A contribuição de Bezerra de Menezes à política no Brasil
Por Izabel Vitusso
Quem acompanha o movimento espírita brasileiro sabe que o nome Adolfo Bezerra de Menezes está sempre associado à ação no bem, a uma alma intensamente dedicada aos que mais necessitam. Da espiritualidade, ele continua hoje à frente de equipes espirituais, inspirando milhares de trabalhos realizados em casas espíritas pelo Brasil afora e também no exterior.
Muitos livros já foram publicados dando conta de sua dedicação, desde quando, encarnado, vivera como médico na cidade do Rio de Janeiro, quando tanto se condoía com a penúria nas filas dos que aguardavam por sua consulta gratuita em seu consultório. E ele já teria feito muito, preocupando-se com cada uma das inúmeras histórias particulares.
"O médico verdadeiro é isto", dizia ele. "Não tem o direito de aceitar a refeição, de escolher a hora, de inquirir se é longe ou perto. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado (...), ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro — esse não é médico, é negociante da medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura". 1
Bezerra foi além. Por insistência dos moradores da Freguesia de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, que enxergavam nele um exímio representante do povo no poder, entendeu que como homem público poderia dar sua importante contribuição para o país e iniciou, assim, o processo de sua candidatura política, elegendo-se vereador pelo Partido Liberal, em 1861. Na câmara municipal, logo definiu sua linha de atuação na defesa de teses sociais. Continuou sendo reeleito para sucessivos mandatos, até se tornar presidente da câmara e, anos depois, deputado geral da província do Rio de Janeiro.
De caráter íntegro, Bezerra nunca obtivera favores governamentais para suas candidaturas. Pelo contrário: de críticos rigorosos e oposicionistas da época, ele teria arrancado apenas elogios: "Coração puro, alma benfazeja, vivia a cirandar para atender aos seus numerosos eleitores e amigos do município neutro", registra o político e escritor Afonso Celso.
Em obra publicada pela câmara dos deputados em 1986, o advogado, jornalista e deputado Freitas Nobre registra que Bezerra "tratou logo de deixar bem claro o tipo de político que era e o que dele se podia esperar. Considerava a carreira política como uma travessia, na qual o que mais importava era levar o seu barco a um porto seguro, nem que para isso tivesse de enfrentar perigos, correr riscos. Não lhe interessava galgar posições mais altas, se para isso tivesse que sacrificar a honradez".
Segundo Freitas Nobre, Bezerra teria dito, na sessão da câmara em 14 de agosto de 1867: "A política, eu a compreendo, não é uma especulação dos homens; é uma religião da pátria, tão sagrada e obrigatória, como o culto das verdades eternas que constitui a religião de Deus".
Sobre o direito à liberdade o "Médico dos pobres" também se manifestaria, quase vinte anos antes da Proclamação da República do Brasil:
"Quero o governo monárquico constitucional representativo, mas quero-o como a constituição o quer; como ele deve ser. Quero um trono, mas um trono no centro da nação e não a nação a seus pés. Quero um rei, mas quero-o no seio de seu povo, e não um povo aos pés do rei. É assim, e somente assim, que posso compreender a monarquia no Brasil".
Assim como soube honrar todo o ciclo de sua vida política, ao finalizar o período de homem público, Bezerra de Menezes iniciou um verdadeiro messianato, comprometido agora mais do que nunca com os valores espirituais, o despertar e o engrandecimento da alma humana. O contato com a doutrina espírita, cerca de dez anos antes, consolidaria-lhe de vez o seu ideal de amor ao próximo, como um incansável trabalhador e exemplo vivo de integridade, coerência e humanismo.
1- Memórias de Bezerra de Menezes, Eduardo Carvalho Monteiro, Madras.
2- Perfis parlamentares, 33 – Bezerra de Menezes.
(Publicado no jornal Correio Fraterno - Edição 469 maio-junho 2016)