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Uma senha para os espíritas

Em 1862, Allan Kardec visitou mais de vinte cidades na França, presidindo aproximadamente 50 reuniões. Tinha a finalidade de avaliar a situação em que se encontrava a doutrina espírita e levar ao conhecimento geral as orientações necessárias aos organizadores dos diferentes centros.

Nos discursos pronunciados por Kardec, em Lyon e Bordeaux, por exemplo, foram feitas considerações sobre a conduta dos espíritas, as atividades dos grupos e temas que envolviam os espíritas da época. Aos grupos, Kardec oferece instruções particulares em resposta a diversas questões propostas e até mesmo um projeto de regulamento para o uso de pequenas sociedades espíritas.

Nesses encontros foram feitas várias perguntas a Kardec. Uma delas sobre a melhor forma de se identificar os seguidores do espiritismo. “Não seria desejável que os espíritas tivessem uma senha, um sinal qualquer para se reconhecer quando se encontram?”, perguntaram. Kardec, porém respondeu:

— Os espíritas não constituem nem uma sociedade secreta, nem uma afiliação. Eles não devem, pois, ter nenhum sinal secreto para mútua identificação. Eles nada ensinam e nada praticam que não possa ser conhecido por toda a gente e não têm, por consequência, nada a ocultar. Um sinal, uma senha, poderiam ser também usados por falsos irmãos e o resultado é fácil de ser imaginado.

Todos têm uma senha que é compreendida de um ao outro extremo do mundo: é a da caridade. Esta palavra é fácil de ser pronunciada e pode estar na boca de todos, mas a verdadeira caridade não pode ser falsificada. Na prática da caridade reconhece-se sempre um irmão, ainda que ele não se diga espírita, e deve-se estender-lhe a mão, pois, se ele não lhe partilha a crença, nem por isso deixará de ser benevolente e tolerante.

Um sinal de reconhecimento é, ademais, de todo inútil hoje em dia, pois o espiritismo já não se oculta. Para aquele que não tem a coragem de afirmar sua opinião, igualmente seria inútil, pois que dele não se serviria. Quanto aos demais, eles se fazem reconhecer falando em alto e bom tom, sem nenhum temor.

Fonte: "Viagem espírita em 1862", O Clarim.

(Artigo original publicado no Jornal Correio Fraterno)