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Leopoldo Machado e a Caravana da Fraternidade

Por Rita Cirne*

No início da década de 1950, sem as facilidades de comunicação que temos hoje, como divulgar a doutrina espírita e promover o debate em torno das decisões de unificação do movimento espírita no Brasil? Essa tarefa coube a um grupo de espíritas idealistas liderados pelo jornalista, escritor e poeta baiano Leopoldo Machado, que criou a Caravana da Fraternidade. Esse grupo – integrado por Leopoldo, Artur Lins de Vasconcelos, Ary Casadio, Carlos Jordão da Silva e Francisco Spinelli – viajou por vários estados do Norte e Nordeste durante o final de 1950, promovendo conferências, reuniões de mesas-redondas, visitas a instituições e a programas sociais com um só objetivo: aproximar os espíritas e promover a unificação. 

Para poder estar mais próximos, eles se hospedavam nas casas dos próprios amigos de ideal. Queriam conhecer de perto a realidade vivida nos centros espíritas dessas regiões, num trabalho que exigiu dedicação e disposição para o diálogo, promovendo assim um grande clima fraternal. A Caravana também buscava colher adesões dos onze estados brasileiros visitados ao chamado Pacto Áureo, acordo celebrado entre a Federação Espírita Brasileira e as federações e uniões estaduais, que buscava a unificação do movimento espírita nacional, por existir na época divergências no entendimento do aspecto religioso da doutrina.

A presença da espiritualidade

O trabalho desenvolvido nessa viagem está escrito em forma de diário no livro A Caravana da Fraternidade, de autoria do próprio Leopoldo Machado. Nele estão registrados o carinho com que o grupo foi recebido pelos espíritas de cada estado do Norte e Nordeste visitados, as visitas feitas aos centros e às instituições locais, como escolas, asilos e albergues, os almoços e confraternizações, além da transcrição de algumas mensagens psicografadas de espíritos amigos. Em uma dessas mensagens, a esposa de Leopoldo, Marília Barbosa, desencarnada em 1949, envia incentivos à tarefa, afirmando que um grande número de espíritos amigos os acompanhavam.

Leopoldo Machado também registra os ataques que o grupo recebeu, numa resistência típica de quando o bem se organiza para se fortalecer. Bem-humorado, ele afirma que “o clero de Aracaju assanhou-se contra a conferência irradiada, indignou-se contra o espiritismo e o conferencista”. 

Depois de passarem por Salvador, Aracaju, Maceió, Recife, Natal, Fortaleza, Parnaíba, Teresina, São Luís, Belém e Manaus, a Caravana cumpriu a última etapa da jornada em Belo Horizonte e Pedro Leopoldo, MG. Segundo Leopoldo, finalizou-se onde devia ser, uma vez que de um congresso mineiro surgiu o primeiro movimento de unificação. E por intermédio de Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, veio a mensagem de Emmanuel que pedia aos espíritas que cultuassem, acima de tudo, a solidariedade legítima. “Nossa união, portanto, há de começar na luz da boa vontade”, enfatizou.

O estímulo à juventude espírita

Esse trabalho de Leopoldo, à frente da Caravana, coroou uma série de iniciativas que ele teve e que marcaram profundamente o movimento espírita brasileiro, principalmente em relação aos jovens, incentivando a formação de novas mocidades espíritas, e de trabalhos nos centros com a evangelização infantojuvenis, tendo promovido, em julho de 1948, o primeiro Congresso de Mocidades e Juventudes Espíritas do Brasil no Rio de Janeiro. Leopoldo foi também autor de vários livros nos gêneros de poesia, teatro, conto, biografias e estudos doutrinários, dentre eles: Cientismo e espiritismo, O espiritismo é obra de educação, Para frente e para o alto e Uma grande vida, uma biografia de Cairbar Schutel. É também de autoria de Leopoldo Machado, em parceria com Oly de Castro, a Canção da alegria Cristã, bastante entoada pelos espíritas, nos encontros da época.

Leopoldo Machado desencarnou em 22 de agosto de 1957. E ao liderar o grupo que fez essa viagem histórica de divulgação da doutrina espírita em busca de uma unificação, seguiu o exemplo da iniciativa do próprio Allan Kardec, que fez várias viagens na França para conhecer de perto os centros espíritas. Kardec escreveu em seu livro Viagem espírita em 1862, que queria “ver com seus próprios olhos, para julgar o estado real da doutrina e pela qual ela é compreendida; estudar as causas locais favoráveis ou desfavoráveis ao seu progresso, sondar as opiniões, apreciar os efeitos da oposição e da crítica e conhecer o julgamento que se faz de certas obras”. 

Bibliografia

A Caravana da Fraternidade, Leopoldo Machado, FEB.

U.S.E. 50 anos de unificação, Eduardo Carvalho Monteiro e Natalino D’Olivo. USE.

Site da Federação Espírita Brasileira.


*Jornalista, colaboradora do Grupo Espírita Batuíra, em São Paulo, e do jornal Valor Econômico.