Uma carroça de alimentos para Bezerra de Menezes
Bezerra de Menezes não foi, como alguns de seus admiradores supõem, um despreocupado com o dia de amanhã, com o futuro dos seus familiares.
Sabia como poucos se ater à disciplina do necessário, a desprezar o supérfluo, a não se apegar às coisas materiais com prejuízo de seu envolvimento espiritual e da vitória de sua missão.
Aceitava o pagamento dos clientes que lhe podiam pagar e dava aos pobres o que podia dar, inclusive algo de si mesmo.
Preocupava-se, isto sim, com o futuro de seu espírito e dos espíritos daqueles que o Pai lhe confiou.
Numa manhã, no entanto, houve no lar uma apreensão.
O celeiro estava vazio, sem alimento para o jantar...
Na véspera, Bezerra havia restituído a importância das consultas aos seus clientes pobres, porque compreendera que apenas possuíam o necessário para a compra dos medicamentos. Agradeceu a boa intenção do farmacêutico, mas achava que não podia guardar aquelas importâncias...
Junto com a esposa, ciente da situação, ficou a pensar. Saiu, consolando a querida companheira, dizendo-lhe:
— Não se preocupe, nada nos faltará. Confiemos em Deus! Ao regressar, à tardinha, encontra a esposa surpresa e um pouco agastada, que lhe diz:
— Por que tamanho gasto! Não precisava preocupar-se tanto, comprando alimentos que poderão estragar.
— Mas, que aconteceu?!
— Logo assim que você saiu recebemos uma carroça de alimentos... E, levando-o à despensa, mostrou-lhe os sacos, os embrulhos, os amarrados de alimentos que recebeu...
Bezerra olhou para tudo aquilo e se emocionou! Nada comprara e quem, então, lhe teria enviado tão grande dádiva se não Deus, através de seus bondosos filhos!...
Abraçado à esposa, refugiou-se a um canto da casa para a prece de agradecimento ao Pai, que lhe vitoriava a missão, como a lhe dizer:
— Por preocupar-se tanto com o próximo, com todos meus filhos, eu preocupo-me com você e todos os seus, também meus filhos!
Traduzia para o vero servidor a lição de Jesus, quando nos apontou os lírios dos campos, as aves que não ajuntam em celeiros e se vestem e se alimentam e jamais passam fome...
Adaptação de texto de "Lindos casos de Bezerra de Menezes. Ramiro Gama, Lake.
Publicado no jornal Correio Fraterno - Edição 478 - novembro/dezembro 2017.