecer mais sobre o espiritismo. Se for do interesse dela, já foi dado um ponto de partida gerando a curiosidade por entender ainda mais.
As mídias sociais nos permitem uma maior diversidade de público. O CultKardec tem sido acompanhado por público não espírita. Dá pra atingir numa mesma linguagem espíritas e não espíritas?
No caso do Descomplica!, o que busco é falar com os dois públicos. Para os não espíritas, ficam os conceitos básicos e as linhas de raciocínio para que ele vá se abrindo para esta possibilidade.
Gosto de encarar o espiritismo como uma forma de entender a vida, com suas nuances e desafios. Creio que o primeiro passo será sempre entender e incorporar a mentalidade espírita, baseando-se na evolução pessoal e coletiva, sabendo que vamos errar, aprendendo a perdoar, e nunca esquecendo que estamos aqui de passagem. Uma vez entendido isso, o aprendizado teórico se torna uma consequência.
E para os espíritas mais experientes, a ideia é deixar reflexões, provocar e convidar para entrarem nas minhas viagens e reflexões. Para mim, reflexões que nos tiram da zona de conforto só nos ajudam a crescer e é o que tento fazer.
Tudo isso, no caso do Descomplica!, mas de forma geral, enxergo o universo dos estudos espíritas extremamente profundo e sério. São muitas camadas de conhecimento para atingirmos um entendimento mais profundo. Precisamos estar bem preparados e essa experiência só o tempo é capaz de nos dar.
Qual a maior surpresa que você teve ao realizar esse trabalho?
A maioria das pessoas que me conhece pessoalmente não sabe da existência do projeto. Não divulgo nas minhas redes sociais. Fico feliz quando alguém que conheço diz que assistiu ao vídeo e gostou.
É um termômetro muito importante para mim saber que o conteúdo chega a lugares que nunca imaginei e que não foi através da minha influência direta, mas sim por meio do trabalho de todos que estão envolvidos com o CultKardec.
Atualmente temos muitos canais de informação sobre o espiritismo. Como você analisa essa diversidade de comunicação? Há espaço para todos?
Sempre há. Assim como em qualquer mercado, a criação de conteúdo segue a mesma lógica: oferta e demanda. Se temos muitos canais de comunicação, é porque muitas pessoas estão consumindo, e isso é ótimo. Essa diversidade proporciona o grande ‘barato’ da criação de conteúdo, pois é você quem vai escolher o que assistir ou ler, a qualquer hora e lugar. Um determinado programa pode não agradar uma pessoa, mas pode proporcionar o seu contato inicial com o tema, levando-a a procurar depois conteúdos similares, no formato que melhor lhe agrade. Esta é a força do conteúdo, e não números de visualizações como muitos acreditam. O importante é criar uma rede de relacionamento com o público, que por mais ‘nichado’ que seja, tem muito poder de influência.
Como você realiza as pesquisas sobre os temas?
Ainda estou em uma fase de tentativa e erro. Gosto muito de falar sobre arte e como isso pode estar relacionado ao espiritismo, essas ideias geralmente surgem no dia a dia e não pesquisando em livros necessariamente. Quando o assunto é mais teórico, busco embasar meus pensamentos apenas nas obras de Kardec. Porém, existe uma obra em específico que me ajuda muito e que não é dele. Se chama O pensamento de Herculano Pires [Raymundo R. Espelho, Correio Fraterno]. Esse livro tem um poder de síntese muito forte para assuntos complexos e amplos.
Ao descomplicar ao falar de Kardec, há riscos de se desviar do conceito correto?
Sem dúvidas, sempre é um momento tenso quando preciso pontuar os conceitos de forma mais exata. A responsabilidade de passar os conceitos corretos é muito grande. Sempre que preciso, recorro aos meus pais e amigos mais experientes. De forma geral, procuro levar o conteúdo mais para linhas de raciocínio lógico sobre a doutrina e nem tanto para o lado teórico.
Qual o seu maior desejo, quando prepara e grava cada novo episódio?
Meu maior desejo a cada vídeo é conseguir a atenção do público e levá-los a uma jornada de reflexões sobre a vida através de um olhar espírita. Se eu conseguir fazer as pessoas pensarem comigo e chegarem às próprias conclusões, meu objetivo está completo.
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