O presente que Chico doou
Por Arnaldo Rocha*
Na tela das minhas doces memórias, tenho gravada uma grande lição de verdadeiro amor fraterno e de desprendimento das coisas materiais, que a alma simples e caridosa da cidade de Pedro Leopoldo me exemplificou. Verificou-se por ocasião do Natal, quando de minha primeira visita ao amigo Chico Xavier.
Havia levado pequena cesta, com frutas e guloseimas natalinas. Uma cesta de carinho, com a qual pretendia presenteá-lo.
Logo que cheguei, fui recepcionado com calor e estima, sendo apresentado aos donos da casa, Lindolfo e Luíza, e a suas filhas — Maria Alice, a Pingo e Lúcia. De pronto, entreguei-lhe o singelo presente, o qual muito me agradeceu.
Após conversarmos rapidamente, Chico convidou-me a fazer visitas. Em todos os lugares visitados, mostrava a tal cesta, deixando-me um tanto quando acanhado.
Nos dirigimos especialmente a uma casa de extrema pobreza, iluminada por lamparina a querosene. No quarto humilde, uma velhinha lastimosa jazia no leito. Seus olhos tristes, cansados e remelentos iluminaram-se de inenarrável contentamento, ao reconhecer Chico Xavier como seu visitante.
Estávamos ali na tentativa de aliviar o sofrimento daquela senhora. Conversamos, oramos, ministramos-lhe passes. E nestes instantes de doação sincera, parecia que milhares e milhões de lamparinas iluminavam o modesto aposento.
Ao final da visita, Chico falou à pobre mulher, olhando para mim:
— Nosso companheiro quis conhecê-la e trouxe estas coisas gostosas. Permite que eu prove de uma uva ?!?
Fonte: Chico Xavier, mandato de amor, Arnaldo Rocha, UEM.
*Arnaldo Rocha foi marido de Meimei, conhecida no meio espírita por ditar, depois de seu falecimento (em Belo Horizonte, em 1946), inúmeras mensagens e livros ao médium Chico Xavier. Arnaldo procurou o espiritismo ao enviuvar-se dois anos depois de casados.