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Uma rosa com amor

Nos conhecemos pela internet no site “Almas gêmeas” no ano de 1999, em precisamente 21 de novembro. Logo ele quis me conhecer pessoalmente. Não posso dizer que foi amor a primeira vista, pois estava muito nervosa e amedrontada.

 Fiquei viúva em 1987 e além de dois adolescentes em idade universitária, tinha uma pequenina de quase 5 anos e por isto tive que me desdobrar para acompanhar o crescimento deles. Trabalhava em duas escolas perfazendo em média mais de 12 horas de trabalho.

Já o Vitor, o nome dele é Vitautas, mas eu logo tratei de abreviar, tinha duas meninas, uma morava em Londres e a caçula morava com ele. Por conta do cigarro, a esposa dele esteve doente por mais de 10 anos e com internações intermitentes.

 Havia falecido em maio daquele ano.

Trabalho, trabalho e mais trabalho, vi meus pequenos crescerem, se formarem e os dois mais velhos se casarem. Já a pequena, agora uma mocinha, vivia com as colegas em shoppings, bailinhos etc... eu me sentia meio que abandonada e solitária, motivo pelo qual comecei a frequentar salas de bate-papos na internet e conheci muitas pessoas legais, até que um dia, visitando o site, vi o anúncio de um senhor de 61 anos, eu estava com 56 anos, que procurava alguém e por acaso nós dois morávamos em Guarulhos. Daí marcamos um encontro no shopping. Era dezembro de 1999.

Passado o primeiro impacto, em março, resolvemos ficar juntos e começamos a montar nossa casinha. Foi nesta época que a filha dele que morava em Londres, convidou-o para irem para Orlando nos Estados Unidos e como eu dava muitas aulas e era época escolar, não foi sequer cogitado eu ir junto. Então pedia a ele que trouxesse uma lembrança para nossa casinha.

Eu fiquei muito triste com nossa primeira separação.

Ele lá em Orlando, como não tinha conhecimento do inglês, dependia em tudo da filha e pediu para que ela o levasse a uma loja onde vendesse roupa de cama que ele queria me presentear com um lindo jogo. Porém ela disse que lá as coisas eram muito caras e que era melhor ele comprar alguma coisa mais simples. E ele comprou...

Quando eles voltaram, estava ansiosa para saber o que ele havia trazido para nossa casa e fiquei muito, mais muito decepcionada, pois ele havia comprado um botão de rosa de plástico vermelha, destes que vendem aqui em loja de R$ 1,99.

Coloquei-a num vasinho solitário pelos próximos 19 anos, e nunca gostei dela. Deixei o vasinho com ela num canto da estante e às vezes tirava o pó dele e por isto o botão foi digamos se abrindo.

Uma vez, em maio, passamos por uma banca e lá tinha uma moça vendendo vasinhos com flores de plástico, para o dia das mães. Ele só olhou e eu disse que, se comprasse um daqueles para mim, eu o quebraria na sua cabeça. Ele riu muito, mas não comprou.

Fomos imensamente felizes. Logo eu me aposentei e viajamos por este Brasil inteiro, além de muitas cidades da América do Sul e da Europa.

Estivemos juntos 19 anos e quatro meses e como o nome do site éramos duas almas gêmeas. Ele era extremamente bom e paciente e era adorado por meus filhos e meus netinhos o chamavam de “Vô Roso” e eu a “Vó Rosa”. Meus amigos o respeitavam muito e meus parentes também.

Ele me apresentou a Filosofia Espírita e fizemos cursos juntos, Evangelho no Lar as segundas-feiras, assistíamos palestras aos domingos e vivíamos em plena comunhão de amor.

Depois de uma desastrada operação de catarata, ficou cego de um olho e eu passei a dirigir para poupá-lo. Descíamos para nossa casa na praia e sempre que os manacás estavam floridos, ele cantava para mim e por isto a elegemos nossa flor. Temos um vaso com esta planta aqui em casa.

Já estava ele com 80 anos e eu com 75. Todos estes anos festejamos os nossos aniversários com viagens ou com a família. Ele foi ficando meio esquecido, suas pernas fraquejavam, teve algumas internações, mas nunca o abandonei. Estava sempre em sua cabeceira. Mesmo no hospital dormindo naquele semisofá. Os médicos até reclamavam dizendo que um idoso não podia ficar com outro idoso, mas eu nem ligava e estava sempre com ele. Mesmo na UTI, eu ficava com ele quando permitiam. Tirei da internet orações de cura de várias religiões e recitava junto ao seu leito, pedindo a Deus para poupá-lo. Aos poucos, ele foi perdendo a consciência, mas mesmo sem conseguir falar, me procurava com aqueles olhos azuis maravilhosos e me seguiam. Suas últimas palavras antes que a inconsciência o tomasse foi “Te amo”. Em 17 de fevereiro de 2019 ele me deixou.

E eu fiquei nesta solidão. A princípio, minhas filhas vinham dormir comigo, mas eu as dispensei, pois elas tinha suas vidas.

Orei muito por ele e às vezes tinha impressão de que ele estava ali comigo. Passados os primeiros 10 meses, comecei a ir em centros espíritas, na tentativa de receber uma mensagem dele, mas por duas vezes vieram e somente dizia que ele estava se tratando e não tinha ainda condições de mandar notícias.

Quando ia fazer um ano agora em 2 fevereiro, me indicaram um Centro em Guarulhos, que  aos domingos faziam psicografias. Fiquei interessada e fui procurar por este  Centro e encontrei o tal lugar.

 

É importante frisar que ninguém deste centro me conhecia, e que era a primeira vez que eu ia até lá. Quando cheguei, eles me deram uma papel onde coloquei meu nome, telefone, o nome dele, data de nascimento, falecimento e parentesco. Depois, fui me sentar no auditório que tinha espaço apenas para umas 50 pessoas e, como não conhecia ninguém, fiquei em oração aguardando o início. Depois de uma harmonização com músicas, veio o palestrante que falou muito bem. Ao término, uma senhora trouxe uns sulfites dobrados e leu a mensagem geral para o público com o tema “Mostre o seu brilho”, explicando que isto poderia ser nos mínimos gestos, tais como dar um bom dia, perguntar pela saúde, ou apenas um sorriso e fazer caridades.

Então, ela chamou o primeiro nome e a pessoa foi pegar a sua mensagem e em seguida para meu completo espanto, me chamou. Fiquei estarrecida e comecei a chorar enquanto beijava o papel. Esta é mensagem que recebi.

Rosa, flor e amor de minha vida!

Como poderemos agora conviver com esta saudade? Acaso pensa que é fácil para mim estar longe de ti fisicamente? Ah, não é! Hoje já estou mais tranquilizado com relação à continuidade da vida e posso estar próximo a você, até conseguirmos, sim, juntos, por causa de nosso amor, a possibilidade de escrever esta carta. Estou muito feliz!

Não chores mais, porque agora você sabe que eu continuo aqui pertinho de você. Nosso amor permanece vivo em nossos corações e assim será até o dia que a gente puder se encontrar novamente, mas, por enquanto, você precisa viver a vida tranquila. Não pode deixar a tristeza da saudade machucar tanto seu coração. Você sabe que temos um tempo de vida determinado e que quando a idade avança, nosso tempo na Terra fica mais curto e comigo não poderia ter sido diferente, não é? Mas eu não te esqueci e, por vezes, me permitem uma breve visita para dar-lhe um carinho.

Obrigado por todo amor e companheirismo que partilhamos nessa vida. Foi maravilhoso e só podemos agradecer a Deus pela oportunidade de nosso encontro.

Minha amada, continue caminhando feliz e amorosa como sempre foi.

Até a próxima!

Como não posso dar-lhe uma rosa, pedi para a moça fazer um desenho

Receba esta rosa meu amor

Te amo, Vitautas