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Uma forma de os espíritos chamarem a atenção

Por Maria Fernanda Santana

Era uma família comum: o marido (José), a esposa, três filhos. Moravam na capital e iam às vezes para o interior de São Paulo visitar parentes. Em 1969, um acidente durante a viagem. Óleo na pista, curva fechada, o carro se desgovernou e foi para a barroca. A esposa e seu pai faleceram.

Conheci José três meses depois; logo após, suas duas filhas e o caçula. Um sentimento muito forte surgiu entre todos nós. Veio o namoro e, no ano seguinte, o nosso noivado.

Quando conheci a casa onde iríamos morar, uma sensação ruim tomou conta de mim. Na sala havia uma estante com muitos livros; peguei um caderno, abri-o ao acaso e li um poema escrito por sua primeira esposa. Lembro-me dessa passagem: “Penso em ti/ mesmo que meus olhos/ estejam fechados para sempre!”

Casamos em 1970 e fomos para São Paulo com as três crianças. Era o início de uma vida nova. Dois anos depois nasceu Ricardo, e um ano e meio após, nasceu Rodrigo. Com formação católica, ignorávamos a existência de eventos descritos pelo espiritismo e outros segmentos espiritualistas.

No início de 1982, apareceu uma sombra em formato de ave na parede da sala; quando tocávamos nela, ela ‘voava’ velozmente pelas paredes; quando apagávamos as luzes, ela ficava luminosa. Nesse período, comecei também a mudar meu comportamento, a maneira de me vestir, a maneira de escrever, a alimentação. Segundo José, eu estava assumindo características de sua primeira esposa, a quem não conheci.

A vida da família estava prestes a virar de ponta-cabeça. Comecei a achar que havia em casa muita coisa supérflua; contratei um carreto e me desfiz de quadros, porcelanas, roupas. No quintal ia queimando tudo o que me incomodava: fotos do primeiro casamento e, depois, as minhas, inclusive o álbum de casamento. Chegamos a ficar sem cobertores, sem calçados.

Um dia, peguei um crucifixo de metal, queimei-o, coloquei o que restou dentro de um saco de lixo que foi levado embora; no dia seguinte uma voz me dizia para abrir certa gaveta. Abri-a e lá estava o crucifixo, intacto. Eu ficava com muito medo, mas não sabia como me livrar daquilo. Fui ao psicanalista, ao psiquiatra, famoso, caríssimo, nada adiantou.

Em muitas noites, sem ninguém na cozinha, as panelas eram atiradas ao chão; o chuveiro e o aparelho de som ligavam sozinhos e o disco vinil era acionado. No trabalho, o carro de meu marido também ligava sozinho. E sem as chaves.

Eu ia assumindo outras personalidades. Alguns conhecidos recomendavam minha internação. Procuramos um padre exorcista, que atuou em casa, mas também não obteve sucesso. A família estava toda desestruturada; as crianças faltando às aulas; eu e meu marido praticamente não dormíamos.

Até que a cozinheira do local de trabalho de José quis saber qual era o nosso problema. Ele contou, e ela, peremptória, assegurou que a causa era espiritual e que nenhum médico me curaria. Passou então a nos ajudar e nos encaminhou a uma assistência espiritual.

Os problemas rapidamente se resolveram e tudo foi voltando ao normal. Reassumi finalmente minha personalidade e os fenômenos praticamente deixaram de ocorrer em casa. A partir de então, fomos estudando e aprendendo a lidar com a mediunidade de alguns membros da família e passamos também a ajudar pessoas que passavam por experiências semelhantes, que agora sabíamos eram fenômenos de efeitos físicos – uma forma de chamar nossa atenção para o lado espiritual da vida.

(Artigo publicado no Jornal Correio Fraterno 2014 / ed 458)