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A lucidez sonambúlica da senhora G.

Por Izabel Vitusso

Albi cidade onde vivia Doutor Demeure

A senhora G. era médium sonambúlica e vidente muito lúcida, no tempo de Allan Kardec. Por sua extrema sensibilidade, o grupo de amigos espíritas que se reuniam na cidade do sul da França,  Montauban, nada falou a ela sobre a morte do querido dr. Demeure, médico muito devotado, que abraçou a doutrina dos espíritos e era muito conhecido por suas ações beneméritas.

Naquele dia, porém, reuniram-se a convite dos amigos espirituais que orientaram sobre o socorro que dariam à senhora G., que sofria com as fortes dores no pé, por conta de um grave entorse. Sobre isso, o grupo nada mais sabia.

Foi assim que deram início à reunião. Ao entrar em transe, a senhora G. começou a soltar gritos lancinantes, mostrando o pé e descrevendo que um Espírito que mantinha a fisionomia oculta lhe fazia fricções e massagens, exercendo  tração longitudinal sobre a parte lesada, exatamente como faria qualquer médico. Mas a crise durou pouco e minutos depois desapareciam a inflamação e os traços da luxação.

Demeure Antoine

Porém, o espírito que a socorria, e havia desencarnado há tão poucos dias, continuava sem se identificar. Ele foi em vida o médico da médium e, conhecendo a sua extrema sensibilidade, procurava poupar-lhe como se fora à própria filha. 

Quando dr. Demeure se preparava para se retirar, a senhora, que momentos antes colocaria o pé no chão, deu um salto e se pôs ao centro da sala para apertar-lhe a mão. 

Foi quando ela deu um grito e caiu desfalecida ao chão, ao reconhecer o dr. Demeure no espírito que a operara. Durante a síncope ressurgiu sua lucidez sonambúlica e a médium passou a conversar com os espíritos, a trocar felicitações, principalmente com o dr. Demeure, que lhe correspondeu aos testemunhos de afeição. 

Esse fato aconteceu cerca de quatro anos antes de Allan Kardec desencarnar. Ele encontrava-se profundamente envolvido em sua missão de estabelecer junto aos espíritos as bases da doutrina. Como sempre  o fazia, aproveitou para narrar este fato na edição da Revista Espírita, onde destacou a condição espiritual do amigo médico, com quem se correspondia há algum tempo e por quem nutria profunda simpatia.

Atento a tudo o que podia apreender e registrar como novos conhecimentos, Kardec pontua: “A situação espiritual do dr. Demeure é justamente a que se poderia antever na sua vida tão digna quão utilmente empregada. Mas, dessas comunicações, resulta outro fato não menos instrutivo – o da atividade que ele emprega quase imediatamente após a morte, no sentido de tornar-se prestimoso. Por sua alta inteligência e qualidades morais, ele pertence à categoria dos espíritos adiantados. A sua felicidade não é, porém, a da inação.  Ainda há poucos dias tratava doentes como médico e mal apenas se desprende da matéria, ei-lo a tratá-los como espírito”.

Allan Kardec, Revista Espírita março de 1865.

Sonambulismo

O sonâmbulo age sob a influência do seu próprio espírito; é sua alma que, nos momentos de emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites dos sentidos. Em geral, suas ideias são mais justas do que no estado normal, seus conhecimentos mais dilatados, porque tem livre a alma.

Muitos sonâmbulos veem perfeitamente os espíritos e os descrevem com tanta precisão, como os médiuns videntes. Podem confabular com eles e transmitir-nos seus pensamentos. (O livro dos médiuns, cap. 14, item 172)