Os conselhos espirituais à rainha Vitória
Por Redação
Num conselho privado, onde estavam sendo discutidas questões políticas internacionais que envolviam ameaça à paz, a rainha Vitória (Inglaterra, 1819-1901) declarou que não tomaria nenhuma decisão sobre o assunto sem antes consultar o príncipe Alberto, seu principal conselheiro em assuntos de Estado, com quem fora casada por 21 anos, cuja morte deixou-a profundamente abatida. Depois de ter-se recolhido por alguns instantes em seu gabinete, rainha Vitória voltou dizendo que o príncipe se pronunciava contra a guerra.
A notícia, reproduzida em vários jornais na época, entre outros o Opinion Natianale e o Siècle(22/02/1864), foi analisada por Allan Kardec na Revista Espírita de março daquele ano. Sob o título "Uma rainha médium", Kardec lembra que o homem não deve abster-se de seu livre-arbítrio. Mas pontua:
"O príncipe não é Deus, é verdade, mas, como ela é piedosa, é provável que tenha pedido a Deus que inspirasse a resposta do príncipe. Ela o fez agir como intermediário, em razão da afeição que lhe tem", acrescenta o codificador. "Se enquanto o príncipe estava vivo a rainha costumava nada fazer sem consultá-lo, morto ele, ela pede a sua opinião, não porque seja um Espírito, porquanto, para ela, ele não morreu. Ele está sempre ao seu lado, como seu guia e conselheiro oficioso", completou.
Em 3 de junho de 1866, o jornal Le Salut Public, de Lyon, retomaria o assunto: Lord Granville, durante sua curta estada em Paris, dizia a alguns amigos que a rainha Vitória se mostrava mais preocupada do que jamais se viu em qualquer época de sua vida, por causa do conflito austro-prussiano. Acrescentava o nobre lorde, presidente do conselho privado de sua majestade britânica, que a rainha acreditava obedecer à voz do 'defunto' príncipe Alberto, nada poupando para evitar uma guerra que poria na fogueira a Alemanha inteira. Foi sob essa impressão que ela escreveu várias vezes ao rei da Prússia, bem como ao imperador da Áustria, suplicando-lhes unir seus esforços aos dela em favor da paz."
Kardec se referiu novamente ao fato em agosto, dizendo que a rainha Vitória não é a única cabeça coroada que simpatiza com as ideias espíritas, mas que nem sempre os soberanos, convictos da verdade e da existência desta doutrina consideravam um dever apoiá-la abertamente, porque comumente são os homens menos livres, submetidos às exigências do mundo e obrigados, por razões de Estado, a certas manobras. Afirma que não citaria a rainha Vitória, a propósito do espiritismo, se outros jornais não houvessem citado o fato, que não foi desmentido. "Dia virá em que os soberanos poderão confessar-se espíritas, como se confessam protestantes, católicos gregos ou romanos", completa Allan Kardec.
Referência: Allan Kardec, Revista Espírita, março de 1864 e agosto de 1866.
Artigo original publicado no Jornal Correio Fraterno