Elias Barbosa: foco na cura do corpo e da alma
Por Rita Cirne*
Médico psiquiatra, poeta, escritor e espírita, Elias Barbosa acreditava desde a infância que um dia seria médico e que também teria a oportunidade de conhecer Chico Xavier. Seus sonhos se realizaram e ele pôde não só dedicar-se à medicina e à doutrina espírita, como também organizar e escrever livros com mensagens psicografadas por Chico e partilhar da sua amizade. Durante muitos anos, Chico Xavier ia todas as terças-feiras à casa de Barbosa conversar sobre vários temas, principalmente sobre literatura. O testemunho do que ele viveu com o grande médium de Pedro Leopoldo pode ser conferido nas palestras e entrevistas que Elias Barbosa concedeu e que estão disponíveis na internet. Nessa convivência, teve oportunidade de ver fenômenos espíritas diversos e também perceber quando Chico estava doente para encaminhá-lo aos especialistas.
Nascido em Monte Carmelo, MG, em 12 de julho de 1934, foi criado em família espírita. Segundo seu próprio depoimento, em 1955 foi chamado para substituir um orador espírita em Belo Horizonte, onde acabou dando uma entrevista a uma rádio. Ao ouvirem sobre seu desejo de conhecer Chico Xavier, o pesquisador espírita Hernani Guimarães Andrade e o compositor Hervê Cordovil decidiram levá-lo até Pedro Leopoldo.
Lá conheceu Chico e dele obteve a informação sobre a categoria espiritual de sua mãe, e a gratidão que ele sempre deveria ter por isso. Não recebeu mais nenhuma orientação. “Vejam a sabedoria do Chico. Se ele falasse alguma coisa sobre mim, eu ia achar que era o tal e complicaria tudo”, observou Barbosa.
Divulgador das mensagens de desencarnados
De 1956 a 1958, Chico ia no período das férias escolares a Monte Carmelo, terra natal de Elias Barbosa, que também lá permanecia no mesmo período, e passou a fazer atendimento às pessoas que o procuravam na casa da mãe de Barbosa. Mais tarde, as mensagens recebidas por Chico e datilografadas por Barbosa foram organizadas por Marival Veloso de Matos1 e publicadas no livro Chico em Monte Carmelo.
Em Uberaba, o contato com Chico continuou nas sessões de desobsessão na Comunhão Espírita Cristã. Lá também organizou as mensagens recebidas pelo médium e que acabaram sendo publicadas em 1962 no livro Antologia dos imortais, psicografado pelos médiuns Chico Xavier e Waldo Vieira. Em 1964, saiu Trovadores do além, coletânea de poesias psicografadas por Chico. Em 1967, foi a vez do livro de entrevistas feitas com o médium mineiro intitulado No mundo de Chico Xavier, em homenagem aos 40 anos de sua atividade mediúnica.
Em 1970, organizou o livro Presença de Chico Xavier, uma das primeiras publicações a divulgar as mensagens mediúnicas de familiares desencarnados recebidas por Chico Xavier. E logo após o Entre duas vidas, cujas mensagens publicadas impressionavam sempre os familiares, que reconheciam nas entrelinhas ser realmente de seus entes que ‘partiram’.
Barbosa clinicou e deu palestras até o final da vida, mesmo estando com a saúde debilitada por problemas no coração. Desencarnou em 31 de março de 2011, vítima de traumatismo craniano, após uma queda na escada.
Medicina à luz da doutrina espírita
Durante mais de trinta, anos Elias Barbosa trabalhou no Sanatório Espírita de Uberaba, especializando-se em psiquiatria. Ali conviveu com os médicos Ignácio Ferreira e Adroaldo Modesto Gil e com a médium Maria Modesto Cravo. Também foi professor de farmacologia e terapêutica experimental na Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro. Além de seus conhecimentos médicos, Barbosa incluía nos tratamentos passes e o estudo do Evangelho. Em suas palestras, destacava a importância das orientações que recebera de Chico Xavier para a condução de casos difíceis de pacientes com esquizofrenia.
Barbosa conta que quando começou a trabalhar no sanatório, em 1969, precisava utilizar eletrochoques e sem anestésico, o que o deixava muito mal. Certa vez, Chico Xavier lhe disse para que não desistisse do trabalho, e que no dia que merecesse, os espíritos o afastariam. Isso levou 37 anos.
O testemunho de Nena Galves
Ao entrevistar Elias Barbosa em Uberaba, em 2010, Nena Galves, que também foi amiga de Chico Xavier, disse a ele:
“Lembro de suas frases e suas trovas na Comunhão Espírita que calaram profundamente em mim. O senhor jogava a semente e ela brotava no terreno que estivesse preparado. Eram ensinamentos modernos, que incluíam temas como sexo e amor livre e que encontraram o lugar certo com Chico e a orientação de Emmanuel, um evangelizador moderno”.
“Não posso enganar ninguém – respondeu Barbosa a ela. – Eu tenho que ser franco. Se o paciente é obsidiado, eu falo para os pais que eles não precisam mudar de religião, mas que o filho precisa frequentar centro espírita. Tenho que ser verdadeiro”.
Ex-presidente da União Espírita Mineira.
*Jornalista, colaboradora do Grupo Espírita Batuíra, em São Paulo, e do jornal Valor Econômico.