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O burrinho feliz

Na época de Cairbar Schutel, nas primeiras décadas do século 20, era muito comum verdureiros percorrerem as cidades vendendo os seus produtos diariamente. O povo já estava acostumado com a compra direta. O seu nome era quase sempre ignorado. Era o verdureiro!

Cairbar Schutel

Na cidade de Matão não era diferente. Lá também existia um verdureiro, que todas as manhãs, bem cedinho, já estava com sua carroça pelas ruas da cidade.

Certo dia esse verdureiro parou com sua carroça em frente da farmácia de Cairbar Schutel e entrou para comprar medicamentos. Enquanto ele era atendido pela funcionária, Schutel vai até a porta e fica contemplando o animal atrelado à carroça.

Era um burro velho maltratado, magro, que, muito ofegante, suportava parado o varal com todo o peso da carroça e seu arreamento. O animal tinha um aspecto feio. Não demonstrava nenhuma condição para o serviço.

Atendido, o verdureiro sai da farmácia com um pequeno pacote e, na porta, cumprimenta gentilmente Cairbar Schutel. Este responde à saudação e pergunta:
— O senhor não quer vender o seu burrinho?
— Não, sr. Schutel. Preciso dele. E de que lhe serviria este animal?
Volta a insistir Schutel:
— Eu preciso dele. Diz o preço. Quem sabe nos faremos um negócio?
O verdureiro continuou argumentando que não venderia o animal e Schutel delicadamente insistindo em comprá-lo. O verdureiro fecha a questão.
— Pois bem, sr. Schutel. Eu vendo. Fique certo de que o senhor vai pagar o que o animal não vale.
E deu o preço. Uma quantia muitas vezes acima do preço real. Era mesmo para não vender.
Cairbar Schutel olhou para o animal que ainda estava ofegante.
Entrou para o interior da farmácia, pegou o dinheiro na gaveta, entregou ao verdureiro e disse:
— É meu. Pode levar a carroça e trazê-lo aqui para mim.

O verdureiro ficou assustado. Recebeu na transação o suficiente para comprar cinco animais muito melhores do que aquele. Agradeceu e saiu quase não acreditando no acontecido.
Pouco tempo depois retorna o verdureiro puxando o burrinho por um pedaço de corda. Entrega ao Schutel a sua nova propriedade. Este afaga o animal, leva-o até um pasto próximo e o solta.
A notícia da compra do burrinho correu a cidade. Chegou aos ouvidos dos companheiros mais íntimos. Perguntado para que queria aquele animal, velho, maltratado, quase morrendo, Schutel respondia:
— Não preciso do animal para nada. Está aposentado. Vai viver seus dias usufruindo desse direito. Merece porque está velho e já trabalhou muito. Só isso!
Sem nada fazer, viveu aquele animal feliz sua aposentadoria no pasto, solto, a qual lhe proporcionou o nobre coração de Cairbar Schutel.

Do livro Passagens de uma grande vida, de Sérgio Lourenço, Correio Fraterno.

Artigo original publicado no Jornal Correio Fraterno