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Léon Denis, a expressão da Verdade e a palavra

Por Izabel Vitusso

A fama do orador e escritor Léon Denis (1846 - 1927) já era grande nos anos 1880. Ele começava a publicar os seus primeiros livros. Ainda nem havia escrito um dos seus grandes clássicos: O problema do ser, do destino e da dor, mas seus discursos já impressionavam, desde as primeiras assembleias mundiais de espiritualismo, como a de 1889, em Paris. Lá estavam adeptos de Swedenborg, espíritas, teosofistas, cabalistas e, diante da plateia com inúmeras celebridades, Léon Denis chamava a atenção e arrancava aplausos, com a sua fala ardorosa e sua intensa convicção.

A resistência

Porém, nestes grandes encontros de ecletismo de pensadores surgiam inúmeras indisposições, por falta de maior entendimento da doutrina e grande preconceito. Enfrentavam-se críticas da corrente positivista, materialista, dos ateístas e da grande massa dos católicos.

Mas Denis não se agastava. Pedia a palavra, aclarava conceitos, mesmo sabendo que ali não poderia desenvolver todo o seu pensamento, reconhecendo a falta de preparo para o livre pensar. E deixava o recado:

“Que importa o que o futuro pense de nós. Que pereçam nossos nomes, nossas personalidades, nossas memórias, até mesmo nossa honra, contanto que a Verdade triunfe e se eleve acima das armadilhas, iluminando com suas luzes até os que a negam e insultam.”

Os ataques

Nesse panorama, os ataques dos encarnados e desencarnados eram frequentes. Um fato de grande repercussão aconteceu, envolvendo um francês chamado Miller, que vivia em São Francisco, nos Estados Unidos, e frequentava Paris, sempre a negócios. 

 Médium de efeitos físicos de excepcional capacidade, Miller começou a realizar sessões de materializações atraindo inúmeros espiritistas, ganhando com isso fama e deixando suas sessões cada vez mais concorridas entre os franceses. 

No início, ao assistirem às suas manifestações, Léon Denis e outros pesquisadores de renome atestaram a seriedade dos fenômenos, mas sofreram um grande baque logo depois, quando rumores deram notícias de que ele estava se deixando levar pela mistificação.

Descuidado da seriedade de seu compromisso com a espiritualidade, sr. Miller passou a usar a mediunidade como um palco de espetáculos, introduzindo práticas ilusionistas nas sessões, inclusive pagas, tornando-se um joguete nas mãos dos que desejavam comprometer o espiritismo e a reputação dos pesquisadores que haviam validado inicialmente o trabalho do médium. 

Senhor Miller representava uma farsa, justamente num momento em que as pessoas começavam a refletir sobre a realidade do espírito e a possibilidade de eles se comunicarem. 

Para quê?

Mas qual seria o objetivo desse médium?

Denis faz essa pergunta e, em resposta, Miller nada diz, negando a mistificação. O escritor, então, volta a escrever, desta vez um artigo, obedecendo às orientações de seus guias, que sinalizam: “O silêncio é uma falta. Não é permitida qualquer vacilação. É preciso publicar a verdade.”

Denis então diz: “Se quarenta anos de trabalho, de devotamento, de sacrifícios pela causa do espiritismo deram à minha palavra um pouco de autoridade e de crédito perto de meus irmãos, dir-lhes-ei: Tomem cuidado! Há um grande perigo para nossa crença e para todos nós.” 

A favor ou contra

O escritor recebeu severas críticas, dos que torciam pelo médium e os que repudiavam o seu intento de misturar a realidade do espírito com a fraude que armava com o ilusionismo.

O escritor acompanhava a polêmica que tomava conta das revistas espiritistas de Paris. Mas sofria calado. Preferia sacrificar tudo a mudar qualquer ponto sobre o que considerava fundamental para o futuro da causa: 

“Por mais de trinta anos eu e alguns companheiros consagramos nossos esforços, nosso tempo, nosso sossego, para divulgar e defender o espiritismo. E agora iríamos comprometer toda a nossa obra com imperdoáveis desculpas?”— registra no artigo.

Exemplo de prudência e vigilância, teve sempre suficiente coragem para se posicionar como representante à altura da tarefa, como um dos pilares continuadores da obra, depois da desencarnação de Kardec.

O toque pela palavra

Sua amorosidade e coerência também se revelavam nos instantes de recolhimento, em seu lar, diante de tantas correspondências que ele recebia: cartas admiráveis, algumas tocantes pela expressão sincera de estados d’alma. Outras com relatos fastidiosos e algumas de uma ingenuidade incrível. Para ele, não havia problema. Respondia a todas, absolutamente convicto:

“Não se recusa um pedaço de pão ao mendigo que nos vem bater à porta. Como recusar uma palavra, que pode, de alguma forma, tornar-se benfazeja, desde que toque uma alma atingida por uma verdadeira dor? Certamente responderei. Convém sempre responder!”

Bibliografia: Léon Denis, o apóstolo do espiritismo, sua vida e sua obra, Gaston Luce, Celd, 1989.