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As bases científicas do espiritismo por Delanne

Por Jáder Sampaio*

Gabriel Delanne trabalhou intensamente para mostrar a proximidade das verdades espirituais com a ciência na época. Foi presidente da União Espírita Francesa, da Sociedade dos Estudos dos Fenômenos Psíquicos e fundador da Revista Científica e Moral do Espiritismo.

A década de 1870 pode ser considerada como o grande período de transição do espiritismo na França. Allan Kardec, o mestre, havia desencarnado ainda relativamente jovem. Com sua liderança, um número substantivo de livros havia sido escrito, uma revista circulava regularmente, distribuída na França e no exterior e diversos grupos haviam sido fundados em diversos lugares, a partir das orientações oriundas do trabalho da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. A sede estava em mudança, um livro sobre magnetismo e espiritismo estava sendo escrito e a Sociedade estava fundando sua própria livraria.

Uma vez desencarnado, diversos problemas começaram a surgir, como a realização de seu inventário, a dificuldade na escolha de lideranças sucessórias, a guerra franco-prussiana (1870-1871), a comuna de Paris e a “semana sangrenta”, na qual 20 mil pessoas foram mortas. A Revista Espírita, que tinha 1.100 assinantes passou a ser um luxo para muitos espíritas, afetados pelas convulsões da sociedade francesa. Nesta mesma década, o presidente da Sociedade Continuadora das Obras de Allan Kardec seria preso em 1875 e depois solto após a anulação da sentença, no episódio que ficou conhecido como o “processo dos espíritas”. Não bastassem esses incidentes, Leymarie e os dirigentes da Revue Spirite pareceram entender como avanços dois grandes movimentos espiritualistas que tinham pontos de conflito com o pensamento kardequiano: o roustanismo e a teosofia.

Livros publicados por Gabriel Delanne

O espiritismo perante a ciência (1885)
O fenômeno espírita (1896)
A evolução anímica (1897)
Pesquisas sobre a mediunidade (1898)
A alma é imortal (1899)
As aparições materializadas dos vivos e dos mortos (1909-1911)
A reencarnação (1927)
A ideoplastia e o poder do pensamento (Delanne fez o plano da obra, mas desencarnou)

Duas grandes lideranças, discípulos “à distância” de Allan Kardec, vão surgir e se consolidar nos anos 1880: Léon Denis e Gabriel Delanne. Delanne, talvez fosse o mais próximo do mestre. Filho de Alexandre Delanne e Marie Alexandrine Didelot, que optaram pelo espiritismo após lerem O livro dos espíritos, eles se tornaram próximos de Allan Kardec, ao ponto de Alexandre ter tentado reanimá-lo com fricções e magnetizações no dia da sua desencarnação. 

Delanne nasceu em 1857 e estudou até 1877, quando cursava a Escola Central de Artes e Manufaturas, em decorrência da situação financeira dos pais. Conseguiu trabalho na Companhia de Ar Comprimido e Eletricidade Popp, como engenheiro, onde exerceu sua profissão por cinco anos. Depois trabalhou ainda como representante comercial até 1896. 

Em 1880, aos 23 anos, foi convidado a fazer o discurso no túmulo de Allan Kardec, no cemitério Père Lachaise, em Paris. Ele assim afirma, como o jovem Flammarion, doze anos antes:

“Até aqui, só temos analisado o lado moral de sua doutrina, porém, seu estudo mais aprofundado nos mostra que, seguindo seus ensinamentos, pode-se chegar às mais belas descobertas científicas.”²

Aos poucos, Delanne vai delineando sua participação no movimento espírita, a partir da razão e da ciência. 

Além de escritor, ele incentivou professores e pesquisadores, como Charles Richet (prêmio Nobel), a realizar estudos de observação e experimentais com médiuns e chegou a apresentar trabalho no 4º Congresso Internacional de Psicologia, em 1900, na capital da França, mas os trabalhos de espíritas e espiritualistas não foram bem recebidos, sendo vistos como não científicos. Outro problema que Delanne enfrentou foi a grande produção de trabalhos sobre mediunidade e outros fenômenos espirituais a partir de estudos de pacientes internados, o que gerou uma associação entre psicopatologia e mediunidade. 

Em seus livros, Gabriel Delanne debateu com os pesquisadores da época sempre em busca de clarear as evidências sobre a mediunidade e a insuficiência das explicações de cunho patológico ou puramente psicológico para os fenômenos espirituais. Ele também fez hipóteses com base no pensamento kardequiano e nas descobertas científicas de sua época, explicando o que havia observado e experimentado.

Os pais de Delanne desencarnaram na década de 1890, e ele adotou a pequena Suzanne Rabotin, que foi sua filha do coração e o acompanhou até a desencarnação. Delanne desencarnou em 1926, e foi homenageado por Léon Chevreuil em um artigo da Revista Científica e Moral do Espiritismo:

“... Gabriel Delanne caminhou sempre em frente, apoiado por uma profunda convicção e um amor sincero pela verdade. Apesar dos obstáculos, das desilusões e dos infortúnios com que a vida o afligia, a sua atividade nunca se abrandou, a sua constância e a sua coragem igualaram a todos os seus infortúnios.”

 ¹Calsone, Adriano. Madame Kardec. Atibaia-SP: Vivaluz, 2016. p. 107.

²Bodier, Paul; Regnault, Henri. Gabriel Delanne: sua vida, seu apostolado, sua obra. (2 ed.) Rio de Janeiro, CELD, 1990. p. 18-19. [Tradução de José Jorge]

³ Lachapelle, Sophie. Pathologies of the supernatural. In: Investigating the supernatural: from spiritism & occultism to psychical research & metapsychics in France, 1853-1931. Baltimore, Johns Hopkins, 2011.

⁴Andry-Bourgeois. L’Oeuvre de Gabriel Delanne, Revue scientifique et morale du spiritisme. 1926, p. 68-74

*Escritor e editor do blog Espiritismo Comentado.