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Hernani Guimarães: reconhecido pela ciência, esquecido no Movimento

Por Marcelo Stanczyk e Emília Coutinho   

Considerado o maior pesquisador científico do Espiritismo contemporâneo, ele investigou áreas da parapsicologia, desenvolveu a teoria do Modelo Organizador Biológico, mas muitos espíritas não sabem quem é ele. 

Grande parte das biografias sobre Hernani Guimarães Andrade citam que ele foi um grande pesquisador científico espírita contemporâneo. Mesmo pouco participando do movimento espírita, ainda que cercado de um pequeno contingente de colaboradores, tornou-se uma das mais importantes referências do Espiritismo no mundo. O próprio psicólogo e pesquisador islandês Erlendur Haraldsson, que realiza pesquisa sobre a reencarnação, que esteve no Brasil há dias, faz referência aos seus estudos.

Entretanto, o início de suas pesquisas não foram dias fáceis. Nascido em Araguari, MG, em 31 de maio e 1913, viveu em Bauru, SP. Formou em Engenharia civil, pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo- USP, mas foi também pesquisador, parapsicólogo e escritor.

Seu primeiro livro, Teoria Corpuscular do Espírito, recebeu crítica severa do professor José Herculano Pires, que no livro A Pedra e o Joio, colocou-se contrário à tese da Teoria Corpuscular de Hernani, dizendo que a tentativa de materializar, de corporificar o Espírito estava completamente em desacordo com os princípios esposados por Allan Kardec na Codificação. E dessa discussão, restou seu isolamento, por conta de preconceitos e incompreensões, principalmente no movimento espírita, que marcaria toda a sua vida.


Conta-se, entretanto, que Hernani Guimarães era uma daquelas pessoas de personalidade marcante e que, embora tenha se isolado, não fora capaz de abandonar o seu tino de pesquisador. E tanto isso é verdade que realizou um profundo trabalho nas áreas da Parapsicologia, da Psicobiofísica, da Transcomunicação Instrumental, o que o levou a escrever cerca de 16 obras, sendo as principais: Parapsicologia experimental, Psi quântico, Morte, Renascimento, Evolução, Espírito, Perispírito e alma, Reencarnação no Brasil, Transcomunicação instrumental e A morte - uma luz no fim do túnel, A mente move a matéria, além da já citada Teoria Corpuscular do Espírito.


Outro resultado de seu trabalho foi a fundação do Instituto Brasileiro de Psicobiofísica (IBPP), mais conhecido fora do que dentro do Brasil. Neste laboratório de estudos de fatos espíritas, procurou demonstrar cientificamente a existência dos fenômenos paranormais, como a reencarnação, a obsessão, a transcomunicação instrumental, além de ter realizado pesquisas laboratoriais para detectar o que denominou como Campo Biomagnético (CBM).


Por sua preocupação em demonstrar a seriedade de seus estudos, com acentuada argumentação e comprovação científica, acabou se tornando um dos mais brilhantes pesquisadores espíritas brasileiros, o que o fez também ser respeitado internacionalmente.


Ainda aqui, no Brasil, no meio científico, sua importância foi singular, tanto que ajudou a formar a primeira turma de Pós-Graduação do Grupo de Pesquisas Psicobiofísicas da USP, em lato senso, no campo da integração Cérebro-Mente-Corpo-Espírito.


Através de seus estudos, desenvolveu a teoria do Modelo Organizador Biológico – MOB – considerada, hoje, por muitos espíritas, uma das teses mais articuladas e fundamentadas que surgiu no movimento espírita, um desdobramento do conceito de perispírito (envoltório do Espírito) elaborada por Allan Kardec no século XIX. Aliás, tema que a Codificação, embora tenha tratado exaustivamente ainda é ponto de diversas dificuldades de entendimento pelos neófitos da Doutrina.


Escreveu 33 artigos na Folha Espírita, sob o pseudônimo de Karl W. Goldstein, durante o período de agosto de 1994 a abril de 1997, tratando da Transcomunicação Instrumental.
Atualmente, Hernani goza de prestígio e suas obras são consagradas tanto no meio espírita como no ambiente dos parapsicólogos do mundo inteiro. Mas seu regresso à pátria espiritual já aconteceu. Deu-se em 25 de abril de 2003, em Bauru.


De sua vida, o maior exemplo, embora sua envergadura científica, talvez seja seu traço moral, sempre marcante e presente, mesmo diante das críticas, respondendo-a em forma de trabalho.


Um exemplo que nos lembra da importância de se conhecer a vida de personalidades que souberam se superar. Não a título de idolatrias. Mas de recordação de que somos todos humanos, sujeitos a dissabores e dificuldades, conquistas e alegrias. Aqui se busca, acima de tudo, demonstrar como pessoas como nós, comuns, são capazes de transformar-se em mecanismos de doação, amor e vivência em prol de um mundo melhor. São aqueles que, em vez de reclamar diante das dificuldades, transformam essa dificuldade em trampolim para uma nova vida.

(Publicado no jornal Correio Fraterno, edição 416  julho/agosto 2007)